Moça atrapalhada

Adolescente apaixonada, passeando com o amado no final de semana encantador. Passaram horas na lanchonete. Conversa vai, conversa vem, até que eles tiveram que ir embora. Já estava fechando. Saíram caminhando pela calçada, de mãos dadas, satisfeitos com o delicioso lanche e pelas horas de conversas românticas, quando de repente ela pára. Dá um ligeiro tranco no amado e se escabela: - Cadê? - Cadê?

Ele assustado: - Cadê o quê? Ela voltou-se rapidamente à lanchonete a tempo ainda de estar aberta. Por sorte estava. O amado veio logo atrás, então ela chamou o garçom pedindo uma ajuda. – Moço, me ajuda a procurar um óculos. Estava aqui na mesa. O garçom tinha acabado de limpar as mesas daquele ambiente e não tinha visto nada. Perguntou para os outros garçons se tinham visto um óculos marrom em cima de alguma mesa... Nada!

Ela, se conformando da perda dos óculos, deixou o número do telefone caso alguém encontrasse ou se outro cliente tivesse levado por engano.

Indo pra casa, frustrada, o amado perguntando, mas qual óculos? Ela respondeu, o meu. È que não gosto de comer com os óculos, então eu tirei e coloquei sobre a mesa.

Discretamente, ele parou a moça e perguntou: - não seria esse que está no seu rosto?

Imaginem a vergonha!

Passaram-se alguns anos, a modernidade chegou, as lentes de contato apareceram e logo a adolescente passou a ser uma jovem. Resolveu comprar a sua primeira lente de contato, imaginem... Era o sonho de muita gente. Ela comprou. Demorou um certo tempo pra se acostumar com o tira e põe. Num belo dia, acordou pela manhã, no mesmo ritual de sempre. Não tinha como ser diferente, afinal, eram cinco pessoas pra usar um único banheiro no mesmo horário. Se ela não levantasse naquele exato momento ou perdia a sua vez, ou atrasava os outros. Geralmente era assim: a caçula, que gostava de tomar banho antes de sair, acordava às 5:30 da manhã. Ninguém a perturbava no seu longo e demorado banho. Também, quem é que queria acordar àquela hora. Às 6:00 acordava a mãe, o pai, e as outras duas irmãs. A mãe ia por último, cedia a vez para quem tinha horário, afinal, ela só ia fazer o café e depois tinha o tempo que quisesse. O pai era o mais rápido. Nunca vi. Até duvidávamos se realmente tinha tomado banho, escovado os dentes. Mas pensando bem, acho que ele sabia quem pagava as contas.

Depois ia a filha mais velha, aquela adolescente que agora já era jovem. Pois bem, ela sempre foi rápida também, mas agora tinha as lentes de contado. A irmã do meio deixava pra ir ao banheiro só na hora que os demais já estavam todos no carro, gritando e buzinando: - vamos logo!

A jovem teve que rever seu tempo. Afinal, nem conseguia abrir os olhos direto de tanto sono e ainda enfiar as lentes de contato. Não era bolinho não! O tempo passou, a habilidade foi crescendo, até que numa bela manhã a jovem tomou seu banho, escovou os dentes, colocou a lente no olho esquerdo, foi colocar a outro no olho direito e cadê? Cadê a lente de contato do olho direito? A jovem vai apalpando a pia, abaixa pra ver o reflexo da luz na pia e nada. E a outra irmã batendo na porta: - Vai logo!

- Já to indo! Retrucava a jovem trancada no banheiro, e nem poderia abrir, porque correria o perigo da lente ter caído no chão, e a irmã pisar. Tinha esse problema ainda. Mas não conseguiu achar. Teve que abrir a porta e pedir ajuda. Já tinha até se conformado de colocar os óculos mesmo, mas antes, tinha que achar a lente. Chamou a mãe, as irmãs, mas ela permanecia imóvel, estática dentro do banheiro e dando as regras para as outras, pois ninguém poderia entrar, teria que ajudar da porta. Resultado: Ninguém achou. Ela se conformou de usar os óculos por mais um belo tempo, afinal não iria comprar mesmo lentes novas. E o pessoal perdendo hora. Ainda tinha mais uma irmã para usar o banheiro.

Ela tirou a lente do olho esquerdo e para sua surpresa, saíram duas lentes de um só olho.

Discretamente, guardou e ficou quietinha. Se contasse acho que até apanharia na hora.

Mas isso não é nada comparado ao que aconteceu em uma outra ocasião. Pra terminar...

Teve um dia que ela chegou em casa e, pra variar, procurava a chave da porta pra entrar. Começa a tocar o telefone. Não tinha ninguém em casa. E procurando na pequena bolsa de mulher, tirando tudo e mais um pouco e nada da chave. Aquele telefone berrando dentro de casa, trancado. Finalmente ela consegue entrar e, no escuro mesmo, corre até o telefone, que era uma linha reta. Ela atendeu. Era uma amiga, mas como não conseguia escutar direito, de tanto barulho do outro lado da linha, disse: - só um momento. Vou ascender a luz!

Elô Bocaiuva Santos
Enviado por Elô Bocaiuva Santos em 18/10/2009
Código do texto: T1873297