GOLPE DE MESTRE!
Manhã de uma segunda-feira comum no hangar da FAB.
O tenente Arcoverde chamou um subalterno :
-Sargento,telefone para minha casa,chame D.Sívia e diga que meu avião bateu na cabeceira da pista e que,infelizmente,foi perda total.Morremos eu e o mecânico.Não esqueça do tom de voz, choroso e compungido.
O sargento ficou tonto de espanto:
-Mas,Senhor,D.Sílvia é sua esposa!!!
-Faça o que mandei!
Outro oficial que estava a seu lado,estranhou:
-Ó Arcoverde,você ficou maluco!?Pense ao menos nos seus filhos,homem!
-Não me chateie, Santana;venha comigo e participe da festa.Conto tudo ,no caminho.
No jipe,com o amigo e colega,contou a situação.
Sílvia,bela e jovem mulher,andava insatisfeita com as constantes viagens do marido,queixava-se de extrema solidão e andava arredia,monossilábica,sem os arroubos de outrora.Ainda não estava pronta para um amante-ele tinha certeza-mas,estava certo também que,tal fato,não demoraria a suceder.
Mulher encantadora,sensual,jovem e fogosa,marido sempre ausente,distante,eis o panelão onde o diabo cozinha sua sopa.
Balzac já dizia,na sua “Fisiologia do Casamento”,que os maiores candidatos a corno eram os militares e os caixeiros-viajantes.Ele não queria correr o risco.
               *
Com a cara mais limpa do mundo,Arcoverde chegou em casa e,claro,como esperava,encontrou o caos;sua mulher,pálida como morta,largada numa cama,á base de sedativos que uma enfermeira vizinha,aplicava.Os filhos,na casa de uma tia,que morava na outra rua.Sua mãe e sua sogra,chorando perdidamente.Vizinhos,o padre da paróquia,seu médico particular e até o gari da rua,parado,olhando prá o nada,com a vassoura esquecida nas mãos.
Quem passasse na rua,pensava logo:-Aí tem defunto fresco!
Mal chegou,o Lázaro redivivo,foi recebido com festas;a casa mudou,o clima de enterro,acabou,havia risos de alegria,pulos no pescoço,do nada apareceu uma farta mesa de café,música e alegria.
O padre fez uma oração de agradecimento,a vassoura do gari começou a varrer,furiosamente,os pássaros cantaram.E tome munição de estômago e fígado.
Para a esposa aparvalhada,mas,feliz,com suas cores de volta,ele disse que esta coisa fazia parte do adestramento das famílias.
Todos os presentes ,em uníssono,xingaram a FAB,a aviação,as Forças Armadas,as autoridades e sobrou até para Santos Dumont,inventor do avião.
Com a esposa ,as coisas mudaram da água para o vinho;eram carinhos esquecidos ou estreados,atenção,café na cama,abraços ternos e olhares langorosos;nenhuma queixa.
Tudo estava em seu lugar,mas,um ano depois,as coisas esfriaram,novamente.
E,novamente,o mesmo estratagema foi tentado.
Mas,desta vez,quem compareceu foi o Tenente Santana;Arcoverde tinha se estatelado na cabeceira da pista,levando junto,é claro,o seu mecânico.
Dizem que a mulher até hoje,espera o ressuscitado.
“CONTOS E CAUSOS JÁ ESTÁ Á VENDA!Leiam,é de morrer de rir!
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 05/08/2009
Código do texto: T1737549
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.