Homem-Bode
Lá pelas bandas do Papagaio
Há uma crença
Que no caminho da Vista Alegre,
Onde morava a benzedeira Purdença,
Vive um estranho ser
Que sofre com um encanto
Um tipo esquisito de doença.
Ele tem barbicha,
Chifre e cheiro de bode
Mas anda de pé
Tem corpo de homem e pensa.
Tem gente que acredita
Que o encantado
Seja fruto do pecado
Entre um campeiro
E sua cabrita.
Mas há quem diga
Que o bicho assustador
Foi vítima de um feitiço
De uma certa rapariga
Que não teve o seu amor.
O feitiço era de morte
Mas a benzedeira Purdença
Com sua reza muito forte
Salvou a vida do Homem-Bicho
Mas já não era mais possível
Livra-lo da cara de bode.
E hoje se conta
Não é prosa
Que ele ronda pela escuridão
Das noites de lua nova.
E nos sítios daquele lugar
Só se sabe de sua visita
Devido ao cheiro esquisito
Que se espalha pelo ar.
Mas suas pegadas
Deixadas no barro do terreiro
São marcas de pés de homem
E não de patas de cabrito.