Estouro da boiada
O mês era julho
O clima, muito frio
E naquele ano
A seca era de lascar o moirão de ipê
E retorcer a porteira.
Uma lesma
Seria capaz de levantar poeira
Do chão seco
Em sua caminhada noturna.
A lua estava alta
E completamente cheia
Indicava mais ou menos
11 e meia.
Atravessei a Serra do Papagaio
Com destino a Jaguarembé de Cima
Empurrando a minha bicicleta.
A subida era íngreme
E havia muita areia.
Já do outro lado,
Na estreita estrada de terra
Do Brejo Grande
Próximo a uma capela,
Cujo sino foi roubado,
Escutei ao longe
Vindo em minha direção
Um barulho ensurdecedor
Parecia um estouro de gado.
Tive tanto medo
De ser atropelado
Por aqueles animais descontrolados
Que me escondi
Atrás da Capela.
De lá observava
O barulho da boiada
Que muito rápido se aproximava.
De repente
Passou em minha frente
Aquele barulho assustador
De cascos a galope.
Levantava tanta poeira
Que lembrava um trem a vapor.
A lua ficou vermelha.
O que achei mais estranho
É que o barulho cessou
A poeira assentou
E a bicharada não passou.
E se passou
Minha visão não registrou.
Só sobrou a terra em meus ombros
E a minha bicicleta amassada,
Como se tivesse sido pisoteada.
No dia seguinte andei por aquelas bandas
Tentando descobrir
Se animais teriam desaparecido.
Mas não houve quem reclamasse
Que seu gado havia fugido .
Foi então que me lembrei
Que apesar de ter ouvido o barulho dos cascos
Não tinha escutado nenhum mugido.