A viúva
Lindolfo morreu. Foi um corre-corre danado. Foi de repente. Amigos e parentes pegos de surpresa. Imagina tão saudável... morrer assim de uma hora pra outra?A viúva, chorava pelos cantos e os consoladores é que não faltavam. Quando perguntavam o que tinha acontecido, respondia chorosa: Não sei... Ele acordou tão bem e... Desabava num choro sem fim.
Lindolfo era homem pacato, desses que dão um boi pra não entrar numa briga, mas se entrar quer o boi de volta. Era paciente, educado e como dizem por aí, gente fina. Já a viúva Magda, o oposto. Pavio curto e encrenqueira tinha resposta pra tudo na ponta da língua. Um gênio do cão!
Uma vez brigou com a vizinha e foram todos parar na delegacia. Magda pisoteou o jardim da vizinha e envenenou o gato. Cara de santa, até que ela tinha, mas santa não era de jeito nenhum. Talvez por isso, o choro dela não convencia ninguém.
Cidade pequena, todos se conhecem... Começou o diz que me diz e num instante a cidade toda suspeitava da Viúva., afinal Lindolfo não estava em situação financeira ruim.Era proprietário de um haras e tinha algumas propriedades na cidade.Ela bem poderia ter matado ele para herdar os bens, pensavam.
Lindolfo era bom homem, mas gostava de apostas, qualquer uma e não se intimidava em apostar altas somas. Ele realmente tinha muita sorte. Magda, apesar das maluquices e do temperamento, era boa esposa. Não tinham filhos e Lindolfo a cobria de mimos. Eram felizes da moda deles, como dizem. Brigavam e não era pouco, onde quer que tivessem que brigar.Lindolfo deixava pra lá, mas Magda quando mais ele se calava, mais ela boquejava.Lindolfo ria: - Eita muié braba!
Agora, Magda era olhada de rabo de olho, com desconfiança, como se fosse uma criminosa. A cidade toda presente no funeral, distribuída em rodinhas onde as pessoas cochichavam e se perguntavam: Será?
A viúva, retirou-se por um instante da presença do caixão e quando foi saindo, ouviu o cochicho: - Foi ela! Naquele instante, Magda apenas olhou e continuou andando.
-Não disse?Tá na cara que foi ela!Ela está é bancando a santinha... Quem não conhece é que compra!
Sem dizer uma única palavra, Magda sentou-se num banco e começou a lembrar-se da vida que tivera ao lado de Lindolfo. Lembrou das brigas, das reconciliações, das viagens e da mania que ele tinha de dormir com a mão dela sobre o seu peito. Ela chorou... sabia que tudo terminara ali.
Chamaram-na.Era hora de descer o caixão á sepultura.Acompanhou o marido até o último instante.Depois que todos foram embora ela ficou ali, por mais um tempo.Levantou-se e foi para casa.
Passados alguns dias, as fofocas e o assunto da cidade era o mesmo: A morte de Lindolfo. Magda, já não podia ir ao banco, nem ao mercado. Onde quer que fosse estavam lá, as pessoas apontando e cochichando.
Em uma manhã, Magda recebeu uma visita. Um homem bem vestido, com um carro elegante, bateu á sua porta. Os vizinhos estavam atentos.
Não demorou, Magda saiu com suas malas e colocou-as no carro, entregando ao senhor um envelope. Entrou no carro e partiu. Fugiu, pensaram os vizinhos que trataram logo de espalhar a notícia.
O que eles não sabiam é que aquele senhor trouxera a Magda uma segunda ordem de despejo. Lindolfo perdera tudo no jogo. Primeira, ele recebera no dia do enfare fulminante.
Nunca mais ouviram falar de Magda, nem de seu paradeiro...