Minha Primeira Experiência Com Deus

Têm pessoas que viram um ídolo (cantor, ator, artista) e disseram que aquele dia foi muito especial, que foi um dia inesquecível, pois sentiram uma alegria imensa ao tocar num corpo famoso. As lágrimas descem do rosto com uma emoção – que para mim chega a ser insana – ao falar, lembrando-se do passado. Dizem que depois daquele dia, suas vidas nunca mais foram as mesmas. E eu fico pensando comigo: quanta loucura.

O interessante que esses absortos me assaltaram, despertando-me certa curiosidade. Que dia fora o dia mais feliz da minha vida? Certamente que é muito difícil escolher um, mas a primeira experiência sempre é inesquecível.

Foi quando comecei a viajar no tempo:

O ano era de 1991. Eu tinha apenas 11 anos de idade. Um menino franzino e queimado do sol. Meus cabelos eram secos, devido ficar tanto tempo expostos ao sol. Naquela noite um missionário tinha ido visitar a igreja que eu congregava juntamente com meus pais e meu irmão mais velho, no Jardim Botucatu, um bairro do Ipiranga, capital de São Paulo. A igreja estava lotada de gente. As pessoas que não cabiam dentro do templo ficavam no corredor da lateral esquerda, olhando o movimento de dentro pelas janelas.

Eu nunca tinha sentido nada de diferente em minha vida antes. Nunca tinha tido um contato com o Espírito Santo. Todos falavam que Deus era bondoso e amoroso; que Ele proporcionava uma alegria de espírito indescritível, uma felicidade que era completamente diferente daquela que o “mundo” tem a nos oferecer. E os irmãos bradavam dando glórias a Deus, dando aleluias ao Salvador. Uns choravam, outros cantavam... Eu não entendia por que choravam tanto e por que gritavam. Eles poderiam exaltar a Deus moderadamente, eu pensava assim como todas as pessoas que nunca tiveram um contato com o Criador.

No entanto eu não sentia nada. Ora, eu era apenas uma criança. Eu parecia o profeta Isaías antes de ter um contato com o Todo Poderoso, que ficou 10 anos indo à igreja sem sentir nada de especial em seu ser.

E o missionário cantava todo entusiasmado, acompanhado pelos músicos que improvisavam por não conhecerem a canção que era do próprio missionário.

Na porta do templo Pedro falou:

Levanta e anda.

E o coxo levantou. (2 bis)

Levanta e anda em nome de Jesus (4 bis)

Não tenho ouro,

Não tenho prata,

Mas o que eu tenho

Isto eu te dou. (2 bis)

Eu fechei meus olhos mesmo sem sentir nada. Queria ser mais sério naquele instante. Mais sério com Deus. Por que senti aquela vontade? Não sei. Simplesmente a obedeci. Enquanto a música agitada era entoada ao Senhor dos senhores eu dizia moderadamente para ninguém me ouvir, pois tinha vergonha:

- Aleluia... Aleluia... Aleluia...

Eu não sabia louvar a Deus com palavras bonitas. Não sabia dizer que Ele é grande, que Ele é maravilhoso, Rei dos reis, Senhor dos senhores, Deus dos deuses, Pai da Eternidade, o Príncipe da Paz... Eu não sabia! Mas continuava dizendo do fundo do meu coração, sentado no banco, sozinho, com a mão esquerda tampando meus olhos:

- Aleluia... Aleluia... Aleluia...

E eu fui sentindo algo diferente em meu ser. Algo que eu não nunca tinha sentido antes. Algo que era muito gostoso. Não era torpor. Não era loucura. Eu era apenas uma criança, pura. Já tinha ouvido falar que “da boca das crianças é que sai o perfeito louvor”, mas eu não pensava nessas palavras que Jesus dissera aos seus discípulos. Eu sentia uma alegria simplesmente inefável.

