PITANGAS
Ele corre para baixo do chuveiro. Sai, enxuga o material e vai para o quarto. Olha se está bem limpo, passa um jato de perfume em baixo do... (será que é palavra pornográfica? Não? ... então vai “sovaco” mesmo. Corre para a casa da guria, que mora três quarteirões abaixo, quase na beira do mato.
Chega defronte à casa. Um pequeno jardim o separa da porta. A casa é modesta, mas tem como toda casa que se preza, uma varandinha do lado. Emite o tradicional plac, plac, plac (palmas). O pai da menina é pobre. Não tem portão eletrônico, muito menos interfone.
Aparece na varanda um menino ranhento e ele pergunta:
- A fulana tá?
- Tá sim ... passando a roupa dela.
- Eu espero.
Sentou num banquinho de madeira ali mesmo na varanda. Algum tempo depois aparece a menina – moreninha, cabelo preto comprido – um pitéu. Ela está toda embonecada com o vestidinho de chita engomado e passado.
- Oi.
- Oi.
- Tá quente, né?
- (...) a menina, nada.
- O sol está torrando a gente aqui.
- (...) com as jabuticabinhas sorrindo, a menina só olhava para ele.
- Tu tá bem? (era no Rio Grande)
- To mió agora que tu tá aqui!
- Vamo comê pitanga no capão atrás da lagoa?
- Vamo! Manhê - grita ela para dentro de casa - vô comê pitanga com o Quico.
E saíram correndo como duas crianças querendo uma alcançar a outra, felizes da vida – e ele a alcançou... e comeram cada pitanga gostosa!!!
Depois voltaram para tomar chimarrão com a futura sogra.
Ela fez de conta que nem viu o vestidinho amarrotado da menina. Afinal, a gente sentar em cima de um tronco de árvore também amarrota a roupa! Ela sabia disso desde o tempo que ela mesma comia pitanga, quando ainda era menina da idade da filha.