Êxodo
Um amontoado
De tijolos maciços,
Com as arestas
Já adoçadas pelo tempo,
Indicavam que ali
Houve uma residência
No passado.
O chão batido
No piso do cômodo
Onde teria sido a cozinha
Ainda sustentava
Uma pilha de tijolos chamuscados.
Era o que restava do fogão a lenha.
Dava para imaginar
O cheiro da comida
Feita nele
Durante a sua vida útil.
Achei o lugar aconchegante.
Resolvi então,
Montar acampamento por ali.
Apeei da mula.
Naquela noite
A fome apertou
E o cheiro
Que eu imaginara cedo
Invadiu a minha barraca.
Saí para ver do que se tratava
E deparei-me
Com uma caçarola de canjiquinha
Soltando fumaça
Sobre o fogão.
A fome era tanta
Que comi quase tudo
Sem nem mesmo questionar
Que uma outra pessoa
Poderia estar ali
Esperando a canjica ficar pronta.
Doeu um pouco a consciência,
Mas o cansaço era tanto
Que apaguei.
Quando acordei
Não encontrei nem vestígios
Daquela panela.
E muito menos
Deu para descobrir
Se alguém teria estado ali.
Mas teve uma coisa
Que me deixou bastante intrigado:
Se aquilo foi um sonho,
Por que será
Que os tijolos,
Do que restava do fogão,
Estavam tão quentes?
Enquanto isso
O canto de um sabiá
Anunciava o novo dia.