MULHER DE AMIGO MEU PRA MIM É...
MULHER DE AMIGO MEU PRA MIM É...
MULHER DE AMIGO MEU PRA MIM É...
O volante, recoberto por simulacro de couro; os bancos, forrados com a inconfundível capa negra de nylon; as rodinhas de alumínio, raiadas, e por fim, o adesivo da academia de Trindade. Não tive dúvidas, o golzinho branco seguramente era o do Ferreira!
Nathan Ferreira dos Santos, o Ferreira, é um velho amigo de infância. Ainda hoje, folgazão, prima-se em aplicar nos amigos criativas “pegadinhas” ou coisas do gênero, comemorando, aos risos, indiferente aos pequenos constrangimentos causados.
Casado, não teve filhos; as molecagens que a prole gorada deixou de fazer Ferreira as assumiu.
O tempo passou; nossa amizade não. Visitamo-nos frequentemente.
A profissão de Eletricista não é uma das que enriquece financeiramente o homem, entretanto, dá-me o sustento da família e, de quebra, o prazer de exercê-la.
Em minha pequena oficina atendo a diversas chamadas, desde reparos domiciliares a execução de projetos industriais de pequeno porte.
Hoje, segunda-feira, 10:00 h, o telefone toca. Atendo, e alguém diz algo incompreensível.
--- Motel Danúbio? Pergunto.
--- Sim!... Motel Danúbio!
--- E onde fica?... O endereço! A voz a quem recorria chegava de longe dificultando o entendimento.
--- Rua das Tertúlias... no. 22... saída para Aparecida... perto do Paiol!
O homem que agora gritava da outra ponta da linha, dizia ser o gerente. Detalhou por cima o que ocorrera; escolhi o material pertinente, algumas ferramentas apropriadas e parti.
Não foi difícil localizar o motel. A entrada dava-se por um furtivo portão central, afastado dos limites da construção, inteiramente camuflado por espessas moitas de “bouganvilles” vermelhos e discretas palmeiras. Adentrando-o, chegava-se a um pátio no formato retangular, cujos lados são constituídos por apartamentos germinados, exceto um lado, onde instalaram o setor administrativo e a saída do local. No acesso aos apartamentos, pequenas garagens laterais os antecedem, de forma que, estacionado o veículo, baixa-se um toldo cobrindo-lhe a passagem.
Naquele dia, naquele horário da manhã, no interior do pátio, um silêncio dos cemitérios. Com tamanha tranqüilidade ali, o único casal presente não se preocupara ou esquecera --- na pressa --- de preservar sua intimidade. O toldo protetor não fora baixado e a porta do quarto ficara entreaberta.
Em conseqüência o carro ficara exposto aos olhos dos visitantes, particularmente aos meus; e com todos aqueles determinantes, não tive o menor resquício de dúvida: era o folgazão do Ferreira!
À vista dos fatos, ocorreu-me um primeiro pensamento a respeito: “Nessa, a Norminha dançou!” Já o segundo, induzia-me a devolver ao Ferreira o gosto de uma das suas artes.
Aproximando do golzinho, percebi a porta destravada. Com extremado cuidado abri-a, retirando a frente do som instalado. Meu intuito era devolvê-la no dia seguinte, "curtindo" em particular a cara do malandro.
Feito, segui para realizar o serviço, no qual demorei perto de 1 hora.
Meia hora, além do término do conserto, ainda permaneci camuflado por ali. Gozava da excitação de confirmar a saída do garanhão desgarrado, ao tempo em que a ansiedade da fome me afligia. Venceu a fome. Fui, mas levei comigo o objeto do futuro embaraço do Ferreira.
Transcorridos dois dias, cheguei por lá. Começava o Jornal Nacional. Cumprimentei-o como de costume, perguntando-lhe pelas novidades.
--- Tudo dentro dos conformes!
--- E a Norminha, como vai?
Sem tirar os olhos da telinha, disse: “beleza!” E como estava continuou a seguir a matéria do jornal, com o que passei a acompanhá-lo.
Ao término do jornal, Norminha apareceu. Cumprimentou-me rapidamente. Assim como chegou, afastou-se ressabiada.
--- Rapaz, você me perguntou por novidades... lembrei-me de uma! ...roubaram o som do meu carro, cara!... A mulher passou aqui e lembrei.
--- Roubaram?... Onde?
--- Anteontem. A Norminha disse ter estacionado o carro no Shopping. Ela acha que foi lá; também não tem certeza... por isso nem reclamou.
--- Moço, o negócio tá brabo, hein!... Tão roubando de tudo!
--- Você, por acaso não tem um amigo que vende isso?
--- Tenho não... isso é pra quem mexe com eletrônica, né.
--- Rapaz, eu precisava pegar um ladrão desses!
--- Hora dessa o neguim já vendeu sua peça longe daqui.
--- É verdade.
--- Preciso ir. Levantei-me.
--- Veio buscar fogo, cara?
--- Não. Vim a serviço e passei pra ver vocês.
--- E a turma? Tem visto algum?
--- Só o Zé Bindito.
--- E ele?
--- Tá bem... A Norminha taí dentro?
--- Peraí, vou chamá-la.
Ferreira deixou a sala em direção a cozinha. Pouco depois, ei-lo de volta.
--- ... Mandou te pedir desculpas. Tá na cama com dor de cabeça!
Na volta para Goiânia, estacionei a moto por sobre a ponte do ribeirão das Bruacas, meditando os fatos. As águas corriam céleres em meio do capinzal verde. Retirando a placa de som do bolso, apertei-a delicadamente na mão. Pensava no casal embora não soubesse propriamente o que pensava. Era algo confuso, as imagens atropelavam-se ligeiras impossibilitando-me um juízo. Num repente atirei a placa rumo às águas que, girando sobre si no espaço, levava Ferreira numa ponta e Norminha noutra, indo, assim, até a correnteza os levar e a água os envolver.
