Sabedoria dos Antigos

Toda tarde

No final da lida

Ao clarão da aurora

Ele nunca se atrasava

Sempre chegava

Na mesma hora.

Num certo dia

Sua demora

Deixou todos apreensivos

Será que lhe acontecera algo

Minha Nossa Senhora?!

Correram todos ao arrozal

Onde ele trabalhava na capina

E lá estava ele

Enterrado na lama do brejo

Até a altura da virilha

Ou um pouco mais acima.

Espantados

Os filhos que foram procurá-lo

Queriam desenterrá-lo.

E ele retrucou:

- Preciso ficar mais um pouco

O barro ainda não sugou

Todo o veneno

Da jararaca que me picou.

Ficaram todos ali

Por mais algum tempo

Até que ele resolveu ser desenterrado

A marca dos dentes

Da cobra no seu pé

Era a prova

De que ele havia sido picado.

Hoje, todo mundo sabe,

Não precisa ser doutor

Que a argila absorve as toxinas.

Mas quem teria ensinado isso

Para o meu avô João benzedor?

E naquela noite

Ele fez algumas rezas

E na manhã do dia seguinte

Todo mundo ficou espantado.

A jararaca foi encontrada morta

No mesmo local

Onde ele havia sido picado.