F E S T E I R O
Na direção oeste da pequena AREIAS DO OESTE, há muitos e muitos anos passados, muito distante do povoado, haviam campos bem fechados. Denominavam como a região do ABACAXIZEIRO. Solo propício, arenoso para este plantio. E, para se chegar ao ponto desta plantação, deveria andar por quilômetros. Sim, tinham alguns habitantes ou principalmente agricultores que preenchiam aquela região. Por trilhos, rodeados de fortes campos que iam adentrando mato adentro, até que se atingisse a cultura dos ABACAXIS. Para que não se perdesse o caminho, saindo da cidade, aliás, cidadezinha, tomava-se rumo pela Rua dos Abacaxis, para se atingir o ABACAXIZEIRO. Dizia-se que esta fruta era de boa qualidade; os bem amarelos, embora fosse menos preferido os de polpa branca. Mas, atraia o povo, tanto para as compras e mais ainda, pelo lazer, comum, de se caminhar entre os campos e matas, uma vez que naquela época não haviam outros recursos para os entretenimentos dos dias de folga das pessoas da cidade. Pela própria constituição do solo, esta região também era conhecida como AREIA BRANCA. Realmente, quando se atingia as proximidades dos ABACAXIS, pisava-se em macias areias, quase a exemplo de praia, bem finas, branquinhas, dando para os pés afundarem-se no meio delas. Tanto que, quem viesse depois, percebia que pela frente, já tinham outros transeuntes, pelas pegadas dos rastros humanos e até de animais, como cavalos e cães. Era uma grande atração caminhar por aqueles lados. Mulheres, mais precisamente, as jovens colhiam flores campestres de variadas cores. Como dito popular as mais idosas preferiam as lilases e amarelas; ofereciam aos seus oratórios, comum por existirem nos quartos dos casais de todos os lares. Aquelas na busca de um parceiro preferiam as de cores brancas, achavam ir ao encontro de bons presságios para atraírem os seus cupidos. Felizes eram aquelas que conseguissem a raridade dos lírios do campo, espécie mais duradoura, devido aos seus fortalecidos troncos. E a caminho de AREIA BRANCA ou do ABACAXIZEIRO, muitas famílias iam nos seus finais de semana ou feriados! Os infantis ficavam felizes e convidavam os mais próximos coleguinhas, quando se programava este passeio; muitas mães se responsabilizavam pelos filhos vizinhos, mais chegados. E tudo era bem idealizado, como se fosse realizar um verdadeiro piquenique: lanches, doces, sucos, bolos... eram uma festa ao ar livre para este percurso. Até alguns imprevistos aconteciam entre as crianças mais levadas e desobedientes a exemplo de pequenas ferpas, espinhos ou minúsculas pedrinhas que se aglomerava entre a areia muito fina. Observava-se uma sadia convivência no relacionamento das famílias, amigos e da própria pequena sociedade em si. Muita pureza, ausência de maldade, criminalidade, malícia, sexualidade, drogas... Reinava muita paz interiorana, embora já se soubesse de tantos desvios sociais dos grandes antros, porém, tudo muito distante desta vida prazerosa e feliz. Quando se chegava ao cume do ABACAXIZEIRO, havia muita admiração pelo esmero plantio e muitos cuidados, embora conscientes de ser um produto de poucos requintes para o seu trato e desenvolvimento. Muitos dos proprietários rurais eram já familiarizados aos visitantes, na qualidade de parentescos como irmãos, sobrinhos, primos, afilhados ou simplesmente velhos amigos ou conhecidos. Eram recolhidos para dentro, recebendo todas as cortesias: assuntos diversos, notícias da cidadezinha, velhos amigos falecidos durante aqueles últimos dias, muitas vezes até o propósito daquela visita, convite de casamento do filho ou filha, que era formulado muito verbalmente, não tinham ainda os recursos dos convites à base da imprensa. E, entre um e outro assunto, saiam os petiscos que gentilmente eram oferecidos: chás, café das comadres; nada mais era aquele “passadinho na hora”, doces, bolos, bolachas, não poderia faltar o valioso e apetitoso suco de abacaxi, mesmo sem gelo, porque geladeira ainda não existia, tão menos, energia elétrica. Eles (abacaxis) eram ralados, depois colocados na água pura e potável das minas, em seguida bem chocalhado, coado em pano, brim cru de sacaria