A Encomenda

Era sábado, dia de ir até a vila fazer compra pra semana seguinte.

Bastião preparou sua mula Veadora, com o que tinha de melhor. Cangalha encomendada ao melhor artesão da região, seu compadre Nezinho. Jacás confeccionados por ele próprio com taquaras escolhidas e tratadas.

Demonstrava certa ansiedade naquele dia. Primeiro porque não tinha estado na vila na semana anterior por conta do velório do amigo Mané Rigina e segundo porque o tempo anunciava chuva das grossas para o período da tarde.

Mesmo assim, como era costumeiro, foi se despedir de Izabel e perguntar se faltava alguma coisa naquela lista de mantimentos que ela preparara cuidadosamente no dia anterior. Faltava...

- Tião. Falou ela. – Tráis pra mim, dois metros de ticido bem bunito que é pra mode eu fazê um vistido novo, viu?

- Ara, vistido novo purque muié?!!

- Purque num quero fazê fêio nu casamento da nossa subrinha, ou intão ocê isqueceu que a cumádi Lurdi casa ela semana qui vem, homi?!!!

- Nossinhora!!!, I pur cima nóis sêmos us padrinho, né não?!

- Pois intão!!!

- Qui cor ocê qué muié?

- Bem, eu prifiro verdi. Daqueli tipo Verdi-biliscão, sabe qualé?!

- Sei... I si num tivé?!!

- Bão, nessi caso vai ficá pur sua conta. Eu sei qui ocê tem bão gosto!!!

Como o tempo não era seu aliado naquele dia, Bastião resolveu concordar. Montou na garupa da Veadora, que por sua vez estava uma “belezura”, e partiu apressado.

Chegou bem mais tarde do que era de costume, por conta da quantidade e variedade de mantimentos que tinha que comprar, assim como a saudade de alguns amigos de “gole” era maior ainda.

Naquela tarde, já escurecendo, parece que toda a água do céu viria abaixo. Chovia tanto que tinha cachorro bebendo água em pé.

Izabel o esperava ansiosa, e mais ansiosa ainda por causa da sua encomenda. Escutou a batida da porteira e saiu no alpendre para confirmar sua suspeita.

Bastião completamente “mamado” e Veadora encharcada pelo temporal, acabavam de chegar.

Sucedeu que, ao entrarem no “Mangueiro” os dois se atrapalharam e Bastião levou um tremendo e doloroso pisão de ferradura, que naquela altura pesava no mínimo o dobro do que seria normal.

Justamente no momento em que estava lutando para se livrar daquela situação de desespero e dor, Izabel grita do alpendre:

- Tião, ocê troce a minha incumenda?!!

- Trooooooce... Gritou ele.

E ela: - I Ocê acho a cor qui eu quiria, beiêêêê?!!!

- Nããããõoooo... Berrou ele, quando finalmente conseguiu tirar o pé debaixo da pata do animal.

- Qui cor ocê troce intão, homi?!!!

Não contendo a dor e muito menos não suportando a impaciência da mulher gritou furioso:

- Ora mais qui coisa!! É da cor do seu C....

E Izabel decepcionada: - Mais beiêê, eu num quiria roxinho!!!

PS: Dizem que Izabel estava linda, dentro um belo vestido rosa no casamento de sua sobrinha.