AS PERIPÉCIAS DO SOLDADO JUVENAL (Cap. 1)

Era sábado, mas não haveria de ser um sábado qualquer na pacata cidadezinha de Marechal Caetano, localizada nas brenhas do sertão Brasileiro. O Estado, não importa, fica a critério da imaginação do leitor.

- O homi já ta ai seu delegado!

- O Seu Ramiro?

- Positivo! Deu um trabalhão da miséria pra vim, mais trouxe ele assim mesmo.

- Soldado Juvenal tomara que o senhor não tenha usado de força excessiva para prendê-lo. Ele sempre foi uma pessoa de paz.

- Eu sei que é dotô. Só dei uns empurrãozinhos pra mode ele entrá na viatura só isso.

- Espero que só tenha feito isto mesmo, ouvi um boato que o pessoal dos Direitos Humanos está vindo pra cá acompanhar este caso, e se o homem estiver machucado, a coisa vai ficar feia pro nosso lado.

- Fiz nada de mais não dotô. Ele ta só com um pequeno arranhão na cara, mais foi da carreira que deu no meio do mato tentando fugi e se feriu nos espinhos

- Se eu não lhe conhecesse soldado, acreditaria nesta sua conversa mole. Só quero mesmo ver como ele está pra saber se você fez como lhe pedi. Fique aqui na recepção enquanto vou lá dentro conversar com ele.

- Positivo dotô, pode deixar que eu tomo conta.

O soldado fez uma cara de desconfiado feito gato que rouba peixe em cima do fogão e ficou na porta da delegacia olhando o movimento das pessoas passando em direção a feira. O delegado Antenor encaminhou-se para o xadrez localizado nos fundos do prédio.

Ao se aproximar da cela o delegado viu o preso deitado no chão se contorcendo de dor. O homem tinha o rosto sujo de sangue e o olho esquerdo completamente tampado devido a um inchaço.

- Soldado Juvenal, seu filho da Puta, venha aqui! Gritou o delegado indignado com o estado do preso.

O solado ouvindo o chamado do chefe correu até onde ele estava.

- O que foi dotô? O sinhô me chamô?

- Você é mesmo um merda! Tinha que bater no homem deste jeito? Eu tanto lhe recomendei ontem à noite pra trazê-lo pacificamente e sem nenhum ferimento, e olha só o estado desse coitado. Você é um animal soldado.

- Mais dotô eu não fiz nada...

- Então me diga seu bosta, quem bateu nele até quebrar o nariz, os dentes e deixar o olho dele desse jeito, foi uma borboleta?

- Foi como lhe disse dotô, num fiz nada. A noite tava escura e ele saiu na carreira por dentro dos mato. Só parô quando meteu a cara num tronco de uma jaqueira que tava bem paradinha no meio do caminho e ele num viu.

- Tronco de jaqueira um cacete – esbravejou o delegado - está me achando com cara de idiota Juvenal? Desapareça da minha frente antes que eu te prenda por agressão e tentativa de homicídio.

O soldado saiu mais ligeiro que depressa, pois sabia que o delegado era homem de cumprir suas promessas.

Preocupado, o delegado tratou de abrir a cela e levou o preso até o banheiro. Lavou seu rosto e o colocou sentado numa cadeira a fim de apurar o ocorrido. De imediato reparou que o cidadão não era a pessoa a quem pediu para juvenal prender...

Herivaldo Ataíde
Enviado por Herivaldo Ataíde em 24/11/2009
Reeditado em 10/01/2010
Código do texto: T1942343
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