o monstrinho

O Monstrinho

Nunca imaginou viver para conhecer netos. Mas já que sua filha engravidou inesperadamente, passou a ansiar pelo pimpolho que com certeza ia encher sua vida de alegria.

Os nove meses que se seguiram foram longos demais. Quando o médico avisou que podia nascer a qualquer momento, nem dormiu mais. O telefone virou um objeto inseparável. O celular ficava ligado 24 horas no bolso. A filha o acalmava:

_O médico disse que é assim mesmo pai. Ele vai nascer quando chegar a hora. O importante é que está tudo bem com o bebê.

O genro com uma pontinha de ciúmes, dizia que o avô estava mais ansioso que ele, o pai. Até que um dia nasceu o “pequerrucho”. Disseram que tinha o olhar do avô. Ficou todo orgulhoso. Visitava a filha na maternidade em todos os horários de visita. Era sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Flores, enviou nem sei quantos buquê. Acho que um por dia. Os pedidos da filha era uma ordem. E quando encontrava um amigo falava entusiasmado do neto e não esquecia de dizer que ele tinha o seu olhar. E assim se passou o primeiro mês. No segundo mês de aniversario do netinho sua filha precisou sair para fazer umas comprinhas com sua mãe(avó), e ele todo orgulhoso teve a oportunidade de ficar sozinho com o neto, que era a melhor coisa deste mundo.

_Será que o senhor toma conta dele para mim pai? Não vou demorar nada – disse a filha.

_Ah, pode deixar. Finalmente vou ficar sozinho com meu neto. Vai ser uma experiência única. Pode ir e demorar o quanto quiser. Quanto mais demorar melhor. Pode ir despreocupada.

As duas foram às compras confiantes no avô. E ele ficou velando o sono do bebê que já tinha mamado bem, fralda sequinha, tudo perfeito. Mas... de repente acordou e começou a chorar. O avô pegou-o nos braços, mas ele não calou. E o choro foi aumentando de volume e veio um soluço desesperado e começou a gritar, e chorar e gritar, e engasgar e gritar e chorar e soluçar.... Até que se lembrou do celular, mas só dava mensagem de indisponível, ligou para o genro, que estava em outra cidade trabalhando e mandou ele se virar.E a criança chorando e gritando e soluçando e o volume do choro aumentando. Não sabia mais o que fazer. Dava a chupeta ele chorava com a chupeta na boca, dava a mamadeira, ele engasgava e chorava mais e mais e mais... Só tinha uma coisa a fazer e foi o que fez.

Quando a mãe chegou das compras de longe viu o carro do Samu na frente da sua casa, o socorrista com o bebê no colo e seu pai desesperado andando de um lado para outro.

Assim que a viu entrar na casa já foi logo gritando estressadíssimo:

_Como é que você some e me deixa aqui sozinho, com esse monstrinho?

Joana Aranha
Enviado por Joana Aranha em 10/07/2009
Reeditado em 21/10/2016
Código do texto: T1692896
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