Geraldinho e o computador

Tonho: zé a sua patroa me falô que cê cumprou um computadô? É verdade?

Zé: ué...Tonho...a Marilda falô que era bom pra nós. Eu tinha uns trocado guardado...fui vê esse trem lá na cidade sô...rapaz, nós cheguemo lá, numa loja grande, vistosa, parecia um shop, daqueles que cê já deve ter visto na TV. Um moço, todo aprumado, apareceu, conversou bonito pra nossas bandas. Aí, eu disse pra ele: sô nós tá querendo levá um computadô.

Vendedor: é pra já sr Zé...vou providenciar uma máquina muita boa, que o sr vai gostar...

Zé: ele trouxe a tal da máquina. Quando ele apareceu com aquele quadrado, pra me vê, eu falei pra ele: sô vendedor é computador né TV não!. Essa sua, até que é bem novinha, mas nós já tem uma TV bem em casa, que dá pro gasto nosso...

Vendedor: não sr Zé, isso aqui é um computador...

Zé: e é?

Vendedor: é. Parece com TV mas é diferente.

Zé: uai, mas é irmã da TV esse tal de computadô, então...se for pra nós fica assistindo coisa de novo, não carece não...

Vendedor: não sr Zé, aqui é diferente. O sr pode entrar na internet, pode baixar vídeos, pode ouvir música, pode ver fotos, escrever textos...

Zé: rá...rá...rá...rá...cê tá brincando com a minha cara?

Vendedor: não sr Zé. É verdade. Tem várias funções, é diferente da TV. Você pode fazer uma porção de coisas. Só que eu acho que o sr deverá fazer um curso de informática, porque tem que aprender a mexer no teclado.

Zé: Tonho, esse vendedô começou falar uma porção de coisa. Eu pensei, eu devo tá embaralhado da cabeça mermo porque num compreendia muito não. Pensei...ter uma porcaria dessa na minha estante...mas, matutei de novo: “parece que é coisa moderna, vamos vê o que dá pra fazer né”...e, eu por curiosidade perscrutei o valor...rapaz, era mais de 1000 réis..na hora que ele falou o valô, eu pensei, isso aí, dá pra comprar é uma vaca, das boas...

Vendedor: é seu Zé, é um pouco caro mesmo, mas, é uma compra boa pra sua fazenda.

Zé: e eu matutei. Olhei pra mulhé, conversamo um pouco, ela falô que ia ser bom pros nossos netos da cidade, que, às vezes comparece lá na nossa terrinha...e eu matutando...rapaz: “que objeto é esse?”, eu prescrutava pra mulhé...e coçando a cabeça...hum... Num sei não mulhé, acho que a gente não vai consegui mexer nesse bicho aí lá em casa não!. Te tanto ela me aporrinhar Tonho, acabamo comprando o tal do computadô

Tonho: foi?

Zé: ...menino... quando cheguemo em casa, chamamo o vizinho, o filho do Nonato – ele é entendido dessas coisas; ele mora na cidade grande, lá pros lado de São Paulo – cê conhece, aquele vizinho das bandas do rio. Ele veio, mexeu lá..só pra instalar a parafuseta foi quase uma metade de dia. Depois ele pediu pra eu sentar perto, aí eu falei pra ele, porque ficar assim tão perto? Disse pra ele: “Nonatinho...aqui na sala já tem um sofá... eu posso ficar aqui”, aí, ele de lá retrucou: “seu Zé, o sr tem que sentar é na frente do computador. Não pode ficar longe não!”.

Zé: arriégua! e é? Uai, eu num sabia disso não.

Nonatinho: eu vou lhe ensinar a assistir videos aqui por esse site. É só clicar aqui e pronto.

Zé: Tonho, nessa de mexer, lá, fiquemo até beirar a boca da noite. Aquilo entretém a gente, achi...menino...parece uma televisão que num desliga...passa um monte de coisa lá dentro. Criança, menino chorando, cantores, gente contando piada. Eu fiquei pensando, se aquele povo todinho ali num trabaia não...se eles fica o dia todo ali do outro lado, pra gente vê...rapaz...é um bando de priguiçoso mesmo. Eu sei, que depois eu cansei daquilo, minha vista já tava tudo escura...levantei, parecia que eu tava dentro dum cinema, e fui foi coçar o saco de farinha lá na cozinha pra vê se guentava o meu estômago que já tava me chamando faz tempo sô...rá...rá...rá...

Homenagem à Geraldinho

arrab xela
Enviado por arrab xela em 22/07/2009
Reeditado em 11/09/2009
Código do texto: T1713630
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