Trem das Cinco
NA HORA DO TREM DAS CINCO.
(Zésouza)
O trem saia as cinco da tarde de Pelotas e passava no Capão Seco as cinco e quinze hora que juntava bastante gente na estação e na venda que ficava ao lado da estação. O marido ia pra venda beber cachaça e jogar o osso e ela ia para a estação se queixar da vida e reclamar dele:
- Tá na venda bebendo e jogando, botando dinheiro fora, eu com seis filhos pra criar... Ele só bebe e joga e dentro de casa não tem o que comer... Eu sou uma infeliz, eu tenho que morrer... Eu vou morrer... Eu vou me matar.
O trem vindo cortando a reta de nove quilômetros na várzea do São Gonçalo. E
ela naquela lenga lenga. Tenho que morrer e me mato. E o trem perto e ela pulava para o meio dos trilhos:
- Vou morrer.
E a turma do deixa disso. Não faça isto, a vida é boa, é pecado, lembra dos teus filhos. Tiravam ela de cima dos trilhos.
No outro dia a mesma historia. Hoje eu morro, hoje eu deixo esta vida triste. O trem chegando e ela pulando pro meio dos trilhos e a turma do deixa disto.
Terceiro dia a mesma coisa. Quarto dia; idem. Quinto dia no momento que ela saltou pro meio dos trilhos e a turma do deixa disso ia se mover o agente da estação abriu os braços, atacou a turma do deixa disto:
- Deixem ela se matar, é a vontade dela.
Ela botou as mãos na cintura olhou braba para o agente:
- Tu qué que eu morra? Tu tás bêbado?
FIM