Álvaro, o avaro

Álvaro o avaro.

Em uma cidade qualquer, de um país qualquer, vivia um senhor chamado de Álvaro, cujo nome, retirando-se a letra “l”, retratava sua maior característica, ou seja, era um tremendo pão duro, capaz de atravessar um rio a nado com um punhado de farinha na mão sem deixar sequer umedecer. Avaro, ou melhor, Álvaro foi casado por quarenta e oito anos com dona Cotinha, uma senhora simpática, que comia o pão que o diabo amassou nas mãos do esposo. Luxo? Que nada, o que tinha de mais moderno na casa do casal era um televisor P&B, marca Telefunken, na qual dona Cotinha podia, pelo menos, assistir sua novela enquanto tricotava blusões para vender na vizinhança e ganhar seus trocados, pois se dependesse do marido, tinha apenas arroz e feijão. E, antes que perguntem, não, Álvaro não era pobre, era funcionário público graduado, aposentado com proventos integrais. E assim, o tempo foi passando, a idade foi chegando e dona Cotinha foi perdendo alguns dentes, porque fio dental, escova e pasta de dentes eram artigos racionados por Álvaro, e precisou fazer uma famosa “perereca”, como o munheca não emprestou dinheiro, dona Cotinha se virou nas agulhas e fez a tão sonhada dentadura. Infelizmente, o destino se encarregou de levá-la para a outra dimensão pouco mais de duas semanas depois de estar com os dentes novos. Funeral simples, economizaram até nas velas, pouca gente, e de madrugada estava só Álvaro na capela, velando a esposa, quando se deu por conta que ela não usaria a dentadura no além. Então ele retirou a chapa do cadáver e guardou no bolso. Antes mesmo de mandar rezar a missa de sétimo dia Álvaro ligou para o consultório do dentista e ofereceu a dentição artificial para venda, por um precinho de ocasião. Pode?

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andré diefenbach
Enviado por andré diefenbach em 09/09/2009
Código do texto: T1801585
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