O Tamanho da Prole
É verdade que o homem ainda continua sendo um produto do meio. Assim, vale lembrar a história de vida daqueles dois sertanejos, ribeirinhos do São Francisco, amigos de infância, que mais tarde tomaram rumos diferentes. Um deles não arredou o pé do seu torrão natal, ali vivendo até hoje. O outro, ainda adolescente, foi em busca de outras terras, onde pudesse estudar, tendo em vista que ali na roça não ia além do antigo primário.
Na busca de maiores oportunidades, passou por algumas cidades de maior porte, ainda na região do São Francisco, até que numa delas chegou a cursar uma faculdade, adquirindo assim uma melhor visão de progresso. Estudou, trabalhou, constituiu família, percorreu outras cidades e, quase no final de sua trajetória profissional, passou a morar na capital, onde ainda cursou outra faculdade.
Sem esquecer as suas origens, jamais deixou de visitar os seus parentes e amigos de infância, ainda morando naquela região do São Francisco. Numa dessas visitas, conversando com um seu contemporâneo, perguntou-lhe quantos filhos tinha. Antes de responder, deu uma gostosa risada e completou: doze. A sua mulher, que estava ao lado, ouvindo a conversa, ainda acrescentou: doze vivos, mas tivemos quinze. O moço da capital, informando que só tinha duas filhas, disse ao sertanejo que ele realmente tinha uma prole muito grande. O casal se entreolhou, revelando certo acanhamento, ao tempo em que a mulher respondeu: não é que seja assim tão grande, é que até hoje ainda funciona mesmo. Esse homem sempre foi um danado pra gostar de botar a enxada dele pra trabaiá.