e servido em canecas transformadas de embalagens de gêneros diversos, com solda de suas asas. Nada de vidro e etiquetado existia! Na saída destas visitas, ninguém saia sem levar um ABAXAXI, o mais bem escolhido, prontinho para ser consumido através do paladar bem doce. Os proprietários daquela época, lá resolveram marcar aquela religião, através de sua fé, predominada pelo catolicismo. Edificaram em conjunto uma CAPELA, que era chamada de SANTA CRUZ. Primeiramente, simplesmente, uma SANTA CRUZ, sem a escolha de um patrono em nome de um SANTO. Ela ficou popularmente conhecida por SANTA CRUZ DO ABACAXI. Se antes a região do ABACAXI era muito disputada para as visitas informais, agora passou a ter um objetivo maior, principalmente pela nova existência da igrejinha. Começou atrair o povo, voltado à fé, aos beatos que comumente iam celebrar terços ou rezas. De um a outro culto de adoração da SANTA CRUZ DO ABACAXI, tornou-se tradicional os terços mensais, em todo dia três de cada mês. Era uma multidão que para lá se dirigia. Por ser à noite os trilhos que conduziam àquela região eram iluminados por lampiões, velas e até lamparinas. Uma verdadeira peregrinação de fé, uma procissão mensal aguardada por grande parte da população. A cada terço mensal era escolhido um FESTEIRO. Ele sorteado após o término das orações. Cada participante, adulto ou criança, colocava-se em um saquinho de pano, o seu nome, e a expectativa do desejo de ser premiado como FESTEIRO era grande, uma atração Acreditava-se ganhar uma graça por ter sido sorteado. Numa destas vezes foi sorteado como FESTEIRO, ZÉ DA BOTA, apelidado assim por usar constantemente BOTAS elegantes, de bom gosto, variadas... compradas constantemente por seu pai. Ele, ainda muito criança, com oito anos de idade, já revelava dotes de um grande cristão, praticante do catolicismo, onde no papel do FESTEIRO DO MÊS foi coincidido o dom de que lhe era peculiar como uma criança religiosa; exercia a função de coroinha das missas da única matriz da cidade. Ao FESTEIRO DO MÊS cabia lavar a SANTA CRUZ, arrumar o humilde altar, enfim deixar o ambiente preparado para o culto do terço que acontecia todos os “terceiros dias” de cada mês às vinte horas. E, ZÉ DA BOTA, com esmero arrumou a capelinha daquele mês de junho. Sua mãe confeccionou uma linda toalha branca com bainhas de renda de algodão. Foram levadas belas flores, cultivadas nos canteiros da própria casa do FESTEIRO, por sua avó materna. Vasos de cerâmica vermelha foram levados bem floridos como detalhes da arrumação. A SANTA CRUZ DO ABACAXI ficou muito linda! Também cabia ao FESTEIRO DO MÊS servir biscoitos, bolachas, bolos... tudo regado com licores. Durante a realização daquela liturgia através do tradicional terço, o FESTEIRO segurava a CRUZ do pequeno altar e tinha o seu papel de destaque bem à frente do rezador. Nesse festivo dia com exceção, ZÉ DA BOTA não segurou a CRUZ porque ele próprio foi o PUXADOR DO TERÇO, já numa tenra idade mostrava o seu dom de beato santeiro. Uma vez por ano, os proprietários agrícolas daquela região do ABACAXIZEIRO promoviam uma grande festa com celebração de missa, quermesse com leilões de bovinos, suínos, caprinos e aves. E assim naquele pedaço de uma terra bem interiorana ficou por décadas presa às grandes tradições, marcando uma época muito feliz, tanto como meio dos elos de amizade, solidariedade, companheirismo, comunicação, devoção, caridade, campanhas filantrópicas e principalmente uma família interiorana como exemplo de uma imensa união fraterna. Mais tarde o ABACAXIZEIRO foi trocado pelo progresso. Passou a ser um grande bairro, conservando a presença de famílias humildes e devotas. Tornou-se um centro urbano até mesmo, industrial. Trouxe empregos, estabilidades de sobrevivência às famílias, ali inseridas. Denota-se um núcleo populacional crescente, evoluído, preparado para as novas gerações. A CAPELA tendo como patrono a figura marcante de SÃO LÁZARO que para os tradicionalistas fundadores de uma comunidade ainda preservam suas tradições remotas... sempre será SANTA CRUZ DO ABACAXI, porque ela faz parte da saudade de um povo acolhedor interiorano.
