ASSOMBRAÇÃO.... CACHORRINHO BRANCO
ASSOMBRAÇÃO... CACHORRINHO BRANCO
Inúmeras, as lendas que povoavam o imaginário popular.
No tempo de minha infância e juventude. Algumas narradas de forma tão convincente, que ao correr de boca em boca, se tornaram verdadeiras mentiras históricas.
Havia um cachorrinho branco que era o terror da população. Vez por outra estava ele perturbado algum transeunte pelas estradas cortadas pelos carros de boi. O meio de transporte mais usado juntamente com o cavalo de sela, naquelas remotas épocas.
João Timbó um solteirão destemido que passou a residir sizinho após o falecimento dos pais, foi um verdadeiro espanta fantasmas. De uma coragem sólida segundo afirmava, e de saco cheio com o cachorrinho branco, que o atormentava diariamente ao retornar do trabalho. Preparou alguns ingredientes que segundo ele era infalível para destruir fantasmas. Casca de cobra, pó de chifre, ovos de aranha, asa de morcego, pestana de minhoca, mais alguns, que no momento não me recordo. Derreteu tudo isso misturou com um pouco de chumbo, e carregou a espingarda. Sua companheira de muitas primaveras, e que nuca negou fogo.
Naquela época, trabalho, era duro, de sol a sol. Era a lei natural do meio rural se o caboclo chegava ao serviço após o nascer do sol, o patrão o mandava de volta, com a recomendação que dormisse o resto do dia, para não perder a hora no dia seguinte.
De enxada, cabaça, espigada, e bornal no ombro, João voltava do trabalho, lua clara, mas as sombras das arvores cobriam aquela estrada. Logo imaginou, - é hoje! Aquele safado leva chumbo, é só aparecer! Nesta estrada cortada pelas rodas dos carros com seus profundos rastros não tenho como errar! Mal terminou seu pensar, o brilho inusitado da brancura do animal surgiu à sua frente, ele não pensou duas vezes, jogou de lado os demais objetos que conduzia e de arma na mira catou, aqui e ali aquele alvo branco apertou o gatilho e disparou. O animal explodiu uma gargalhada tão grande que ecoou por vários segundos pelo vale afora. O cano da arma avermelhou como um ferro incandescente. Ele o levou numa poça de água ali perto para esfriá-lo. Segundo afirmava, do contato com a água subiu uma nuvem de fumaça e foi uma chiadeira no cano da arma. Em seguida apanhou suas coisas indo pra casa.
E qual não foi sua surpresa no dia seguinte? Ao recarregar a arma, o tiro que havia preparado estava intacto. O estampido da noite anterior era pura obra do diabo inclusive a gargalhada, que até a data que me narrou sua façanha, ainda estava soando em seus miolos.
João foi meu companheiro de caçada em algumas oportunidades, convivi com ele certo tempo, embora bem mais velho do que eu, me confidenciava suas aventuras amorosas. Usava muita técnica em suas conquistas, e era muito precavido. Evitava sempre o café oferecido pelas namoradas temeroso, dizendo da possibilidade de ter sido passado na calcinha da namorada, segundo afirmava era tiro e queda para amarrar o caboclo. Certa vez serviram-lhe um requeijão na casa da namorada. Por precaução ele afirmou certa indisposição estomacal, justificando sua recusa. O sogro muito gentil embrulhou um bom pedaço recomendando-o para o café, na manhã seguinte. De pulga atrás da orelha, no outro dia, ele o deu para seu cãozinho de estimação, e seguiu para o trabalho. Regressando a tarde deu pela falta do cachorrinho, imaginou que estaria por ali mesmo. Alguns dias se passaram e nada, o bicho sumiu defensivamente. Numa visita a casa da namorada logo após, uma grande surpresa, quem o recebeu com muita festa foi seu cachorro. Perguntou-lhe da afinidade de ambos, ele respondeu estar muito surpreso, pois nuca vira antes aquele cachorro, nem pintado.
Dizia ele que terminou o namoro, mas perdeu seu cãozinho.