NINGUÉM MATOU O PATO
NINGUÉM MATOU O PATO
Contava meu avô que no tempo do império, as caçadas eram praticadas em longa escala pelos nobres da corte. Determinado coronel, latifundiário, muito rico, recebeu em sua fazenda uma comitiva de nobres, para uma caçada. Cães amestrados espingardas de ultimo tipo, e tudo aquilo, que de mais moderno havia em materiais de caça. Recebidos com pompa e luxo. Muita bebida, churrasco, e tudo mais que é de direito dos ricos. Ao saírem para a grande ação cinegética, prontos para bater as matas, por montes e vales do grande sertão, o coronel anfitrião, se lambou de seu mui querido empregado. Desceu até seu casebre convidando-o a acompanhá-los. O empregado respondeu-lhe: - estou muito honrando com tamanha generosidade, mas o que farei eu, com minha espingardinha, velha de coronha rachada, remendada de arame, no meio de tantas armas de ultimo tipo? O coronel muito amigo de seu empregado acabou por convencê-lo a lhes acompanhar. Ele muito tímido com aquela granfinagem toda, foi ficando bem na reta guarda se distanciando dos demais.
Ao aproximarem da mata fechada, eis que de repente surgiu um enorme pato selvagem voando sobre os caçadores. O primeiro atirou errando o alvo, o segundo idem, e assim foi um veadeiro pipocar de tiros, mais e mais o pássaro impulsionava seu voou na direção do matuto. Ele já bem distante do grupo, imaginando a inviabilidade de atingir o alvo, que havia pegado altura, impulsionado por tantos estampidos em sua direção, voando lá pelas nuvens. O matuto mirou bem no peito do pato e disparou.
A essa altura meu avô sempre fazia uma pausa em sua narrativa, e aguardava. Quando algum ouvinte louco pela moral da estória, afirmando mais, do que perguntando, dizia... E ai matou pato? – Não errou também!... Mas atirou igual aos outros! ... Assim também é nossa vida! As armas com as quais nós lutamos para sobreviver, ficam todas para trás, carros do ano, iates, haras, áreas de lazer, mansões, conta bancária. Nada disso se leva. Ouve-se apenas o estampido da morte, levando ricos e pobres com mesma explosão.
E tornando-nos todos iguais,nesta continua passagem para o lado de lá, e diante do criador, resta-nos apenas à misericórdia Divina ao nosso dispor.