No momento a canção havia cessado e o missionário se pôs a orar por todos os presentes. Pessoas eram curadas de câncer, hérnia, cegueira, dores e todos os tipos de enfermidades e males. Ninguém estava pensando ouvir minha voz, pois todos queriam ter suas próprias experiências com Deus. Por causa disto fiquei mais destemido e me pus a sentir meu louvor, prestar meu culto racional a Deus. Sabia que estava fazendo de bom grado. E minha alegria aumentava cada vez mais sem nem mesmo eu perceber que minha voz estava se elevando aos poucos. Já não conseguia conter as lágrimas que caíam abundantemente dos meus olhos ledos, escorrendo pelo meu rosto infantil e ainda sem espinhas.

- Aleluia! Aleluia! Aleluia!...

Agora eu dizia em alto e bom som para todos ouvir e sem intervalo de tempo entre uma aleluia e outra. Meu espírito queria engrandecer a Deus – e somente a Ele – e estava sendo mais forte que todos os pensamentos contrários que pudessem me assaltar no momento.

Depois que o missionário terminou sua oração, ele passou o microfone para o pastor local e muitos irmãos ainda bradavam quando ele, nosso pastor, começou a dar os avisos finais. E assim como muitos irmãos eu ainda continuava nas minhas “aleluias e glórias a Deus”. Quando os avisos se acabaram o pastor começou a orar para o término do culto e eu ouvi os irmãos orando fervorosamente. Mais uma vez eu senti um ímpeto de continuar engrandecendo e louvando ao nome do Deus que fez o céu e a Terra, com mais entusiasmo ainda.

Então a oração do pastor se acabou. Ele deu a bênção apostólica: porem eu e mais alguns irmãos continuavam glorificando a Deus. Eu não conseguia distinguir os bulícios dos irmãos que tagarelavam uns com os outros. Conseguia captar somente os irmãos fervorosos que não estavam conseguindo se controlar com a presença do Espírito Santo naquele átrio.

Foi então que, meu pai me pegou pelo braço e me levantou, dizendo que o culto havia acabado e que já era a hora de irmos embora. Ora, eu sabia que o culto havia acabado! Mas eu não estava com pressa de sair da presença de Deus. E, meio que contrariado fui levado para fora do templo por meu pai.

Minha mãe me olhava com olhos de extrema felicidade. Era o seu Cairinho que estava chorando na presença do Altíssimo. E isto a agradava muito, pois era bem melhor ver um filho conversando com Deus do que conversando com gente que não presta.

- Lindo (o nome carinhoso que minha mãe costuma chamar meu pai) vamos pedir para o missionário orar por ele. Ele pode ser batizado no Espírito Santo.

Meu pai concordou com o pedido da minha mãe e nós três entramos novamente ao templo, onde o missionário ainda orava por outras pessoas que lhe pedia oração. Enfermos, pessoas com problema na justiça, pessoas com problemas familiares e outras pessoas como a mim: que só queria receber o Espírito Santo e ser selado por Ele.

- Ele não consegue parar de glorificar a Deus – meu pai disse ao missionário se referindo a mim. – Ore por ele para que ele seja batizado no Espírito Santo e com fogo.

- Então vamos orar? O missionário, que era negro e mirradinho, perguntou. Meus pais concordaram. – Vocês têm fé? – E novamente meus pais concordaram com um menear de cabeça. – Ó Pai Santo que está nos céus – ele começou orando – estamos aqui diante de sua face, diante da sua presença para agradecer-te por esta vida, para te engrandecer ó Deus Altíssimo; estamos aqui para lhe pedir o batismo com Seu Santo Espírito. Batiza. Batiza. Batiza. Em nome do seu filho amado.

O missionário estava empolgado e fervoroso em sua prece, enquanto eu não conseguia controlar meus nervos e os músculos do meu corpo magro, porque eu tremia igual a vara verde. Um calor etéreo tomava conta do meu corpo e eu não pensava em nada. Só sentia aquele desejo incrível de engrandecer ao Senhor – que agora eu não conhecia só de ouvir falar e sabia o porquê que os irmãos gritavam tanto.

