O OURO DO DIABINHO
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Recontando Contos Populares
Dizem que havia no interior mineiro, em tempos que já se foram, um ex-escravo de nome Xandu que tinha "a sorte" de localizar com facilidade grandes pepitas de ouro.
À noite, Xandu ia para o "campo", levando consigo um surrado bornal, contendo uma garrafa escura de boca larga, dentro da qual saía, ao se soltar a rolha, um ser diabólico com aparência de um inseto com traços humanos. Ele saía da garrafa somente à noite, porque temia a luz, que o cegava e deixava-o fraco. Quando saia inflamava-se, como se fosse uma bola de fogo.
Tal ser, tinha pequenas asas transparentes, um corpo pequeno, a pele fria e de um dourado brilhante que parecia feito de ouro. Seu olhar mudava gradativamente do meigo ao ameaçador em questão de segundos. Alimentava-se de ouro, mas não era imortal; contudo, se bem alimentado poderia viver por mais de mil anos. Mas, se não conseguisse o alimento, em poucos dias podia morrer "de fome".
O demoniozinho da garrafa veio parar nas mãos de Xandu por meio de seu avô, que lhe contou que os pequenos seres aprenderam a farejar o ouro quando o homem extinguiu esse metal da superfície do planeta; como eles não tinham estrutura física para cavarem a terra, os que não morreram de fome, associaram-se aos humanos. Assim, aproveitando a cobiça do homem pelo ouro, os pequenos farejavam o metal e em troca recebiam sua ração.
Ora bem, como era e esperar, a fama Xandu despertou a inveja e a cobiça do fazendeiro coronel Agripino, seu ex-patrão. De modo que, a mando do coronel, seu capataz, aprisionou e torturou o jovem Xandu, para lhe roubar o segredo do ouro, e depois o assassinou. Realizada a tarefa, o capataz entregou ao coronel o bornal e contou-lhe o segredo arrancado de Xandu.
Coronel Agripino, mal podia esperar a noite chegar para soltar a rolha da garrafa. Quando à noite chegou, Agripino destampou a garrafa, e o demoniozinho, que já não comia a um bom tempo, saltou feroz, no "correntão" de ouro que o coronel trazia ao pescoço. Devorou o ouro com tanta avidez que junto veio parte da jugular do coronel Etelvino.
É como eu digo: A inveja é o diabo, seu doutor! Quem deve a Deus paga ao diabo! É ou Noé? ®Sérgio.
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Nota Sobre o Texto: As descrições do diabinho preso na garrafa foram extraídas e adaptadas ao texto, de uma lenda acontecida nas terras de Sant'ana, banhadas pelo rio São João, no interior de Minas Gerais e narrada por Pepe Chaves em seu livro Fama Real, editado por Pepe Arte Viva, 2002, Itaúna, MG.
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