Uma Mulher Faladeira
Moradora num lugarejo conhecido por Várzea Comprida, no sertão da Bahia, margem direita do São Francisco, acho que comprida mesmo era a sua língua, pois a mulher não parava de falar. As pessoas que a conheciam procuravam “cortar caminhos” para evitar encontrá-la, principalmente quando tinham muitos afazeres, não podendo ser interrompidas.
Não é que ela fosse uma mulher fofoqueira, era que alongava por demais a conversa, narrando os mínimos detalhes de qualquer ocorrido, deixando o ouvinte na expectativa do final, tal qual uma novela. Sempre com muitos rodeios, era capaz de demorar horas contando causos, achando que seu interlocutor estava disponível para ouvir os seus floreios. O mais interessante era que, quando se imaginava que o assunto estava terminando, ela enfatizava: “sim, mulher, como eu ia dizendo”. E tome repeteco de tudo que já tinha dito, agora com um floreado ainda maior.
Imaginem aquela mulher, nos tempos de hoje, usando o telefone interurbano, como seria útil às companhias telefônicas, se ela tivesse condições de bancar aquela conversa repetitiva. Nos tempos da comunicação moderna, concisa, em função da correria das pessoas, aquela mulher estaria descartada de ser secretária em qualquer empresa privada. Mas, infelizmente, ainda vemos no serviço público pessoas que se comportam como aquela mulher, aumentando a conta que os inocentes contribuintes terão de pagar. Você a contrataria como sua assessora?
Não vale se pensou nela apenas como MULHER.