Vai cachorro, vira humano, pra você ver!!!

O cachorro era muito feliz na sua moradia. Ele tinha uma dona, uma mulher já com bastante idade. Era uma senhora que morava sozinha e não tinha, nem marido, nem filhos. Ela era solteirona, e decidiu ter um cachorro para lhe fazer companhia.

Só que ela conversava sozinha..e, com isso, seu cachorro, que tinha o nome de Juvenal, escutava tudo....sempre que podia, Juvenal contava aos demais animais, seus amigos da vizinhança sobre suas conversas. Juvenal parecia presidente de associação de moradores...ele conhecia vários animais da vizinhança...conhecia a gatinha que morava ao lado de sua casa; que toda noite, dava um jeito de se achegar em suas acomodações pra comer um pouco de sua ração. Ela se chamava Joaninha...ela tinha jeito de gata, mas era esperta que nem cachorro!. Joaninha reclamava de tudo: falava que a casa não tinha tapete pra ela dormir, que seus donos eram chatos e conversavam alto – lhe impedindo de dormir – na parte da tarde, principalmente. Joaninha também reclamava que ninguém gostava de lhe fazer cafuné.

Juvenal ficava só observando.

Juvenal era um cão bem quieto...nunca tinha se metido em briga...ele nunca tinha mordido ninguém...era super-elogiado por todos os animais vizinhos....ele se gabava de nunca ter atacado nenhum carteiro e jamais mordeu a perna de algum pedreiro, embora fosse grande...era um cachorrão preto, do tipo fila.

No entanto, Juvenal, no que tinha de manso, não tinha de ficar calado. Falava demais!...e, principalmente, histórias sobre sua dona. Ele sabia de tudo que ela fazia. Também quem mandou ela ficar conversando alto...ela falava pelos cantos da casa, o dia todo... Certo dia, Juvenal estava trocando uma prosa com a Joaninha.

Juvenal: “eu tô te falando Joaninha, essa mulher tá pra pirar...ela não pára de falar sozinha!”. “Olha, eu vou te falar, eu sou cachorro, não nasci pra cuidar de humano não; essa aqui tá ficando lé...lé...”

Joaninha: tá nada Juvenal, isso é coisa de sua cabeça...

Juvenal: “pensa bem: ela fica rindo sozinha na frente do espelho. Eu já vi, tô te falando. Olha, mulher muito velha, que fica rindo é um problema sério – pra gente que é animal da casa – pensa, eu vejo tudo!. Essa minha dona tá tirando meu sossego; daqui uns dias eu é que pego os remédios dela e tomo!”. Inclusive, tô precisando de um tranquilizante, nem consigo mais ficar calmo. Poxa...eu não nasci pra ter responsabilidade não! Agora, é assim: os humanos pegam a gente, começam a criar...e depois de velho, a gente é que vai cuidar deles?!”. Ah, eu não quero não. Esse negócio de pena eu não tenho não! eu num nasci pra sofrer não! Não é da nossa natureza isso não; você não concorda?”

Joaninha: “Fica calmo Juvenal. Essa sua dona é assim mesmo; os humanos são tudo assim. Eles são uma raça esquisita mesmo. Nem os animais entendem eles; eles sabem tudo! Mas no final das contas, nem eles sabem direito as coisas. Eles é que são tudo entendido. Deixa isso pra lá. Você por acaso tá querendo virar humano? Você fica com essa reclamação todinha, eu acho que você tá querendo virar humano!. Você conhece a história do teu compadre, né!, o tal do famoso cãolisses; não conhece não?!. Olha, ele era um animal que enjôo de ser animal, sabe...e pediu para São Bené, nosso santo, pra virar humano.

Juvenal: sério?

Joaninha: “não conhece a história não?! Eita que você tá sem cultura menino!!! fi!, ainda falam que os gatos só ficam dormindo! O cãolisses pediu tanto, aporrinhou tanto São Bené, que o santo foi e concedeu uma virtude pra ele. Isso se ele pagasse a prenda determinada pelo santo. Você sabe que santo também não é besta, ele não transforma água em vinho de graça, né?! Pois é, mas ele foi lá e fez o milagre pra ele”. Falou que ele tinha que ir na Igreja durante uns 6 meses; se todo domingo depois da missa, ele fosse pra casa e ficasse lá rezando o terço duas vezes por dia, ele ia se tornar humano!”. Conta a história, que cãolisses vivia numa casa que tinha três senhoras. E essas mulheres eram mais velhas também; você já percebeu o tanto que tem uns velhos que gostam de cachorro? Rapaz, é mais fácil do que arrumar pamonha na esquina!. A gente tinha que ganhar bolsa custeio geriátrico, do governo, eu acho...mas deixa isso quieto!. Aí, ele contou, isso entre a gente que sabe, saiu no noticiário dos boatos animais, que cãoulisses ficava nos fundos da casa rezando, enquanto a dona mais velha dele, uma senhora chamada Vó Lucidalva ficava só espreitando ele. Cãolisses, segundo se sabe nos corredores caninos, até foi flagrado por ela rezando. Ela uma vez chegou pra sua filha e falou: Elza, você acredita numa coisa minha querida, aquele cachorro nosso é muito esquisito! Ele tá com as duas patas grudadas assim, com o olho fechado; será que cachorro reza minha filha?! Conta as línguas de porco, que antes de cãolisses se mudar, ela várias vezes chegou nele, de mansinho, e falou no seu ouvido; “eu sei que você reza, viu meu lindinho”. Disse que isso também impulsionou cãolisses aí atrás logo de seu destino. Aí, depois de seis meses, não deu outra, foi que nem o prometido, o bicho se tornou humano!

Juvenal: sério mesmo Joaninha?

Joaninha: “e não reclama não. Porque ele é da tua raça!”. “Nós gato jamais íamos fazer isso, tá parecendo a história daquele cantor humano que quis deixar de ser negro; você, viu o que deu, né?!; mostrou na TV; você assistiu?!. Nós da raça de gato não fazemos um negócio desse, nem na pressão de um pitbul, jamais!!!, a gente não nega a raça não!. Mas, a história é essa”.

Juvenal: e depois?

Joaninha: “e depois, que o cãolisses se tornou humano por dentro, mas por fora ele ainda era cachorro. Resultado: se ferrou!!!” “sabe por que?. Por que você já viu cachorro trabalhar?” Pois é...esse tinha que trabalhar! kkkkk!!!! Você já viu cachorro pegar ônibus e pagar passagem? Pois é, esse tinha que fazer isso!. No início, os humanos tratavam ele que nem animal mesmo; ele só vivia reclamando; mesmo depois de ter se transformado em humano, os humanos ainda não acreditavam nele; de tanto ele irritar os humanos, um dia o motorista de um ônibus falou assim pra ele”: “tá bom, seu cãolisses, você vai pagar passagem a partir de amanhã; você não tá pegando ônibus todo dia? Pois bem, agora vai ser assim!, e não pode sentar nos bancos não, que é pra não sujar...!”.

Juvenal: cruz credo!!!

Joaninha: tá vendo, é melhor você ser animal mesmo, que não precisa ter problema em casa, entendeu?!

Juvenal: entendi o seu recado Joaninha;eu num vou mais nem rezar, vai que um santo desses me converte pra humano: aí eu tô enrolado pelo resto da vida!!!

arrab xela
Enviado por arrab xela em 17/07/2009
Reeditado em 18/08/2009
Código do texto: T1704763
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