Douradinha
Um domingo destes
Acordei bem cedinho
Chamei dois amigos
E fomos ao Porto Marinho
Pescar Camarão.
Em batatal
Paramos numa venda
Compramos uma garrafa da pinga do lugar:
A Teixeirinha.
A primeira dose
Bebemos ali mesmo.
Pegamos também
Um saco de rosca
Uma penca de bananas
E quinhentos gramas de torresmo.
Aceleramos o fuscão
E partimos
Soltando fumaça
Levantando poeira
Fomos na direção do Camarão
Passamos pela Olaria
E uma outra dose da cachaça
Já havíamos virado de supetão.
Alguns solavancos e curvas depois
Chegamos à bela laje de pedra.
Eu fui catar lenha
Para fazer uma fogueira
Seria feito um arroz.
Os meus amigos
Que não tinham medo do perigo
Entraram n’água para pegar
Os camarões pro cozido.
Eu,
Que não tinha muita intimidade com o Rio
Fiquei na laje de pedra pescando piabinha
Pro tira gosto
Do que restava da Teixeirinha.
Meus amigos demoraram tanto
Que me deu a maior lombeira
Bebi mais um pouco da pinga
Comi as piabinhas,
Deixei queimar o arroz
E apaguei junto com a fogueira
Algum tempo depois
Acordei com um cutucão
Que me deu arrepio
Levei um susto danado
Com o tanto que aqueles dedos
Estavam frios.
Mais assustado eu fiquei
Quando olhei pro lado.
Pois aqueles dedos frios
Eram na verdade
As barbatanas de um enorme dourado.
O bicho estava com a garrafa de Teixeirinha
Vazia debaixo da nadadeira.
E, na maior bebedeira retrucou:
- Vá buscar outra lá na venda,
Pois esta douradinha já acabou.