CONTO RELIGIOSO-CAUSOS-
PASSARELA DE CONTOS
Autor do conto e ilustração-Foto-(CASA DE DEUS):
Rodolfo Antonio de Gaspari -Roangas-
Na direção oeste da pequena AREIAS DO OESTE, há muitos e muitos anos passados, muito distante do povoado, haviam campos bem fechados. Denominavam como a região do ABACAXIZEIRO. Solo propício, arenoso para este plantio. E, para se chegar ao ponto desta plantação, deveria andar por quilômetros. Sim, tinham alguns habitantes ou principalmente agricultores que preenchiam aquela região. Por trilhos, rodeados de fortes campos que iam adentrando mato adentro, até que se atingisse a cultura dos ABACAXIS. Para que não se perdesse o caminho, saindo da cidade, aliás, cidadezinha, tomava-se rumo pela Rua dos Abacaxis, para se atingir o ABACAXIZEIRO. Dizia-se que esta fruta era de boa qualidade; os bem amarelos, embora fosse menos preferido os de polpa branca. Mas, atraia o povo, tanto para as compras e mais ainda, pelo lazer, comum, de se caminhar entre os campos e matas, uma vez que naquela época não haviam outros recursos para os entretenimentos dos dias de folga das pessoas da cidade. Pela própria constituição do solo, esta região também era conhecida como AREIA BRANCA. Realmente, quando se atingia as proximidades dos ABACAXIS, pisava-se em macias areias, quase a exemplo de praia, bem finas, branquinhas, dando para os pés afundarem-se no meio delas. Tanto que, quem viesse depois, percebia que pela frente, já tinham outros transeuntes, pelas pegadas dos rastros humanos e até de animais, como cavalos e cães. Era uma grande atração caminhar por aqueles lados. Mulheres, mais precisamente, as jovens colhiam flores campestres de variadas cores. Como dito popular as mais idosas preferiam as lilases e amarelas; ofereciam aos seus oratórios, comum por existirem nos quartos dos casais de todos os lares. Aquelas na busca de um parceiro preferiam as de cores brancas, achavam ir ao encontro de bons presságios para atraírem os seus cupidos. Felizes eram aquelas que conseguissem a raridade dos lírios do campo, espécie mais duradoura, devido aos seus fortalecidos troncos. E a caminho de AREIA BRANCA ou do ABACAXIZEIRO, muitas famílias iam nos seus finais de semana ou feriados! Os infantis ficavam felizes e convidavam os mais próximos coleguinhas, quando se programava este passeio; muitas mães se responsabilizavam pelos filhos vizinhos, mais chegados. E tudo era bem idealizado, como se fosse realizar um verdadeiro piquenique: lanches, doces, sucos, bolos... eram uma festa ao ar livre para este percurso. Até alguns imprevistos aconteciam entre as crianças mais levadas e desobedientes a exemplo de pequenas ferpas, espinhos ou minúsculas pedrinhas que se aglomerava entre a areia muito fina. Observava-se uma sadia convivência no relacionamento das famílias, amigos e da própria pequena sociedade em si. Muita pureza, ausência de maldade, criminalidade, malícia, sexualidade, drogas... Reinava muita paz interiorana, embora já se soubesse de tantos desvios sociais dos grandes antros, porém, tudo muito distante desta vida prazerosa e feliz. Quando se chegava ao cume do ABACAXIZEIRO, havia muita admiração pelo esmero plantio e muitos cuidados, embora conscientes de ser um produto de poucos requintes para o seu trato e desenvolvimento. Muitos dos proprietários rurais eram já familiarizados aos visitantes, na qualidade de parentescos como irmãos, sobrinhos, primos, afilhados ou simplesmente velhos amigos ou conhecidos. Eram recolhidos para dentro, recebendo todas as cortesias: assuntos diversos, notícias da cidadezinha, velhos amigos falecidos durante aqueles últimos dias, muitas vezes até o propósito daquela visita, convite de casamento do filho ou filha, que era formulado muito verbalmente, não tinham ainda os recursos dos convites à base da imprensa. E, entre um e outro assunto, saiam os petiscos que gentilmente eram oferecidos: chás, café das comadres; nada mais era aquele “passadinho na hora”, doces, bolos, bolachas, não poderia faltar o valioso e apetitoso suco de abacaxi, mesmo sem gelo, porque geladeira ainda não existia, tão menos, energia elétrica. Eles (abacaxis) eram ralados, depois colocados na água pura e potável das minas, em seguida bem chocalhado, coado em pano, brim cru de sacaria e