O SÓSIA

O SÓSIA

Recolhendo seus raios, o sol mergulhou no horizonte, cedendo lugar ao sino da igrejinha, com suas badaladas anunciando a Ave Maria.

Seu Braga, com a féria sobre o balcão, contabilizava o faturamento do dia. Justina sua esposa, preparava-se para baixar a ultima porta do armazém ainda aberta. Entrando mais um cliente: -- desculpe-me seu Braga se estou atrasado, mas meu dia hoje foi um martírio. Deu tudo errado!

-Colocando a cesta de ovos sobre o balcão, Fernando, ofegante enxugou o suor do rosto na fralda da camisa, e respirou fundo.

Calmamente o comerciante pergunta: - e os queijos por que não vieram? – Ah seu Braga nem te conto! Estava eu quase na metade do caminho, a carroça soltou a roda e por pouco não me ocorreu uma tragédia daquelas... Voltei para levar meu burrico,quando retornei só entrei a cesta de ovos, dos queijos nem rastros, me levaram todos. Logo hoje que precisava levar umas sacas de sal.... Minhas vaquinhas já estão roendo o chão debaixo do coxo faz dias que não ingerem sal.-- Quanto aos queijos lamento por você; o sal pode levar quantas sacas quiser!

– O problema é a carroça, mas já que o senhor me dá crédito, pelo menos uma eu levarei! Desconte o valor dos ovos e pra semana eu acerto, pode ser? – Perfeitamente.... Mas levar como? São sessenta quilos! – Ara no ombro uê! -Filho são quatro quilômetros você não vai resistir! –Pra casa seu Braga todos os Santos ajudam, eu levo qualquer carga! – Acho difícil, mas o cliente manda, o amigo obedece! Só tem um porem... Sabe aquele teatro que te falei que haveríamos de assistir juntos? Hoje é sua ultima apresentação aqui na Vila, e faço questão que me acompanhe, é meu convidado de honra!

Fernando tinha a mesma idade e a aparência, de um filho do comerciante que fora barbaramente assassinado. Isso despertava nele, um grande carinho e afeição pelo cliente e fornecedor.

Embora o camponês relutasse na recusa, não teve como fugir ao convite. Há tempos percebera que seu Braga via nele a semelhança do filho demonstrando – lhe um grande carinho. Estava sempre procurando agradá-lo, puxando conversa.

Dirigiram-se para o grupo escolar, assistiram juntos ao espetáculo, quando retornaram, já passava da meia noite. Os galos cantavam anunciando a madrugada. Seu Braga tentou de certa forma o pernoite do amigo em sua residência. Ele justificou a preocupação dos com sua ausência, e ajudado pelo amigo colocou nas costas a saca de sal, e partiu. A ruela que dava acesso ao armazém atravessava a vila passando pelo centro, onde se localizava a igrejinha. Chegando lá Fernando notou que havia certa celebração. Desceu a saca de sal e participou do culto. Ao término ficou bastante surpreso, imaginando como poderia um oráculo tão pequeno, comportar a multidão que de lá saiu. Tentou de todas as formas, reconhecer alguém, mas foi impossível... Todos estranhos. Aproximando de um senhor de meia iadde, pediu-lhe: -- moço, por favor, quer ter a gentileza de ajudar-me colocar esta saca sobre os ombros?

--Olha filho, sinto muito... Morri de diarréia estou numa fraqueza enorme! Está vendo aquele moço do outro lado... Aquele parecido com você... Filho do seu Braga... Peça a ele que morreu assassinado e está com a força toda!

Antes mesmo, de o defunto terminar sua recomendação, Fernando dobrou a saca nas costas e em poucos minutos estava esmurrando a porta de sua casa aos berros gritando pelos pais.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 13/10/2009
Código do texto: T1864037
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