O isprito
E já estava tarde naquela localidade em que o sol se pôe por volta das cinco da tarde em que o fazendeiro me olhava e como quem se vangloriava do momento em que eu não lhe falei de cuidar da sua vida espiritual, como se fosse o golpe derradeiro ele começou a me contar um "causo", dito ele que ocorrera lá pelos idos dos anos 60 numa fazenda próxima que limitava ao norte com municipio de Porciúncula.
Ele dizia que havia um tal de Zé das Mulas que volta e meia dava um trabalho imenso ao padre da cidade...era uma correria só, sua companheira ao vê-lo de olhos vermelhos mãos como garras de onça pintada e falando como rádio engasgado, corria na cidade para buscar sua santidade...
E lá iam horas e mais horas de prece, reza forte, e nada do intrujão sair daquele corpo, e ainda gozava do padre: "Olha padre...daqui não vô saí naum... pode até busca lá tuas maroquinhas que daqui eu num saio naum..."
E era o fato mais comentado na cidade quando a coitada da mulher do Zé passava pela praça era sinal de que naquele dia o padre não voltaria da roça e que no dia seguinte voltaria cansado, mal humorado e dormiria por dois dias por conta do escandaloso "ispríto" do cramanhão que "vorta e meia" pegava o Zé.
Passava pela cidade um tal de Agripino, cacheiro viajante, que também tinha ofício de Pastor em Muriaé. Apenival, cidadão cheio de compaixão pelo pobre do Zé e mais ainda pelo cansado padre que se cansava em demasia, se colocou à frente do Agripino e lhe contou em cinco palavras tudo "tim-tim por tim-tim", ele como caicheiro viajante ardeu em ira, iria atrasar de fazer os pedidos das bandas de Varre-e-Sai se parasse por alí , mas seu lado Pastor falou mais alto e foi lá na fazenda do Zé ver o que podia fazer.
Nisso na fazenda o pobre do Zé voltou a sí inesperadamente e disse à sua esposa e ao padre "olhe, ocês sabem que vai chegar aqui na fazenda um tal de "cacheiru" viajante, não dá atenção nele não "qui" ele é mentiroso e o que ele qué é tirá pruveito di nossa prantação e todo dinheiru qui nós temu"
Chegando a dupla na fazenda e adentrando porta adentro até chegar na cama onde o Zé se contorcia, o Zé fala pra Agripino: " Óie já falei pra todo mundo aqui qui ocê num é pastor não, só qué meu dinheiro, pode ir embora"
Sem demonstrar esforço algum Agripino levanta suas mãos e depois de uma oração pequena expulsa o tal "isprito" do Zé que como criança arteira arrependiada de alguma travessura diz a todos o que estava se passando alí, quando o padre fala: "Zé volte a dormir, é um tal de cacheiro viajante que entrou aqui para atrapalhaar o teu sono, e meu trabalho, mas ele já vai embora porque ninguém quer ele aqui não..ele inclusive num vai nem passar mais pela cidade...
Então entendí o que na verdade ele queria e não queria ao me contar esse "causo"...fui a um cantinho sem as vistas do povo dele e fizemos preces juntos, pedí que se fosse projetada cura física para ele, que o fizesse mas que se priorizasse a eternidade após essa vida, e depois disso sempre que eu chegava por alí ele começava a me perguntar por Jesus, logo passados alguns meses ele veio a óbito...e sinto agora saudade dele, seus "causos da roça", dos peixes que ele cultivava no pequeno lago da fazenda...Mas sei que ele está bem agora ao lado do proprietário de todo esse campo largo.