O PASSE!


Nos meados da década de 30, o eletricista João Matheus, conhecido pelos íntimos por “Nim”, era forte como um touro, jogava um futebol redondinho na meia-esquerda, tinha o apelido de “Moela” e levava, como todos os jovens da época, uma vida tranquila na pacata Paraguassu.
O nosso personagem residia num casarão na poeirenta Avenida Siqueira Campos, no enorme terreno (hoje nº 488) ao lado da Loja MFour e, em determinado dia, ele ouviu uma tremenda gritaria que vinha lá das “bandas” da atual rua Maria Paula Gambier Costa e, pelo jeito, era da casa do seu amigo Leontino, a qual ficava defronte à casa onde hoje está instalado o “Carlão Gás” – aliás, da Siqueira Campos para cima Paraguassu era quase nada.
Preocupado, “Nim” se dirigiu até o local da gritaria e, quando entrou no interior da residência, a mãe do Leontino, Dona Rita, foi logo dizendo:
– O Leontino está quebrando tudo, “Nim”. Está com o demônio no corpo. Vamos todos dar as mãos e rezar pela salvação do “menino”.
Sabedor de que o motivo de toda aquela “brabeza” eram alguns goles a mais de cachaça, “Nim” entrou no quarto do amigo e pediu que seus familiares o deixassem sozinho com o encapetado do Leontino, pois iria lhe “dar um passe” e tudo voltaria ao normal.
Admirados e até surpresos, todos saíram para que o “trabalho de cura” fosse realizado.
A sós com o amigo embriagado, Nim lhe deu um tremendo “coice de mula” na testa, que ele apagou de imediato. Tranquilo, o eletricista, após aguardar alguns momentos, deixou o quarto, noticiando que o jovem Leontino dormia calmamente com os anjos e que o demônio havia sido expulso do seu corpo. A surpresa se misturou com a alegria, pois ninguém imaginava que o “Nim” possuía semelhante “dom”.
Após dormir profundamente e por um longo tempo, Leontino acordou curado da bebedeira e da “porrada” do dia anterior, sem se recordar dos acontecimentos.
A notícia da proeza de “Nim” se espalhou por toda a Paraguassu, obrigando-o a ficar preso dentro de casa, sem poder trabalhar, já que dezenas de pessoas foram ao casarão à sua procura, para receber um passe ou expulsar a coisa ruim.
A história aqui narrada é verídica, sem “passe”.

Escritor Paulista
Enviado por Escritor Paulista em 11/12/2009
Código do texto: T1973342
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