AGÕUROS DE ACAUÃ
AGÕURO DE ACAUÃ
Naquela tarde quando tudo parecia transcorrer com normalidade, a acauã começou sua cantoria bem ali, pertinho, à margem do córrego, no alto da mandioqueira.
Joana que imaginara estar livre dos agouros da maldita ave sentiu um calafrio horrível, elevou seu pensamento a Deus, em busca de proteção. Nas perdas de seus entes queridos, ocorridas nos últimos tempos, todas, ocorreram após os agouros daquela maldita ave de rapina. Aquele cântico era certeza de maus presságios, entristecendo-a profundamente. Mesmo nos intervalos quando o pássaro descansava a garganta seu cântico martelava sua imaginação: morte cruel.... Morte cruel!
Seu marido que ausentara em missão de trabalho, era seu único refúgio em situações de apuros. Ansiosa, Ela aguardava sozinha seu retorno. - E depois daquele aviso, não seria ele a próxima vitima? Onde estaria seu companheiro? Como gastaria ela, de respostas para tanta duvida em seu subconsciente!
Visualizando mentalmente várias tragédias que poderiam estar ocorrendo, ela o via, ora sendo arrastado pelo cavalo, ora sendo colocado em sua sela, pelos colegas, cheio de hematomas e escoriações.
Enquanto tragicamente, seu imaginário se debatia tentando afastar a angustia; mergulhava no horizonte, em mais um ocaso... O astro rei! E as sombras da noite aos poucos foram tomando de assalto à face da terra. Os gritos da acauã se alongando noite afora pelas vertentes e encostas no meio da escuridão.
Em pânico, Joana tentava desviar seu pensamento, numa viagem retroativa ao passado, procurando refugiar nos bons momentos que tivera. Mas, o grito morte-cruel martelava sua mente, e ela, retornava ao trágico imaginário martirizando-se.
Um intenso nevoeiro, como se, um manto negro, cobriu o céu, aumentando a escuridão. Próximo ao seu leito sobre a mesa, vários objetos desenhavam na parede, formas estranhas, provocadas pela chama da lamparina a querosene, que oscilava impulsionada pelo vento. Que penetrando nas frestas do telhado, atirava sobre os móveis, os fragmentos acumulados ao longo da intermitente seca. - Com certeza... Aquela seria a mais longa noite de sua vida. La fora o vento assoviava varrendo o pó da terra.
Além do cansaço físico o mental também contribuiu roubando-lhe o sono. Em fim pela madrugada apesar do sobre salto, ela conseguiu adormecer. Pela manhã ao despertar após o curto sono que tivera, percebeu-se que o período de estiagem chegara ao fim. Em oração ela louva e agradece ao criador pela chuva, que caia mansa e copiosa. A enxurrada rolando entre as pedras do riacho parecia cantar em harmonia com a natureza, derramando suas lágrimas cristalinas saciando a terra seca.
Saltando do leito, em poucos minutos, subia em riste pela chaminé a fumaça branca, mandada por ela ao preparar o café... De encontro ao infinito como numa prece ao criador.
O Aroma do café adoçado com rapadura espalhou convidativo pela casa, complementando a singularidade do cenário. Por momentos fizera ela, esquecer, o mau pressentimento do dia anterior.
Alguns minutos se passaram, um tropel de cavalo se aproxima cada vez mais pela trilha lamacenta que dava acesso a residência. Era o marido chegando são e salvo, Nada de errado aconteceu.
Tranqüila e aliviada ela compreende que os gritos da acauã eram apenas um recado da natureza avisando que a temporada das chuvas chegou. Com a terra entrando no ciclo reprodutivo, e as espécies silvestres, entrando no cio, construindo seus ninhos, para sua reprodução e preservação... Da raça.