Reminiscências 08
A curva do corte
Este texto é em memória de minha mãe Maria Conceição da Silva a quem todos chamavam carinhosamente de “Dona Fia”.
No meu primeiro ano de escola, ainda morando na roça, tinha que fazer uma caminhada de aproximadamente 8 km até Delfim Moreira para estudar.
No entanto eu tinha medo enfrentar certos trechos do caminho os quais, tinha que fazer sozinho.
Minha mãe sempre incumbia um de meus irmãos ou irmãs para me acompanhar até certa altura do caminho, lugar esse conhecido como a curva do corte.
Este trecho era um tanto sombrio. Uma enorme curva com barrancos altos de terras esbranquiçadas de ambos os lados e era o último lugar de onde podíamos avistar a nossa casa.
A partir dali era mais fácil, pois logo adiante ficava um vilarejo onde morava um outro menino que também tinha o mesmo destino que eu, e mais que por necessidade, acabamos ficando “amigos”.
Ele não era lá muito de conversa, o que fui descobrir mais tarde que aquilo se chamava timidez. Seu nome era João, filho de um “fazedor” de canecas (colocava asas em vasilhas de latas), por nome de Vicente Magro.
Tudo ia razoavelmente bem até que um dia não havia ninguém disponível para me acompanhar até a temível curva do corte e minha mãe foi firme e categórica dizendo: “Hoje você terá que ir sozinho”. Aquelas palavras fizeram com que eu quase mijasse no uniforme, mas não houve remédio.
Engoli a seco o resto de café com leite e farinha (merenda da época), peguei o embornal com os apetrechos escolares e desci ladeira abaixo, ora soluçando, ora rezando baixinho sob o olhar de minha mãe que insistia em não demonstrar o que realmente sentia. E certamente era muita pena de mim.
Até hoje me lembro da minha primeira passagem por aquela curva, sozinho e também daquele olhar da minha mãe que me seguia na partida e a sua importância dele para a minha formação e também como incentivo para não fugir dos muitos desafios que viria enfrentar na vida.
Obrigado Dona Fia.