A sacola

Em conversa com um amigo, cuja identificação manteremos em segredo, tomamos conhecimento de algumas façanhas de seu pai, que, apaixonado por pescaria, sempre tinha alguma história para contar, quando retornava de uma pesca. Iremos chamá-lo de Júlio.
Antigamente, muitos pescadores se aventuravam a pescar em locais distantes, fazendo o uso do trem, meio de locomoção muito comum, na época. Foi num embalo desses que o nosso personagem, em companhia de outros amigos, participou de uma dessas inesquecíveis pescarias.
O local escolhido foi a Lagoa São Paulo, lugar de farta pesca. Felizmente, tivemos a oportunidade de conhecer o local deste caso, nos anos 70, que ficava lá pelas bandas de Presidente Epitácio, mais conhecido por Porto Epitácio.
Num determinado dia, durante a pescaria, um dos amigos de Júlio, com receio de derrubar dentro d’água sua valiosa sacola importada, onde carregava toda a sua “traia” de pesca, dependurou-a no galho de um pequeno arbusto próximo, o que o fez sentir-se mais tranquilo. Imaginem, no último dia de pesca perder a sacola?
O tempo passou e a pescaria em abundância obrigava os pescadores a limpar os peixes e salgá-los em seguida, já que gelo por aquelas bandas era artigo de luxo.
Alguns dias após terem retornado para Paraguaçu, Manoel, dono da sacola, procurou por Júlio e lhe disse, chateado:
– Sabe que eu acabei esquecendo a minha sacola lá na Lagoa São Paulo? A pressa de vir embora só me fez dar por falta dela aqui em Paraguaçu. É uma pena, pois ela era das boas, sempre sobrava um espacinho para alguma coisa.
– A essa você pode dar adeus e comprar outra... Nunca mais você vai achá-la – comentou Júlio.
No ano seguinte os amigos retornaram ao mesmo local para a famosa pescaria e, intacta, a sacola estava lá, dependurada no galho da árvore, agora bastante alta.
Foi preciso Manoel subir para apanhar a tão querida sacola de lona com nylon e, para sua surpresa e de todos, ela se encontrava em perfeito estado de conservação, com todos os apetrechos dentro dela, além de um velho ninho de passarinho. Tinha também o esqueleto de um deles, na ponta de uma linha, possivelmente da mãe, já que era grande e tinha um anzol preso no bico.
O amigo Júlio achou aquilo um absurdo:
– Isso não é possível, pois esta sacola tomou chuva e sol o ano inteiro e ainda está aberta com um ninho de passarinho dentro dela. É incrível!
Ao seu lado, Manoel retrucou:
– Tudo é possível, Júlio. O vento bate e movimenta a sacola de um lado para o outro e isso fez com que ela se abrisse, automaticamente, pois o seu pino ficou tocando nos outros galhos menores.
– E o passarinho com o anzol na boca? – perguntou Júlio.
– Ele foi comer a isca que estava presa numa linhada que sempre carrego na bolsa e acabou sendo fisgado. Coitado, morreu igual a um peixe: pela boca!
Durante muitos anos, Júlio repetiu esta história:
– Nunca acreditei naquela história da bolsa do Manoel, mas que nós encontramos a danada abraçada num galho grosso, com toda a “traia” dentro e ainda por cima com um passarinho fisgado, lá sim isso é verdade!
Escritor Paulista
Enviado por Escritor Paulista em 28/11/2009
Reeditado em 29/11/2009
Código do texto: T1948851