PROMESSAS DE PALANQUE


A data em que a história de hoje aconteceu é indefinida, porém o ano pode ser acertado na mosca: 2000 DC. Foi o ano em que Paraguaçu Paulista se agitava com a concorrida campanha política, cujo destino era a Prefeitura Municipal. Nesse período, o eleitor era assediado diuturnamente pelos mais variados candidatos a uma vaga na Câmara Municipal ou por uma avalanche de cabos eleitorais, que, iludidos com um ganho fácil ou algumas promessas, saíam à caça de votos.
Certo dia, nossa empregada, cujo nome manteremos em sigilo, já que é uma pessoa conhecida e de comunicação fácil, acabou sendo fisgada por um desses candidatos, que, cheio de promessas, a levou “no bico”.
– Bom dia, Dona Maria! Hoje eu vim até a sua casa, porque preciso ter do meu lado uma “colaboradora” de peso como a senhora. Estou, mais uma vez, pleiteando uma vaga na Câmara Municipal, para poder dar continuidade aos meus projetos de paraguaçuense que só deseja o futuro desta cidade tão querida.
– Sabe o que é, seu..., tanto eu como minha família estamos cansados de promessas que nunca acabam sendo cumpridas após as eleições.
– Concordo com a senhora, mas, no meu caso a “história” é outra, porque quero ser o exemplo de homem público, sem “rabo preso” com a situação ou oposição, apesar de hoje estar defendendo a situação.
– Eu sei, conheço toda a sua família e o senhor desde criança, mas não quero me indispor com ninguém, nesta campanha.
O assédio prosseguiu, com marcação cerrada, até que o candidato abriu a “mala de promessas” e começou a distribuir, para nossa acuada funcionária, inúmeras delas.
– A senhora não perderá comigo, pode ter certeza, pois sempre fui de cumprir o que prometo. O que a senhora está mais precisando, no momento?
Encabulada, Maria pensou, pensou, pesou e depois respondeu:
– Eu preciso de uma dentadura. Estou com uns “cacos de dentes” na boca que volta e meia me incomodam.
Sem pestanejar, o futuro edil retrucou:
– Puxa vida! Pensei que o senhora ia me pedir alguma coisa fora de minhas posses, mas um pedido como esse eu atenderia, mesmo não sendo candidato. A senhora pode procurar um dentista, extrair os dentes e, depois de feito o serviço, pode me procurar a qualquer hora.
A ingênua Maria, hoje com seus 65 anos, “topou” trabalhar com o futuro vereador. Arregaçou as mangas e foi à luta, porém, antes foi a um dentista e extraiu o resto de dentes que tinha na boca, sonhando com “aqueles” dentes brancos e tão planejados.
A campanha foi agitada como sempre, mas o “nobre” candidato acabou sendo eleito, graças ao excelente trabalho realizado pelos seus “cabos eleitorais”.
Já seus os dentes na boca, Maria procurou por várias vezes pelo “salvador da pátria”, porém não mais o encontrou: ele sempre havia saído ou estava ocupado.
O tempo passou rápido e, como sempre, deixou suas marcas... e uma delas é bem visível: a boca sem dentes da coitada da Maria, que acreditou em PROMESSAS DE PALANQUE.
Escritor Paulista
Enviado por Escritor Paulista em 30/11/2009
Reeditado em 01/12/2009
Código do texto: T1952530
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