JAKO DOIDO

JAKO DOIDO

Seu nome não era “JAKO’, mas sim JAKSON, mas no interior as pessoas gostam de comer letras e letras, talvez por economia ou preguiça mesmo, certo é que viveu e morreu como “JAKO’.

Era semi-doido, um pouco diluriado como dizem por estas bandas. Contaram-me que abusou da própia mãe e por isso foi preso pelo sargento Zé Bravo e depois de preso e castrado, macetado por cassetete devidamente aplicado, para que não abusasse de mais ninguém.

Jako adorava uma pinguinha da terra, vivia de dar recados e executar alguns servicinhos insignificantes, como apanhar um caixa de lixo, vender bananas, limpar um quintal, comprar um cigarro etc....Quando via uma rodada de beberrões se postava bem perto para algum lhe mandar fazer algo e em troca ganhar uma copada de cachaça.

Quando ele estava incomodando muito com seu corpo espaçoso, em pé junto a mesa de um bar, os mais intolerantes pediam : Ô jako , vá Lá na rua tal e veja se estou lá e diga para eu vir para cá que o pessoal ta me esperando !!- Vejam só que coisa, pois não é que Jako ia e deixava por um bom tempo o pessoal sossegado?- Mas Jako em sua loucura já não caia mais nesta, estava um doido sabido.,

Uma noite chuvosa e escura, pois faltara energia da usina, estava a turma a jogar baralho,caixeta, pif num cômodo da pensão de Dona Senhorita quando apareceu Jako. O jogo estava animado, no cômodo postavam-se duas janelas que davam pra rua escura e enlameada,mas a brisa suave e fresca entrava quarto a dentro proporcionando bem-estar e tranqüilidade para os jogadores. – Mas com a chegada de Jako tudo mudou-A brisa agora trazia aquele cheiro ardido de corpo sem banhar a dias, do bafo de boca suja e ardume de chulé de botina. Jako se alojara bem no meio do vão duma janela, incomodando a todos.

No jogo de baralho tem um dos participantes que recebe a comissão por cada partida realizada, pois bem, esse era nada mais, nada menos que meu compadre Chico Muamba, sujeito inteligente e astuto, muito meu amigo. Chico logo percebeu que Jako ia atrapalhar seu ganhatório, pensou rápito e chamando Jako pro lado amigavelmente disse: Jako você quer uma pinga?-Só se for agora ! Respondeu Jako ansioso. Pois eu vou lhe dar um litro, não é uma dose não! É um litro arrufado de cheio,ta bom?-Cadê ? perguntou Jako tremendo de contentamento.-Tá lá naquele canto, ta vendo?-Jako arregalou os olhos cinzentos e viu no canto um litrão escuro barrufado de cachaça.Trás cá ! disse Jako- Não retrocou Chico- Primeiro você tem que ir no cemitério, arrancar uma cruz duma sepultura e trazer pra mim. Ora vejam, a noite estava escura, chovendo, frio,e por cima o cemitério dava medo de ver até de dia,.Não tinha muro, era cercado com lachas de aroeira, o portão de madeira quebrado, muitas sepultura semi-abertas, um horror !!!-Mas Jako , doido pra encher a cara topou e foi saindo resoluto numa marcha acelerada rumo ao local do serviço. Compadre Chico ficou pensando: Será que ele vai mesmo?-Tá doido?-É...Tava mesmo, e foiiiii....!!!

Compadre Chico astucioso-arquitetou: Vou meter um susto neste doido para ele nunca mais pisar os pés em cemitério.

Deixou Geremias em seu lugar para cobrar a comissão, deu uma desculpa e saiu, saiu foi em casa vestiu uma capa preta bem comprida, daquelas antigas , colonial, abotoou até o pescoço ,como fazem os evangélicos e saiu atrás de Jako.

A rua estava completamente deserta, não se via uma alma viva. A estas horas Jako já devia estar no cemitério – vou açulerar o passo pensou Chico. Chico foi chegando de mansinho, entrou no cemitério ,agachou-se atrás de um túmulo e ficou observando Jako. Jako foi numa sepultura, pegou a cruz e quando ia arrancá-la Chico sussurrou com voz cavernosa”PEGA ESSA NÃO QUE É DE MINHA MÃE!- Jako se espantou, tirou a mão depressa, olhou prum lado, pro outro, não viu ninguém, se dirigiu para outra sepultura. A essa altura Chico começou a ter um medinho, mesmo porque Jaco não tava com medo. Jako pegou outra cruz!- A voz vampiresca soou novamente, mas já agora sem muita convicção: NÃO PEGUE ESTA QUE É MINHA !!!

jAKO pensando no litrão que o esperava e já sem paciência, respondeu: PODE SER DO CAPETA,MAS ESTA VOU LEVAR....Arrancou a cruz, com um bolo de barro no pé e saiu correndo cemitério a fora...Chico vendo-se sozinho,sentiu um calafrio na cacunda e saiu correndo também, com o intuito de alcançar Jako diminuindo assim o medo que lhe gelava todo o corpo. Entretando , Chico , por mais que corresse nunca alcançaria Jako, que todas as vezes que olhava para trás, via em Chico a imagem do capeta, todo de preto,com uma capona feia balançando querendo alcançá-lo. Jako a estas alturas estava correndo mais que os corredores africanos na São Silvestre...Chico açulerava,,,e Jako disparado na direção da jogatina...

O pessoal tava tranquilissimo jogando seu baralho, nem se lembravam mais de Chico, devia ter ido dormir,pensavam...

De repente escutaram um tropel, parecendo boiada estourada. Olharam pela janela- E...Lá vinha Jako na toda...!Foi chegando esbaforido, bufando, bufando, pegou o litro de pinga, jogou a cruz cheia de barro encima da mesa de jogo, e rosnou:

Aí ta a cruz !!!!...vou dar no pé que o dono vem logo aí atrás..!!

E saiu em disparada olímpica...Estupefados os presentes olharam pela janela, e qual não foi o susto!!!-Lá vinha a coisa feia, correndo, correndo em suas direção, talvez para pegar sua cruz...Valha-me Deus...gritaram !!-Saíram voando , imprensando-se pela porta estreita e, nunca mais jogaram baralho quando Jako estava por perto....

l.rocha

Laerte Rocha
Enviado por Laerte Rocha em 19/11/2009
Reeditado em 27/07/2015
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