Traíra Incendiária
Traíra incendiária
Durante nossas andanças por este mundo de Deus, temos ouvido causos que nos deixam com “a pulga atrás da orelha”, pensando “cá com os nossos botões”, às vezes nos deixando rindo sozinhos.
O nosso causo de hoje aconteceu alguns anos antes de as águas serem represadas e formarem “aquele mundão de água” que banha a divisa do Estado de São Paulo com o do Paraná, transformando Gardênia num ponto conhecido para uma boa pescaria.
Certo dia, o nosso grande amigo, professor e bancário Osvaldo Pereira Oliveira, o “Vado”, já falecido, resolveu fazer uma daquelas pescarias de sempre e levou como companheiros o seu irmão, Orivaldo Pereira Oliveira, e o folclórico pedreiro e pescador Balançone, estes dois últimos também.
O local foi o rio Laranja Doce, na Fazenda Baixada Amarela, lá pelas bandas de Gardênia, já que naquela região se pescava traíra das grandes e valia o sacrifício, pois o proprietário da fazenda não permitia a presença de caçadores e pescadores, o que é comum nas propriedades rurais.
Com os apetrechos arrumados, minhocas à vontade, lá se foram nossos personagens, sem saberem o que os esperava.
Como o Vado gostava de andar pelas margens do rio, Orivaldo foi fazer-lhe companhia, deixando o sossegado Balançone com seu cigarro de palha no canto da boca, porque ele não era muito chegado a andar de um lado para o outro.
O calor era intenso, não chovia há um bom tempo, fazendo com que o pasto ficasse ressecado, causando prejuízo aos pecuaristas da região. O tempo passou depressa e os dois irmãos estavam a cerca de uns 300 metros do Balançone, quando viram uma fumaceira, misturada com fogo próximo onde tinham deixado o amigo.
Preocupados, foram verificar o que estava ocorrendo, mas não tiveram que andar muito, pois o solitário pescador vinha andando depressa, quase correndo e, ao “topar” com os dois irmãos, foi logo dizendo:
– Sebo nas canelas, que os capangas do dono da fazenda vêm vindo aí.
– Mas por quê? – o Vado perguntou.
– Pegou fogo no pasto perto do rio onde eu estava pescando e agora estão atrás de mim.
– Não acredito que esse cabeça dura foi colocar fogo na grama seca – disse Orivaldo, bravo com o pedreiro.
– Eu não coloquei, não. Acontece que as traíras que eu ia pegando eram grandes e eu colocava na fieira de arame de aço que eu fiz e que estava no chão. E elas iam esfregando aqueles “dentões do diabo” e, de tanto esfregar no arame, acabaram produzindo as faíscas que atingiram a grama seca. Está explicado o fogaréu!
A verdade é que os três correram bastante até chegarem ao carro do Vado e, após longo tempo de silêncio, olharam interrogativos para o Balançone, que entendeu tudo e foi logo dizendo:
– “Oceis” pode estar pensando que eu toquei fogo no capim, mas na verdade as culpadas foram estas “bichonas” aqui – acariciou a enorme cabeça da traíra, que mais parecia um lobó.