Último Adeus!
Há cerca de treze anos, aproximadamente, em nosso local de trabalho, ouvimos uma história tendo como protagonistas algumas personagens intimamente ligadas à pessoa que a contava. Por respeito, éramos obrigados a conter o riso, já que, apesar de trágico, o causo provocava riso em quem o ouvia. Também por respeito, omitiremos os nomes verdadeiros dos personagens e a eles daremos uma identificação fictícia.
O pai da zeladora do prédio em que trabalhávamos havia falecido e ela teve, por direito, oito dias de nojo. No seu retorno, um grande número de funcionários se reuniu na copa para não só lhe dar um pouco de calor humano e conforto, mas também tomar o delicioso cafezinho por ela feito, ao qual, apesar de o pó ser de qualidade inferior, ela conseguia dar um ótimo sabor.
A todo instante, alguém perguntava sobre seu pai, falecimento, velório, etcetera e tal. Com tristeza, “Maria” ia respondendo a todas as perguntas e, entre uma e outra resposta, comentava algum fato que lhe chamara a atenção, durante o velório e o enterro.
– Como vocês sabem, o meu irmão bebe demais e nem mesmo no velório do nosso pai ele deixou a cachaça de lado: bebeu mais ainda.
Realmente, o irmão dela estava um tanto “alto”, quando estivemos no velório, “bebendo o defunto”; a todo instante, procurava um companheiro para ir ao “boteco” mais próximo, a fim de “dar um tapa” na branquinha, sem saber o que lhe reservava o futuro.
De acordo com o relato de “Maria”, a madrugada, como ocorre em todos os velórios, demora a passar e seu irmão, para facilitar as idas e voltas à procura de cachaça, resolveu trazer a garrafa debaixo do braço, evitando, com isso, longas caminhadas.
Amanheceu e a hora da despedida havia chegado e todos os familiares estavam a seus postos, para prestarem suas últimas homenagens, menos “José”, que, devido às altas dosagens de cachaça, durante a madrugada, estava travado em algum canto, desconhecido pelos presentes.
Após as despedidas, o cortejo seguiu para a última morada e, depois de algum tempo de caminhada, chegaram ao Campo Santo, onde uma cova rasa, de terra úmida, aguardava o esquife, que foi depositado ao lado do buraco, enquanto os coveiros aguardavam um sinal, para colocá-lo no lugar e enterrá-lo.
De repente, a alguns metros dali, um grito rouco chamou a atenção de todos:
– Esperem... Esperem! – era “José”, que vinha caminhando trançando as pernas, num bailado típico, conhecido, e que somente os alcoolizados conseguem realizar com perfeição.
Sério, com lágrimas nos olhos, José se aproximou da cova e, no momento em que ia realizar um gesto de adeus, perdeu o equilíbrio e foi cair sobre o caixão que já se encontrava no lugar definitivo.
O espanto foi enorme: primeiro, pela queda de José; segundo, pela rapidez com que ele saiu de dentro daquela cova, apavorado e em disparada pelas ruas do cemitério, dizendo:
– Virgem Maria, Nossa Senhora, quase que eu fui também.
Há cerca de treze anos, aproximadamente, em nosso local de trabalho, ouvimos uma história tendo como protagonistas algumas personagens intimamente ligadas à pessoa que a contava. Por respeito, éramos obrigados a conter o riso, já que, apesar de trágico, o causo provocava riso em quem o ouvia. Também por respeito, omitiremos os nomes verdadeiros dos personagens e a eles daremos uma identificação fictícia.
O pai da zeladora do prédio em que trabalhávamos havia falecido e ela teve, por direito, oito dias de nojo. No seu retorno, um grande número de funcionários se reuniu na copa para não só lhe dar um pouco de calor humano e conforto, mas também tomar o delicioso cafezinho por ela feito, ao qual, apesar de o pó ser de qualidade inferior, ela conseguia dar um ótimo sabor.
A todo instante, alguém perguntava sobre seu pai, falecimento, velório, etcetera e tal. Com tristeza, “Maria” ia respondendo a todas as perguntas e, entre uma e outra resposta, comentava algum fato que lhe chamara a atenção, durante o velório e o enterro.
– Como vocês sabem, o meu irmão bebe demais e nem mesmo no velório do nosso pai ele deixou a cachaça de lado: bebeu mais ainda.
Realmente, o irmão dela estava um tanto “alto”, quando estivemos no velório, “bebendo o defunto”; a todo instante, procurava um companheiro para ir ao “boteco” mais próximo, a fim de “dar um tapa” na branquinha, sem saber o que lhe reservava o futuro.
De acordo com o relato de “Maria”, a madrugada, como ocorre em todos os velórios, demora a passar e seu irmão, para facilitar as idas e voltas à procura de cachaça, resolveu trazer a garrafa debaixo do braço, evitando, com isso, longas caminhadas.
Amanheceu e a hora da despedida havia chegado e todos os familiares estavam a seus postos, para prestarem suas últimas homenagens, menos “José”, que, devido às altas dosagens de cachaça, durante a madrugada, estava travado em algum canto, desconhecido pelos presentes.
Após as despedidas, o cortejo seguiu para a última morada e, depois de algum tempo de caminhada, chegaram ao Campo Santo, onde uma cova rasa, de terra úmida, aguardava o esquife, que foi depositado ao lado do buraco, enquanto os coveiros aguardavam um sinal, para colocá-lo no lugar e enterrá-lo.
De repente, a alguns metros dali, um grito rouco chamou a atenção de todos:
– Esperem... Esperem! – era “José”, que vinha caminhando trançando as pernas, num bailado típico, conhecido, e que somente os alcoolizados conseguem realizar com perfeição.
Sério, com lágrimas nos olhos, José se aproximou da cova e, no momento em que ia realizar um gesto de adeus, perdeu o equilíbrio e foi cair sobre o caixão que já se encontrava no lugar definitivo.
O espanto foi enorme: primeiro, pela queda de José; segundo, pela rapidez com que ele saiu de dentro daquela cova, apavorado e em disparada pelas ruas do cemitério, dizendo:
– Virgem Maria, Nossa Senhora, quase que eu fui também.