A PRENDA TUA E O RIO GRANDE MISSIONEIRO


        SÃO MIGUEL DAS MISSÕES
 
Nossa terra é muito rica em lendas, parte tão significativa do folclore e da cultura de um povo, que muitas vezes confundem-se com a própria história.

São Miguel, a capital dos Sete Povos das Missões, reduções jesuíticas distribuídas pelo noroeste do estado do Rio Grande do Sul, Argentina e Paraguai, foi fundada por padres jesuítas, a serviço de um amplo projeto de catequização dos povos indígenas da Bacia do Prata. Lá viveu Sepé Tiaraju.
 
Sepé era um índio valente e bom, nascido na Redução de São Luiz Gonzaga. Órfão de pai e mãe, foi adotado pelos padres jesuítas da Companhia de Jesus e transferido para a Redução de São Miguel Arcanjo, onde possivelmente foi tratado de uma escarlatina que lhe deixou uma vistosa cicatriz na testa.
Muito lutou contra os estrangeiros,  em defesa  dos Sete Povos da Missões. Ele era uma espécie de administrador na paz e foi o bravíssimo general na Guerra Guaranítica (1753-1756).
 
O filme britânico The Mission, ou A Missão (1986), dirigido por Rolland Joffé, com os atores Robert de Niro e Jeremy Irons, retrata este período de nossa história.

Pois bem, conta a lenda que o chefe guarani das reduções tinha sido predestinado por Deus e São Miguel, por ter nascido com um lunar na testa. Na escuridão das noites do pampa ou em pleno combate, o Lunar de Sepé brilhava, guiando os soldados missioneiros.
Numa escaramuça em Caiboaté, hoje interior do município de São Gabriel-RS, bradando aos quatro ventos "Esta Terra tem Dono!", Sepé foi ferido por uma lança inimiga. Caiu do cavalo e, antes que pudesse levantar-se, levou um tiro certeiro. Morreu aos 7 de fevereiro de 1756.

Pois, foi no momento em que o espírito separou-se do corpo do guerreiro, que Deus Nosso Senhor retirou da testa do índio o lunar que ele trazia na fronte, colocando-o, em seguida, lá no alto do céu do pampa gaúcho, onde está guiando a todos que aqui passam.
O Lunar de Sepé é a constelação do Cruzeiro do Sul.

Ainda agora, nas noites de escuridão, Sepé ilumina as ruínas com o mais intenso brilho do Cruzeiro e feliz será o visitante atento que ouvir o tropel do seu cavalo rondando as coxilhas. 
 
Nas Missões, presente e passado se reconciliam.
O mundo nativo está vivo na aldeia, onde moram os índios herdeiros daquele tempo e também do mais ilustre chefe guerreiro guarani, o índio missioneiro Sepé.

Os vestígios arqueológicos e arquitetônicos da Redução de São Miguel Arcanjo foram reconhecidos pela UNESCO em 1983 como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade.
O antigo templo, chamado de Ruínas, teve um projeto arquitetônico diferente das demais igrejas missioneiras e foi praticamente o que sobrou em pé. Sua visão é de grandiosidade ímpar e faz parte das melhores rotas de turismo cultural do mundo.

Hoje, nas Ruínas de São Miguel, as noites são iluminadas por espetáculos de luz e som que contam a saga de amor e dor do Rio Grande Missioneiro. Ao redor das Ruínas, os campos são um convite a caminhadas e cavalgadas, por caminhos e trilhas que conduzem ao encontro da Terra Sem Males.

Terra Sem Males era como os índios Tupis e Guaranis denominaram o lugar onde acreditavam ser a morada dos mortos, acessível aos vivos, sendo possível atingi-la de corpo e alma. Hoje é palco de peregrinações e profundas experiências de fé.
Na pacata São Miguel, temos o Museu das Missões e o Cemitério Indígena que abrigam ricos vestígios daquela época.

No Rio Grande, ainda há muita história e lendas, que a Prenda Tua um dia vai contar. Cada coisa que acontece na vida da gente, quem diria que a Prenda contaria história para marmanjos...




N.A.
Lunar - Sinal no corpo, atribuído à influência da lua.

 
 
 
 
Tânia Alvariz
Enviado por Tânia Alvariz em 07/10/2009
Reeditado em 07/10/2009
Código do texto: T1853225
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