PÓ DE ARROZ

Pó de arroz...

Madame já havia me avisado. Cuide bem para que não falte meu pó de arroz. Muito antes de desfazermos as malas, ainda na alfândega, ela insistia, por favor, não se esqueça, com o calor desta cidade, meus poros ficarão abertos demais, precisarei ter muito cuidado para não estragar minha pele.

E assim cheia de malas, bolsas, e apetrechos ela chegou ao Tom Jobim. Parecia uma girafa fora do habitat natural. Lá do alto de seu pescoço comprido, espiava tudo e a todos com sua curiosidade insaciável. E sempre insistindo para que eu procurasse manter o seu estoque de pó de arroz...

Depois que meus pés estavam cheios de bolhas, e eu me sentindo a própria mortiça, pois estava desbotada depois de experimentar na própria pele, os vários tipos de pó de arroz, para abastecer o estoque da madame. Adentrei na sala minúscula do flat. Madame dormia para minha alegria. Teria alguns minutos para me refazer, antes do inicio do jogo. Eu ainda não tinha entrado na banheira, quando comecei a ouvir os sinais da tragédia.

Foguetes eram lançados para o alto, enquanto a multidão fanática nos quatro cantos do estádio gritava FLUZÃO, FLUZÃO, FLUZÃO. Vi algumas imagens e logo após os primeiros segundos o grito de GOLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL!

E era do Fluminense. Madame acordou, ou melhor, ressuscitou, era melhor assim. Estava descansada e pronta para assistir a partida inteira ainda lúcida.

De repente, ouvi um grito: “ – Você é maravilhosa, tenho de recompensá-la, até que enfim descobriu o que eu tanto esperava encontrar nesta cidade”. Madame estava me elogiando... Isto era para ser comemorado. Resolvi ficar na banheira, por mais algum tempo, a água era relaxante... Fazia-me esquecer das últimas horas que eu tinha revirado a cidade de pernas para o ar, em busca do pó de arroz para aquela fanática torcedora do fluminense. Esqueci-me de tudo. Creio que dormi, por alguns minutos. Não eu tinha mesmo apagado.

Não entendia as cenas que via. A polícia estava em todo o flat. Muitos homens, jogaram uma parte do lençol, para cobrir madame, enquanto ela dormia. Pude ver também que espalhadas pelo quarto estavam às diferentes embalagens de pó de arroz, cada uma com sua característica de acordo com a fabricação. Eu não conseguia mexer um dedo. A água da banheira estava deliciosa...

Um dos policiais retrucou para o colega: - O Fluminense perdeu! O outro colega respondeu:- Quem perdeu mesmo foram estas duas, o pó de arroz era falsificado, e elas dançaram. O time não, ainda tem uma chance no Maracanã....

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 26/11/2009
Código do texto: T1944626
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