servido em canecas transformadas de embalagens de gêneros diversos, com solda de suas asas. Nada de vidro e etiquetado existia! Na saída destas visitas, ninguém saia sem levar um ABAXAXI, o mais bem escolhido, prontinho para ser consumido através do paladar bem doce. Os proprietários daquela época, lá resolveram marcar aquela religião, através de sua fé, predominada pelo catolicismo. Edificaram em conjunto uma CAPELA, que era chamada de SANTA CRUZ. Primeiramente, simplesmente, uma SANTA CRUZ, sem a escolha de um patrono em nome de um SANTO. Ela ficou popularmente conhecida por SANTA CRUZ DO ABACAXI. Se antes a região do ABACAXI era muito disputada para as visitas informais, agora passou a ter um objetivo maior, principalmente pela nova existência da igrejinha. Começou atrair o povo, voltado à fé, aos beatos que comumente iam celebrar terços ou rezas. De um a outro culto de adoração da SANTA CRUZ DO ABACAXI, tornou-se tradicional os terços mensais, em todo dia três de cada mês. Era uma multidão que para lá se dirigia. Por ser à noite os trilhos que conduziam àquela região eram iluminados por lampiões, velas e até lamparinas. Uma verdadeira peregrinação de fé, uma procissão mensal aguardada por grande parte da população. A cada terço mensal era escolhido um FESTEIRO. Ele sorteado após o término das orações. Cada participante, adulto ou criança, colocava-se em um saquinho de pano, o seu nome, e a expectativa do desejo de ser premiado como FESTEIRO era grande, uma atração Acreditava-se ganhar uma graça por ter sido sorteado. Numa destas vezes foi sorteado como FESTEIRO, ZÉ DA BOTA, apelidado assim por usar constantemente BOTAS elegantes, de bom gosto, variadas... compradas constantemente por seu pai. Ele, ainda muito criança, com oito anos de idade, já revelava dotes de um grande cristão, praticante do catolicismo, onde no papel do FESTEIRO DO MÊS foi coincidido o dom de que lhe era peculiar como uma criança religiosa; exercia a função de coroinha das missas da única matriz da cidade. Ao FESTEIRO DO MÊS cabia lavar a SANTA CRUZ, arrumar o humilde altar, enfim deixar o ambiente preparado para o culto do terço que acontecia todos os “terceiros dias” de cada mês às vinte horas. E, ZÉ DA BOTA, com esmero arrumou a capelinha daquele mês de junho. Sua mãe confeccionou uma linda toalha branca com bainhas de renda de algodão. Foram levadas belas flores, cultivadas nos canteiros da própria casa do FESTEIRO, por sua avó materna. Vasos de cerâmica vermelha foram levados bem floridos como detalhes da arrumação. A SANTA CRUZ DO ABACAXI ficou muito linda! Também cabia ao FESTEIRO DO MÊS servir biscoitos, bolachas, bolos... tudo regado com licores. Durante a realização daquela liturgia através do tradicional terço, o FESTEIRO segurava a CRUZ do pequeno altar e tinha o seu papel de destaque bem à frente do rezador. Nesse festivo dia com exceção, ZÉ DA BOTA não segurou a CRUZ porque ele próprio foi o PUXADOR DO TERÇO, já numa tenra idade mostrava o seu dom de beato santeiro. Uma vez por ano, os proprietários agrícolas daquela região do ABACAXIZEIRO promoviam uma grande festa com celebração de missa, quermesse com leilões de bovinos, suínos, caprinos e aves. E assim naquele pedaço de uma terra bem interiorana ficou por décadas presa às grandes tradições, marcando uma época muito feliz, tanto como meio dos elos de amizade, solidariedade, companheirismo, comunicação, devoção, caridade, campanhas filantrópicas e principalmente uma família interiorana como exemplo de uma imensa união fraterna. Mais tarde o ABACAXIZEIRO foi trocado pelo progresso. Passou a ser um grande bairro, conservando a presença de famílias humildes e devotas. Tornou-se um centro urbano até mesmo, industrial. Trouxe empregos, estabilidades de sobrevivência às famílias, ali inseridas. Denota-se um núcleo populacional crescente, evoluído, preparado para as novas gerações. A CAPELA tendo como patrono a figura marcante de SÃO LÁZARO que para os tradicionalistas fundadores de uma comunidade ainda preservam suas tradições remotas... sempre será SANTA CRUZ DO ABACAXI, porque ela faz parte da saudade de um povo acolhedor interiorano.
CONTO RELIGIOSO-CAUSOS-
PASSARELA DE CONTOS
Autor do conto e ilustração-Foto-(CASA DE DEUS):
Rodolfo Antonio de Gaspari -Roangas-