Casebre das Casuarinas
Lá pro lado da Vista Alegre
Perto de Portela
Numa noite muito escura
Em uma estrada de terra
Minha mula escolheu de empacar
Na frente de uma tapera
Nada fazia a besta andar
Então a besta de cima resolveu apear.
E na casinha de pau-a-pique
Rodeada de casuarinas
Atravessava as frestas do barro rachado
Uma fraca luz de lamparina
E eu sem me fazer de rogado
Fui gritando:
- Oh de casa!
- Oh de casa!
- Tem alguém aí?
E a porta se abriu
Num barulho assustador
As dobradiças enferrujadas
Gemiam como se sentissem dor.
Uma velhinha com seu gato branco
Recebeu-me com muita hospitalidade
E para meu espanto
Convidou-me para pernoitar
Em uma esteira
Que já estava esticada num canto.
Na Manhã seguinte
Quando o sol invadia a casa
Pelas rachaduras do telhado
Dei um pulo da esteira
Nunca tive um sono tão pesado
Procurei pela bondosa senhora
Para agradecer a estadia
Mas não havia sinal de nada
Nem velha, nem lamparina, nem gato branco
Só poeira, teia de aranha, morcego
E a minha mula pastando no campo.