A PRIMEIRA NOITE DE GARIBALDO
Garibaldo era do tipo intermediário entre uma pessoa normal e o completamente retardado. Quando se observava o modo de ser daquele simplório, chegava-se a conclusão que por uma mera questão genética ele não nascera imbecil.
Ele não fazia mal a ninguém e estava sempre pronto para executar todo tipo de tarefa que lhe mandassem fazer. Não questionava ou perguntava nada. Ele executava o que lhe mandavam fazer, automaticamente.
Quando Chico, seu patrão comprou uma fazenda, perto do local onde ele trabalhava, resolveu levá-lo. Embora fosse meio bobo, quando bem orientado, seguia a risca as ordens e executava tudo a contento.
No dia que Chico recebeu a propriedade, o antigo proprietário, depois de entregar-lhe tudo o que havia combinado durante a transação, fez, naquele momento, um solene pedido:
- Seu Chico, gostaria de pedir-lhe um favor.
- Pois não, se estiver ao meu alcance, eu faço.
- Bem, como o senhor sabe, eu morava aqui sozinho, por isso, tinha uma cozinheira e como vou embora, quero saber se o senhor pode abrigá-la durante uns dias, até ela voltar para a terra dela. Enquanto isso, ela poderá cozinhar para o senhor durante os dias em que ficar aqui.
- Não tem problema, qual o nome dela?
- Um momento que eu vou chamá-la.
Minutos depois ele vinha acompanhado de uma mulata de mais ou menos uns cinquenta anos, meio obesa. Tinha os cabelos muito compridos e escorridos que desciam pelos ombros. O cabelo brilhava, parecia que havia sido untado com algum óleo. Ainda hoje, no Maranhão, algumas mulheres que moram na roça, costumam usar o óleo de babaçu no cabelo.
Depois das apresentações, ficou acertado que ela poderia ficar morando no quarto perto do paiol e enquanto isso iria cozinhar para o novo dono da fazenda e seus dois ajudantes, dentre os quais, o Garibaldo.
Garibaldo tinha mais ou menos uns vinte e sete anos, embora o seu modo de pensar e agir fosse o de uma criança de dez ou doze. Com a idade que tinha, ele nunca havia namorado e tampouco havia tido com o sexo oposto qualquer relacionamento amoroso ou sexual. Ele ainda era virgem.
Depois de duas semanas de trabalho, as obrigações iam sendo conduzidas a contento. O pobre peão não tinha a capacidade de pensar e tomar decisões, o fazendeiro ia dando-lhe as tarefas e ele as executava. Acontece que o proprietário da fazenda notou que ele, olhava a cozinheira de forma diferente..
Quando notou que Garibaldo vivia um amor platônico pela Cuiabana, o fazendeiro procurou incentivá-lo a seguir em frente, com diversas insinuações.
Certa noite depois do jantar, ao ver que o pobre olhando em direção do quarto onde dormia a cozinheira, o fazendeiro falou:
- Hoje, eu falei com a Cuiabana e ela disse que tem uma queda especial por um de vocês.
O peão, sem nenhuma malícia, foi logo perguntado:
- Por quem patrão, por quem?
- Por você, ela me falou isso hoje cedo quando conversamos.
- É mesmo, ela gosta de mim?
- Sim ela disse que tem uma queda por você, só que não sabe como falar, pois se sente envergonhada por ser mais velha.
- Sabe patrão, eu também gosto dela.
- É mesmo?
- É sim, eu gosto sim senhor!
- Bem, se é assim, eu vou ajeitar ela para você e no dia certo, eu lhe aviso para você ir falar com ela. Certo?
- Sim senhor, eu espero.
Naquele dia a conversa parou por ali, mas, a paixão do peão continuava aumentando. Depois de uns quinze dias, ele chegou até o patrão e perguntou-lhe:
- E então seu Chico, quando ela vai me receber?
- Calma, rapaz, logo que ela estiver pronta, eu aviso, fique tranquilo que será em breve.
O fazendeiro, ainda não sabia como fazer para continuar sua brincadeira com Garibaldo, por isso arrumara aquela desculpa. Mas, como o peão vivia lhe cobrando uma solução para o caso dele, este lhe disse:
- Pode deixar, pois ela disse-me, que irá marcar a data ainda hoje.
O pobre coitado, não cabia em si de felicidade, imaginando que iria, em definitivo, tirar aquele rótulo de “ virgem”.
Naquele dia, após o jantar, o fazendeiro chamou o peão num canto e disse-lhe:
- Garibaldo, será hoje o seu dia, já combinei com ela e até mesmo o que você deverá falar quando ela abrir a porta do quarto para você entrar. E continuando com sua armação, falou no ouvido do pobre peão o que ele deveria falar à empregada, que não sabia de nada. E complementando sua armação em cima do peão, arrematou:
- Não se esqueça, às nove horas, você vai lá, bate na porta e quando ela abrir a porta, você diz à senha combinada.
- Sim, senhor, pode deixar que entendi tudo!
O coitado do peão a cada cinco minutos ia até a cozinha olhar o relógio de parede para ver se a hora estava perto.
Na hora certa, ele saiu de mansinho com um sorriso que lhe tomava todas as faces e ao chegar à frente do quarto da empregada parou e bateu na porta. A pobre mulher, sem saber de nada, abriu a porta e se deparou com o pobre peão do lado de fora esperando para ser chamado a entrar. Ela, ao ver o pobre rapaz em sua frente, perguntou-lhe:
- O que você está fazendo aqui, nesta hora?
Ele, que havia decorado a senha para ser dita naquele momento, disse sem titubear:
- Vim trazer o meu “pebinha” para dar uma “fuçadinha”. E, enquanto falava, mostrava a ela o instrumento totalmente armado.
A pobre empregada pega de surpresa, diante daquele insólito acontecimento, entrou rapidamente no quarto e quando retornou trazia em sua mão um enorme facão e ao aproximar-se do peão foi dizendo:
- Seu tarado! Está pensando que eu sou o quê? Espere que vou te capar e nunca mais irá atentar contra a honra de uma mulher honesta.
O conquistador, vendo que a doméstica não estava brincando, saiu correndo rumo à mata que ficava a pouco mais de duzentos metros dali.
Diante da gritaria que a empregada aprontou, todos na fazenda acordaram. O fazendeiro fingia que dormia, mas, naquele momento ria sem parar da situação.
No dia seguinte, bem cedo, a empregada arrumou a mala e foi-se embora da fazenda. Garibaldo ficou três dias escondido na mata, sem aparecer para o trabalho. Quando reapareceu, meio desconfiado, nem imaginava que tudo fora armação do patrão. Ele acreditava que a empregada havia se arrependido ou que ela era louca.
Questionado pelo patrão, sobre o ocorrido, ele dizia:
- Sabe seu Chico, acho que a mulher é doida, pois parece que esqueceu o que combinou com o senhor!
O Fazendeiro fingindo inocência retrucava:
- Pois é rapaz, deve ser isso mesmo, pois no dia seguinte, ela se foi sem dizer nada.
O jovem peão, não tinha inteligência suficiente para discernir sobre o que era real ou apenas o imaginário. Dentro do seu mundo, iria continuar havendo apenas a mula, a sua primeira namorada.
29-05-09-VEM.