Receita Milagrosa

Sempre que nos encontramos, “batemos” bons papos e, um dia desses, o amigo Osnir Zancanaro veio com uma de suas histórias conhecidas ou até mesmo vividas por ele, quando ainda estava na ativa, como gerente do Banespa.
Numa dessas cidades por onde passou, Osnir teve conhecimento de um problema de saúde pelo qual um bancário estava enfrentando.
O rapaz parecia uma pedreira, tal era a quantidade de pedras que rapidamente se formavam nos seus rins – e o leitor conhece por experiência ou por ter ouvido falar que a cólica renal “bota” qualquer um em parafuso, sendo pior que a dor do parto.
Muitos desses portadores de cálculo renal se arriscam a fazer qualquer tipo de tratamento, ingerir medicamentos caseiros, do Paraguai ou até mesmo as mais loucas simpatias, para se verem livres desse pesadelo.
Realmente, a danada da cólica renal é brava: eu a conheço muito bem e sei o quanto ela me judiou, no transcorrer dos anos. Foram tantos os remédios, chás disso ou daquilo, cirurgias e até mesmo explosões que eu me vi obrigado a fazer para acabar com ela, que perdi a conta.
E foi diante de uma situação dessas que o Osnir se deparou, pois um de seus funcionários vivia, quase que diariamente, com crises de cólicas renais.
Certa manhã, a esposa desse funcionário, em licença médica para tratamento, se encontrava nas dependências do banco, quando se encontrou com o Osnir, que, solícito como sempre, procurou saber do amigo:
– Como vai o Júlio?
– Vai indo, “seu” Osnir. Tomando baldes e baldes de chás, para ver se expele essas pedras (4) antes da cirurgia.
– Que chá ele tem tomado?
– Chá de quebra-pedra com cabelo de milho, unha de vaca com folha de abacate. São tantos que eu já perdi a conta.
– Pois olha, me ensinaram uma receita boa e, pelo que parece, funciona: basta tomar cerveja quente que a pedra sai logo, porque a cerveja por si só já é diurética. Por que você não experimenta dar para ele?
A jovem e preocupada senhora ouviu atentamente os comentários do Osnir, o qual enumerava as pessoas que haviam expelido as danadas das pedrinhas.
– É isso mesmo que vou fazer, pois, como o Júlio é chegado numa cervejinha, não vai ser problema ele tomar um cervejinha quente...
Dois dias depois, o Osnir voltou a se encontrar com a mulher, no interior do banco. Ao cumprimentá-la, perguntou:
– E o Júlio, como está? Tomou a cerveja?
Desanimada, a jovem respondeu:
– Está do mesmo jeito, “seu” Osnir. Acho que o remédio será a cirurgia, não tem outro jeito. Logo que saí do banco, na segunda-feira, fui pra casa e preparei cerveja para o Júlio tomar... Mas ele não conseguiu, disse que parecia um fel, o pior dos remédios que já havia tomado.
– O Júlio recusou uma cervejinha? Não acredito. Só porque estava sem gelo?
– Pois é, não sei se esquentei demais, que ele não conseguiu tomar.
Diante da resposta, o Osnir quase caiu das pernas:
– A cerveja quente que eu falei era sem ser gelada, ao natural. Não era necessário “esquentar”.
Imaginem só: se cerveja quente é um “saco” beber, imagine aquecida a 50º C. É um Deus nos acuda...
Coitado do Júlio!
Escritor Paulista
Enviado por Escritor Paulista em 02/12/2009
Reeditado em 02/12/2009
Código do texto: T1956870
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