JUVENAL: o cachorro que foi se confessar
Juvenal é um cachorro muito inteligente e sábio. É moral, não gosta de ofender ninguém e é conhecido na comunidade por nunca ter se metido em qualquer briga. Jamais avançou em qualquer carteiro, nunca mijou em poste, e, se quer avançou esfomeado em alguma tigela de comida.
Resumindo, Juvenal era um "gentleman" dos cães. Educado, simpático principalmente com as gatas, gostava muito de prosear, principalmente com Joaninha. Neste dia, no entanto, ele estava proseando com seu tio-cão, o Jordino, um cão bem mais velho e que já estava meio cansado da vida. Já tinha vivido muito, tinha mais de 15 anos.
Juvenal: Oi tio Jordino, como anda a vida?
Jordino: Eu tô bem meu filhote, e você?, como andas?...rapaz, tu tá gordo...sua dona tá te dando outra marca de ração?
Juvenal: não Jordino...eu é que sou um cachorro preguiçoso mesmo...fico só em casa deitado...não faço academia...você sabe que a moda dos jovens agora, é o bodystep para cães...lá na minha vizinhança, no setor bueno, tem vários cães que vão com suas donas malhar...
Juvenal: eu não sei o que eles fazem lá...mas chegam todos com a língua a dois palmos do focinho, tudo esgoelado pro água...parece que eles ficam é trabalhando nessa tal de academia, pois os bichos chegam tudo suado.
Jordino: é meu filhote, é a moda do teu tempo...na minha época, cachorro não era maltratado pelos donos não. A gente ralava era na lavoura mesmo...eu cansei, mas foi de caçar preá nas fazendas do meu antigo dono. Mas, ele morreu, e sua dona me trouxe pra cidade grande. Aqui é só estresse, não gosto muito não.
Juvenal: verdade tio.
Jordino: mas conta as novidades filhote, o que anda fazendo de bom?
Juvenal: tio eu vim aqui, pra explicar uma coisa esquisita que fiz recentemente. Vim aqui conversar com o senhor, pra não ficar mal entendido na nossa raça...pra não surgir boatos na nossa parentada.
Jordino: o que você aprontou Juvenal?
Juvenal: tio, esse dias, eu tava de prosa com uma amiga minha, a Joaninha, uma gatinha, vizinha minha, e eu comecei a pensar coisas esquisitas dela, porque achava que ela era pornográfica. Foi um mal entendido, mas pra evitar aborrecimentos caninos, preferi nem explicar pra ela.
Juvenal: a história é que ela tava falando de uma coisa, e eu tava pensando em outra. Imaginei algo que não tinha acontecido. Delirei com imaginações eróticas, imaginando que ela fazia aquelas coisas, mas, na verdade, foi uma tremenda confusão mesmo tio...só que depois que ela foi embora, fiquei com aquilo na cabeça...pensei até em procurar um psicólogo de cães, que minha dona já tinha falado com a outra vizinha. Mas, depois vi, que o melhor mesmo, seria procurar um padre.
Jordino: padre?!
Juvenal: é tio, os humanos não vão se confessar quando têm pecados. Pensei: "rapaz, sabe de uma coisa, quem vai na igreja hoje sou eu".
Jordino: e você foi?
Juvenal: eu fui. Cheguei na igreja bem cedinho. Foi sábado passado. Pensei que estaria cheio de gente, mas não tinha muitos não. Só tinha umas velhinhas, eu até conheço uma, a vozinha maria, aquela que os cães vão tentar transformar em santa depois que ela morrer, porque ela ajuda muito os cães mendigos, que têm na nossa comunidade.
Jordino: hum...sei...
Juvenal: aí, eu cheguei lá...tinha três velhinhas na fila...a primeiro da fila era a vozinha maria, que estava mais na frente. Ai, eu pensei, rapaz, eu vou é escutar um pouco o que elas falam, pra eu saber como posso prosear com o padre antes, né?!. Aí eu me disfarcei de cão mesmo, sabe, pra ir ouvir a conversa lá...fiquei atrás da vozinha maria, e quando ela entrou naquela casinha de confessar, eu fiquei ao lado dela, dormindo debaixo da porta, fingindo, né, pra ouvir o que ela tava contando..
Jordino: foi?! E ela, o que ela confessou?
Juvenal: tio, nos humanos existe uma regra, que não podem ouvir o que os outros confessam, né?! até os padres, não podem divulgar o que escutam lá...eu pensei, eu sou cachorro mesmo, não custa nada ouvir só pra aprender a saber o que eu vou dizer quando for minha vez, né?!
Jordino: e aí, o que ouviu da vozinha maria?
Juvenal: tio, eu fiquei com o olhos arregalados com as coisas que eu tava ouvindo. Primeiro, ela disse, que fazia tempo que não metia a mão nas coisas....ela disse desse jeito. Disse que estava evitando furar a bolseta das outras mulheres...na hora que ela disse aquilo, eu fiquei só olhando e ouvindo...fiquei pensando: "rapaz...essa velha"...depois ela continuou..."Padre João, eu nunca mais meti"...eu fiquei só escutando, depois ela completou que não meteu a mão...e eu pensando: "ela mete a mão?!, rapaz...que velha safada...igualzinho a minha dona...nojenta!!! Esses humanos são tudo safado..."
Jordino: sério mesmo?
Juvenal: tio eu saí de lá foi grunhindo de nojo...com aquelas coisas horríveis que a vozinha maria, quer dizer, aquela velha nojenta contou...
Jordino: mas o que ela disse mesmo Juvenal?
Juvenal: foi isso mesmo que eu lhe disse tio, que ela não metia mais a mão na bolseta das outras. Que agora ela tava parada, e tava se controlando...
Jordino: hum...
Juvenal: tio, esses humanos são tudo pornográfico...