GRÃO DE AREI A RREPENDIDO

GRÃO DE AREIA ARREPENDIDO



No riacho que cortava a periferia da grande metrópole, os lambaris tentavam sobreviver no meio da podriqueira causada pela enorme quantidade de dejetos despejados pelos esgotos da cidade.
Vez por outra ocorria grande mortandade de peixes provocada pelos poluentes químicos ali atirados.
Idêntica situação ocorria na cidade, com suas ruas abarrotadas de crianças abandonadas, disputando no lixo os restos de comida e migalhas de pão velho nele atirados. Enquanto isto, preocupados com c.p.is. Poderosos políticos investigavam de quem era o maior rombo, aos cofres públicos.
No fundo do riacho deitado sobre uma alga morta em decomposição, um pequeno grão chorava inconsolável lamentando sua sorte. Julgando-se um ser imprestável.
Seu pranto chegava dar uma coloração diferente a aquela água imunda. Aos poucos um pequeno núcleo de colegas, indiferente a sua dor se formou ao seu redor. Cada um contava sua aventura, como chegou até ali. Quanto mais estórias, maior era o pranto daquele pequeno grão.
Alguns afirmavam terem sustentado grandes estruturas das casas demolidas que deram lugar aos grandes edifícios. Outros diziam ter pertencido a estábulos, mas que não gostaram nada quando os animais atiravam-lhe os excrementos pelas fuças. A cada estória narrada, maior era o lamento do pequeno grão. Em fim, chegou um colega todo colorido, esnobando grandeza, dizendo ter pertencido, há um arranjo de flores de uma rica e culta bióloga. Afirmando ter participado de muitos eventos, festas requintadas etc. e tal.
Aquele, apesar de metido tinha bom coração, compadecido do colega disse-lhe ser todo ouvido, e que o mesmo poderia desabafar em seu ombro, contando-lhe sua mágoa. Encorajado o grãozinho enxugou seu pranto e começou sua narrativa dizendo: -- eu vivia feliz e com muita expectativa em grande e caudaloso manancial de águas puras e cristalinas. Um verdadeiro paraíso. Até o dia que fui dragado por uma máquina enorme e levado para um depósito de materiais de construção. Lá através das negociações dos consumidores tomei conhecimento do massacre que sofremos sufocados pelo cimento. Alguns dias se passaram fui transportado para uma grande obra social. Apavorado tentei me livrar daquela situação. Quando meus milhões de colegas e eu fomos basculhados, aprovetando o impacto, escondi em uma pequena touceira de capim. Dali acompanhando o desenrolar da obra conheci a beleza da mobilização popular em prol do bem comum. Quando percebi, que ali, estava sendo construído um abrigo para acolher menores abandonados. Encantei-me, com a grandeza da solidariedade humana através da força e da união. Em pouco tempo a obra, que antes era apenas um sonho, se tornou realidade. Na chegada dos primeiros beneficiados pelo projeto começou meu tormento, e o remorso apoderou-se de mim, desejoso em tomar parte daquela instituição esbocei ao máximo, mas a enxada que puxava meus colegas não me alcançou.
Quando marcaram a data da inauguração fiquei desesperado, mas ninguém me ajudou. O Maximo que consegui foi um jato d’água que atiraram em minha direção quando fizeram a limpeza. Embarcado nele vim parar aqui neste local imundo. Agora só remorso e tomento que carrego na alma sem poder reparar minha omissão.
Naquele momento, mais um grande volume de dejetos desceu dos esgotos levando o grãozinho de área e milhares de seus colegas. E juntos foram para um banco de areia na desembocadura do riacho, onde puderam reparar o erro do grãozinho arrependido, retendo a imundice do lixo aquático, purificando a água.
“Sejamos também nós... como grãos de areia que unidos poderão sustentar grandes estruturas em beneficio da humanidade...!”
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 27/09/2009
Reeditado em 08/02/2014
Código do texto: T1834670
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