O GATO PRETO DA DONA MARIANA

Quando eu era criança, morava perto da minha casa uma senhora dos seus cinqüenta anos chamada Mariana. Todos na vizinhança tinham um “pé atrás” com ela, pois corriam boatos de que se tratava de uma poderosa feiticeira.

O fato é que a Dona Mariana tinha um comportamento meio estranho mesmo. Ela criava duas meninas que não eram suas filhas biológicas e ninguém sabia ao certo onde ela tinha ido buscar essas crianças. Um belo dia, apareceu com uma menina e depois veio a outra. Sabíamos apenas que eram duas uruguaias. Havia quem dissesse que as crianças tinham sido roubadas.

A tal senhora me adorava, quando me via, vinha correndo pra apertar as minhas bochechas e a minha mãe morria de medo que ela me raptasse e fugisse comigo-imaginem!

Além de crianças, Dona Mariana também adorava criar gatos. Acredito que ela tinha uns dez pelo menos. Ás vezes, tarde da noite, a gente via ela na rua, com dois garfos na mão, batendo um no outro e chamando os animais pelo nome. Um jeito meio estranho que ela tinha de chamar os gatos pra casa.

Na minha rua até hoje tem um aviário, e os bichinhos de estimação da Dona Mariana viviam rondando o estabelecimento. Um moço que trabalhava lá, tinha verdadeiro ódio dos felinos e uma noite resolveu assassinar um deles.

Dona Mariana passou a noite toda procurando pelo gato e quando amanheceu, um vizinho veio lhe informar que o bichinho tinha sido enforcado na garagem do aviário. Era um gato todinho preto. Ela chorou e rogou pragas pro assassino até não poder mais.

Pouco tempo depois, o moço do aviário começou a ter estranhas crises de asma e logo veio a falecer. Todos ficaram encucados com a morte do rapaz. Porque o coitado do gato ao ser enforcado, morreu sem conseguir respirar e o assassino dele, pouco tempo depois, veio a falecer do mesmo modo. Não foi enforcado, mas morreu no meio de uma crise de asma, ou seja, morreu asfixiado.

Alguns meses depois, Dona Mariana mudou-se. Não sei pra onde ela foi, mas eu nunca mais a vi.

Uma outra família veio morar na casa que era dela, mas logo foram embora. A casa ficou abandonada por um tempo e um dia, aparentemente sem nenhum motivo, começou a pegar fogo. Queimou inteirinha e no lugar dela ficou um terreno baldio que existe até hoje, porque nunca mais ninguém quis construir nada ali.

A Alquimista
Enviado por A Alquimista em 01/07/2009
Reeditado em 25/09/2009
Código do texto: T1676320
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