Eu ví a ponte de ITAPUÍ!
Parece incrível, mas eu vi a Ponte submersa de Itapuí!
Em visita “caminhada” que efetuei as pacatas e aconchegantes cidades do Centro-oeste do Estado de São Paulo, Boracéia e Itapuí, com direito a travessia do limpo Rio Tietê, utilizando os “préstimos” de um “ferry-boat”, que de meia em meia hora transporta veículos de “qualquer monta” de Boracéia para Itapuí e vice-versa, acabei “aportando” na pequena rodoviária de Itapuí.
Tinha como principal finalidade, conseguir uma condução que me levasse de volta à cidade de Pederneiras, local de origem de onde eu havia empreendido a minha caminhada até aquele local (foram aproximadamente 28 km de marcha …).
“Aportei” na “pequena e humilde” lanchonete por lá instalada e primeiramente em pedido informal, solicitei um refrigerante (a constante Tubaina, que impera nestas cidadezinhas do interior … ) e “entabulei” breve conversa com a proprietária da “instalação” (que posteriormente vim a saber se chamar Amanda … não perdi a oportunidade e brinquei indagando se o seu nome foi oriundo de uma homenagem à filha do falecido cantor Antonio Marcos com a também cantora Vanusa …)!
“En passant” comentei com a mesma sobre a epopéia enfrentada com a caminhada empreendida até o local e num repente o diálogo transformou-se em uma míni conferência com inserção de mais dois “assiduos freqüentadores do local” no bate-papo!
Esta “interferência” merece um capítulo à parte nestas minhas citações!
Um dos “envolvidos” nesta interferência, uma figura sui generis no que diz respeito à aparência física: franzino, pele “curtida e queimada pelo sol” e “totalmente alcoolizado”. Porém, apesar de seu alto teor etílico, conseguia, não sem alguma dificuldade, comunicar-se a contento. Em principio, dentro do contexto que se havia iniciado aquela minha conversa, demonstrou certo espanto pela caminhada que eu havia empreendido.
Intermediado por apartes efetuados pela Amanda e pelo outro “pau d’água” presente, o “agradável bate-papo” foi evoluindo.
A conversa enveredou, devidamente direcionada por mim, para aspectos julgados relevantes por eles concernentes à cidadezinha. Foi aí que o franzino Araújo (assim o chamava a Amanda …) “se superou”! Iniciou uma descrição de aspectos que, em sua mente de pessoa alcoolizada, estavam registradas e julgavam relevantes. Disse que o rio Tietê era motivo de muita diversão e fonte de alimentação e subsistência de uma grande parcela da população da cidade e que a construção da barragem na cidade vizinha de Bariri havia “acabado” com a alegria de viver de grande parte da mesma!
A Amanda, de vez em quando e “disfarçadamente”, olhava em minha direção e entabulava “ligeiro sorriso” em consonância com os relatos que iam sendo “desenvolvidos” pelo “impagável” Araújo.
Foi quando “a coisa” se desencadeou! Enquanto relatava o que havia ocorrido com o advento da construção da barragem de Bariri, o assunto derivou para a conseqüente submersão havida em uma ponte que ligava a cidade de Itapuí à vizinha cidade de Boracéia. Ao relatar o ocorrido com a ponte, lágrimas abundantes começaram a rolar pela face do Araújo! Fiquei perplexo por alguns instantes com a situação!
De forma solerte, a Amanda interferiu e explicou que isso sempre ocorria quando o “garoto” mencionava a ponte submersa da Itapuí! Ele recordava sua época de infância, juventude … quando exploravam bastante as idas e vindas de uma cidade à outra via ponte de Itapuí!
O Araújo, por seu turno, voz embargada pelo choro incontido que o acometera, tentava prosseguir relatando histórias e estórias ocorridas naqueles áureos tempos que vivera! A Amanda, acredito que já habituada com aquela situação, enveredou pela brincadeira enfatizando que o Araújo havia parado na delegacia por ter pulado nu de cima da ponte para um mergulho no rio!
Aquele rosto choroso, que eu observava de uma forma entre divertida e curiosa, misturava momentos de riso forçado com expressões de sentimento de saudade incontida!
Explicou-se que o advento “nu de cima da ponte” havia ocorrido na remota época de infância do agora “alcoolizado da estação rodoviária de Tatuí” e que, de acordo com a citação “a meio sorriso” do “envolvido”, não havia sido efetivada solitariamente, haja vista alguns outros “amiguinhos” também participarem da aventura. Aos poucos, a situação um tanto quanto constrangedora causada pelo episódio “lágrimas vertentes na face do Araújo” foi sendo superada e prosseguindo no relato, a complementação citou o fato de que foram as mulheres que também se banhavam nas despoluídas águas do rio Tiete (quisera alguns outros locais por onde o rio serpenteia também pudessem usufruir da pureza destas águas …) que “feridas” em seu pudor por este atentado ao mesmo realizado pelos adolescentes, “apelaram” para um socorro miliciano …
De minha parte, o meu inconsciente, teimava em fixar o semblante choroso, olhos marejados, pensamento distante do saudoso Araújo, em perfeita harmonia com o seu despoluído rio Tiete, em perfeita harmonia com áureos tempos de sua infância, adolescência, juventude …
Naquele semblante cansado, naqueles olhos marejados, naquele desabafo humano e apaixonado por suas raízes, por sua cidade, por seu passado, …, por sua vida, EU VÍ A PONTE SUBMERSA DE ITAPUÍ!