Tocaia
Ele
Era um amansador de cavalos.
Fazia isso
Na base do grito,
Da espora
E da Chibata.
Era um boa-vida.
Não podia ver
Um rabo de saia.
Num certo dia,
Montado em seu cavalo,
No seu passeio noturno rotineiro
Com destino a Portela,
Em uma estrada de terra,
Em um local ermo,
Um moirão,
Um homem escondido,
Uma espingarda,
Um estampido,
Um tiro certeiro.
Era
Uma tocaia.
Gravemente ferido
Pelos estilhaços do cartucho
Que lhe penetraram a axila esquerda,
O coração ali perto batia fraco
Devido ao sangue perdido
Que escorria pela cela
E pingava do estribo,
Formando um rastro vermelho
Pela longa estrada de terra.
A força que restava ao homem
O manteve sobre o arreio,
Mas o caminho de casa
Quem encontrou foi o parceiro,
O cavalo,
Que sem a ordem do seu guia,
Voltou para o lar
Como se soubesse
Que o seu dono padecia.
A partir daquele dia
O Homem prometeu
Não usar mais o grito
Nem a chibata
Nem a espora
Com qualquer cavalo
De sua tropa.