A grande pescaria

Seu Nacinho pergunta ao irmão Orivaldo: - Vamos marcar uma pescaria pra sábado que vem, lá na praia de Figueira?-Nesse sábado não posso. Vou bater laje lá na casa de meu filho Mequinha, em São Cristóvão. Mas no outro eu posso! Se você quiser vamos sim! E assim ficou combinada a pescaria, pra depois que a laje fosse "batida".Para a pescaria também foram convidados mais três: O Nelinho, que era irmão de Nacinho, esse irmão do Orivaldo; Zé Mulatinho e Catuaba, esses dois últimos, pescadores experientes e que sabiam muitas histórias.Chega o dia.- Como é Nacinho, onde está o Catuaba! ? - perguntava Orivaldo, impaciente para seguir logo com a pescaria.- Espere mais um pouco, que ele ficou de passar na casa do Zé Mulatinho, para pegar a isca e não vai demorar! -ponderou Nacinho em favor do retardatário.Dez minutos se passam e eis que chegam os dois, devidamente equipados, no jipe 1957, sem capota.- Como é pessoal! Vamos embora que ainda quero pegar o "serão" de noite pra ver se consigo pescar algumas enchovas! -falou Catuaba sentado ao volante do carro.E assim seguiram os cinco, apertados na cabine da pequena viatura.- Acho que faremos boa pescaria, o Carlinhos de Dêgo me disse que na semana passada, ele e mais dois companheiros, pescaram mais de trinta quilos de enchova lá na Figueira, só na parte da tarde! - falava Zé Mulatinho, enquanto preparava sua linha de varejo de praia, com todo cuidado.- É, mas também me falaram que lá está aparecendo muito cação "anequim" e "tintureiro"! - dizia Nacinho, com certo ar de preocupação, não escondendo seu pavor pelo temível peixe.- Que nada!Fora d'água, eu sou mais eu!Quero ver se ele é brabo quando estiver na beira da praia. -disse Nelinho, o mais novo da turma, querendo dar uma de machão.- Ô Mulato, você trouxe a garrafa de cana?-pergunta Catuaba, não deixando dúvidas do porquê de seu apelido.- Puxa rapaz! Comprei, mas na saída acabei deixando a boa em cima da geladeira de casa. - respondeu o interrogado.- Assim não dá!Como agüentaremos uma pescaria inteira, sem molhar o gogó com pinga?- quis saber o biriteiro.Vão seguindo viagem sem nenhum contratempo, a não ser os incômodos dos solavancos e pulos que o veículo ia dando devido ‘as costelas da estrada de chão batido. Depois de uma hora e dez minutos cravados, chegaram finalmente na Figueira.Inicialmente procuraram a casa de seu Justino, amigo do Orivaldo, pra guardar o jipe.-Ô de casa!Ô de casa! -gritou Orivaldo.Soa a voz de uma mulher: - Já vai!- Boa tarde dona, "seu" Justino está?- quis saber Orivaldo.- Ta não, senhor. Ele foi lá pra salina abrir água. -respondeu a mulher, enquanto enxugava as mãos num avental de algodão.- Nós vamos dar uma pescaria aí na praia e queríamos deixar o carro guardado aqui. - a dona responde: - Pode sim!Então, quando "seu" Justino chegar,diz pra ele que o Orivaldo de Cabo Frio pediu pra deixar o carro na praia e que ta pescando na praia. - Tudo bem!Digo sim seu Orivaldo.Depois de atravessarem as enormes e formosas dunas de praia da Figueira, começa a pescaria.A coisa não ia bem. Só quem pescou uns peixinhos, dois galos e alguns pampos, foi o Nelinho, que usava os anzóis pequenos com isca de camarão.De repente grita Nacinho, com sua linha 120: - Nelinho, Catuaba,me ajude aqui! -Acho que ferrei um dos grandes, e pela força que ta fazendo é um cação "anequim"!- Vejam só a força que o danado ta fazendo!Não consigo puxar a linha! - continua Nacinho, agora ajudado pelos amigos.Com muito esforço eles conseguem arrastar a linha pra praia.- Calma!Não puxa de uma vez não!Vamos cansá-lo pra não arrebentar o nylon! -começa Nacinho cheio de autoridade, já antevendo o sucesso que faria se conseguisse tirar o peixão d'água.- Deve ser sim um "anequim" do grande! E deve ter uns 60 quilos! -Olha lá, olha lá, quando a onda levanta dá pra ver o vulto negro do danado! -diz o Catuaba, e com o olhar que era um misto de medo e satisfação. E lúcido, pra garantir o fato.Comenta eufórico o Nacinho: - Puxa vida, nem acredito que consegui pescar um bicho desses! - Quero só ver a cara do meu cunhado Nelson, quando eu chegar a casa! – hahahaha! -Puxa logo essa linha! -diz Zé Mulatinho. -Ele vai acabar arrebentando a linha! E continua enfático: - Não vamos passar a pescaria nessa lenga lenga, por causa de um caçãozinho metido a besta gente!!!Vamos nós é meter a mão os quatro, e quero ver se ele sai ou não sai d’água! Só quero ver!E os quatro puxavam e puxavam com força. Nacinho se antecipa se armando de um porrete, pra golpear a fera quando chegasse ‘a areia.- A primeira pancada quem vai dar sou eu!-Afinal fui eu quem conseguiu ferrar esse bichão danado! - fala o Nacinho, tomando posse do relutante peixe.Foram puxando, puxando e quando finalmente conseguiu chegar na areia,foi a maior surpresa.O tão cantado peixe do Nacinho,e que deu tanto trabalho,não passava de um enorme pneu de caminhão,todo coberto de ostras e limo,devido a grande a longa permanência no fundo do mar.Foi a maior gozação em cima do Nacinho.Começa já gargalhando o Catuaba : - eu nunca ouvi falar que tinha cação com nome Firestone,não!! -e todos caem na gargalhada também, menos o Nacinho, que contava fazer bela figura quando chegasse ‘a casa com um enorme peixe.Solta então a sua o Zé Mulatinho: - Também, o Nacinho é azarado mesmo. Numa praia que vai do Arraial do Cabo até Saquarema, com quilômetros de extensão, ele conseguiu o mais difícil, que foi o de colocar a linha exatamente dentro de um pneu velho!E a grande pescaria acabou mesmo em gargalhadas.

Gecahy
Enviado por Gecahy em 14/08/2009
Código do texto: T1754672
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