Afinal, restava outra saída?
Nathan Ferreira dos Santos, o Ferreira, é um velho amigo de infância. Ainda hoje, folgazão, prima-se em aplicar nos amigos criativas “pegadinhas” ou coisas do gênero, comemorando, aos risos, indiferente aos pequenos constrangimentos causados.
Casado, não teve filhos; as molecagens que a prole gorada deixou de fazer Ferreira as assumiu.
O tempo passou; nossa amizade não. Visitamo-nos frequentemente.
A profissão de Eletricista não é uma das que enriquece financeiramente o homem, entretanto, dá-me o sustento da família e, de quebra, o prazer de exercê-la.
Em minha pequena oficina atendo a diversas chamadas, desde reparos domiciliares a execução de projetos industriais de pequeno porte.
Hoje, segunda-feira, 10:00 h, o telefone toca. Atendo, e alguém diz algo incompreensível.
--- Motel Danúbio? Pergunto.
--- Sim!... Motel Danúbio!
--- E onde fica?... O endereço! A voz a quem recorria chegava de longe dificultando o entendimento.
--- Rua das Tertúlias... no. 22... saída para Aparecida... perto do Paiol!
O homem que agora gritava da outra ponta da linha, dizia ser o gerente. Detalhou por cima o que ocorrera; escolhi o material pertinente, algumas ferramentas apropriadas e parti.
Não foi difícil localizar o motel. A entrada dava-se por um furtivo portão central, afastado dos limites da construção, inteiramente camuflado por espessas moitas de “bouganvilles” vermelhos e discretas palmeiras. Adentrando-o, chegava-se a um pátio no formato retangular, cujos lados são constituídos por apartamentos germinados, exceto um lado, onde instalaram o setor administrativo e a saída do local. No acesso aos apartamentos, pequenas garagens laterais os antecedem, de forma que, estacionado o veículo, baixa-se um toldo cobrindo-lhe a passagem.
Naquele dia, naquele horário da manhã, no interior do pátio, um silêncio dos cemitérios. Com tamanha tranqüilidade ali, o único casal presente não se preocupara ou esquecera --- na pressa --- de preservar sua intimidade. O toldo protetor não fora baixado e a porta do quarto ficara entreaberta.
Em conseqüência o carro ficara exposto aos olhos dos visitantes, particularmente aos meus; e com todos aqueles determinantes, não tive o menor resquício de dúvida: era o folgazão do Ferreira!
À vista dos fatos, ocorreu-me um primeiro pensamento a respeito: “Nessa, a Norminha dançou!” Já o segundo, induzia-me a devolver ao Ferreira o gosto de uma das suas artes.
Aproximando do golzinho, percebi a porta destravada. Com extremado cuidado abri-a, retirando a frente do som instalado. Meu intuito era devolvê-la no dia seguinte, "curtindo" em particular a cara do malandro.
Feito, segui para realizar o serviço, no qual demorei perto de 1 hora.
Meia hora, além do término do conserto, ainda permaneci camuflado por ali. Gozava da excitação de confirmar a saída do garanhão desgarrado, ao tempo em que a ansiedade da fome me afligia. Venceu a fome. Fui, mas levei comigo o objeto do futuro embaraço do Ferreira.
Transcorridos dois dias, cheguei por lá. Começava o Jornal Nacional. Cumprimentei-o como de costume, perguntando-lhe pelas novidades.
--- Tudo dentro dos conformes!
--- E a Norminha, como vai?
Sem tirar os olhos da telinha, disse: “beleza!” E como estava continuou a seguir a matéria do jornal, com o que passei a acompanhá-lo.
Ao término do jornal, Norminha apareceu. Cumprimentou-me rapidamente. Assim como chegou, afastou-se ressabiada.
--- Rapaz, você me perguntou por novidades... lembrei-me de uma! ...roubaram o som do meu carro, cara!... A mulher passou aqui e lembrei.
--- Roubaram?... Onde?
--- Anteontem. A Norminha disse ter estacionado o carro no Shopping. Ela acha que foi lá; também não tem certeza... por isso nem reclamou.
--- Moço, o negócio tá brabo, hein!... Tão roubando de tudo!
--- Você, por acaso não tem um amigo que vende isso?
--- Tenho não... isso é pra quem mexe com eletrônica, né.
--- Rapaz, eu precisava pegar um ladrão desses!
--- Hora dessa o neguim já vendeu sua peça longe daqui.
--- É verdade.
--- Preciso ir. Levantei-me.
--- Veio buscar fogo, cara?
--- Não. Vim a serviço e passei pra ver vocês.
--- E a turma? Tem visto algum?
--- Só o Zé Bindito.
--- E ele?
--- Tá bem... A Norminha taí dentro?
--- Peraí, vou chamá-la.
Ferreira deixou a sala em direção a cozinha. Pouco depois, ei-lo de volta.
--- ... Mandou te pedir desculpas. Tá na cama com dor de cabeça!
Na volta para Goiânia, estacionei a moto por sobre a ponte do ribeirão das Bruacas, meditando os fatos. As águas corriam céleres em meio do capinzal verde. Retirando a placa de som do bolso, apertei-a delicadamente na mão. Pensava no casal embora não soubesse propriamente o que pensava. Era algo confuso, as imagens atropelavam-se ligeiras impossibilitando-me um juízo. Num repente atirei a placa rumo às águas que, girando sobre si no espaço, levava Ferreira numa ponta e Norminha noutra, indo, assim, até a correnteza os levar e a água os envolver.
Afinal, restava outra saída?