- Aleluia! Aleluia! Aleluia! Glória! Glória! Glória! Glória!.... Eu repetia as mesmas palavras numa velocidade incrível. Meus olhos apertados e fechados. A boca e a garganta doendo de tanto falar em um tom de voz elevado.

- Creia em Deus e seja batizado no Espírito Santo, em nome de Jesus! Ó Deus desenrole a língua dele para que ele venha a falar na língua dos anjos.

De repente minha língua se enrolou toda dentro da minha boca – e não era convulsão que eu estava tendo. Não conseguia mais controlar as aleluias e glórias a Deus. Deixei o Espírito agir de uma vez por todas em minha vida... E começaram a sair os primeiros ri-ri-ri... (com o ‘R’ fraco). O missionário pôs o microfone perto da minha boca e todos os irmãos que estavam dentro e fora do templo me ouviram falar:

- Ri-ri-ri-ri-ri-ri-ri…

Eu não sabia o que significava aquilo. Só sabia que meu gozo era inefável.

- Ele está batizado no Espírito Santo! ALELUIAS!!! Deus seja louvado – o missionário elucidava as boas novas bradando de felicidade.

Eu não conseguia mais parar de falar a língua dos anjos. E tremia todo, quase que incontrolável. Por isso meu pai me conduziu novamente até a saída do templo, depois de algum tempo que eu estava falando em mistério com Deus. Meus primos, primas, tios e tias, amigos e amigas que ainda estavam à frente da igreja se perguntavam se eu tinha sido ou não batizado. Pergunta tola por sinal, pois dava para me ouvir claramente mesmo eu estando com os olhos fechados e a mão à frente do rosto, pois eu continuava a falar em línguas nas calçadas movimentas do bairro do Ipiranga. Na Avenida Padre Arlindo Vieira as pessoas olhavam para meus pais e para mim, ignorantes ao que estava acontecendo. Um irmão de outra denominação nos parou e perguntou o que havia acontecido.

- Hoje o culto lá na igreja foi uma bênção e meu filho foi batizado no Espírito Santo.

- Glória a Deus! O irmão exclamou, dando graças a Deus por aquela bênção.

Chegando em casa – eu ainda falava em língua estranha – meu pai olhando para minha mãe que estava comovida e meu irmão mais velho que não sabia o que falar, disse:

- Vamos orar?

Todos concordaram. Menos eu, porque não podia responder. Afinal eu já estava orando desde que saí daquela igreja abençoada até aquele momento.

No quarto dos dois cômodos da pequena e humilde casa que havia várias goteiras, meu pai, minha mãe, meu irmão e eu nos ajoelhamos no chão e encostamos nossos cotovelos na cama de casal. A cerviz de cada um de nós estava pendida em reverência ao Altíssimo.

Meu pai começou a orar.

- Ó Pai celeste. Estamos aqui na sua presença para te engrandecer e te dar louvores; para te agradecer por mais um dia de vitória que tu nos concedeste, porque tu és bom e tua benignidade dura para sempre; porque tu mereces todo o louvor, glória e poder...

- Ou!... Glórias a ti Deus Todo Poderoso... – minha mãe orava.

- Aleluia! Aleluia! Aleluia!... Meu irmão que sempre fora mais duro de coração também glorificava a Deus. E as lágrimas desciam de seus olhos escorrendo pelo seu rosto com suavidade.

- Ri-ri-ri-ri-ri-ri-ri… Eu não parava um só segundo.

De repente meu irmão começou a ficar lívido. Seu corpo tremia e sua língua começou a se enrolar. Meu pai empunha sua mão sobre a cabeça dele e pedia a Deus o batismo.

- Érbias tche rei go sôvrias... Meu irmão começava a falar em outro idioma, palavras que eu nunca tinha ouvido antes em minha existência. Era um idioma lindo, muito diferente daquele que eu estava falando. Ele também estava sendo batizado no Espírito Santo.

E naquele instante de comunhão sublime com Jeová nós, eu e meu irmão, começamos a orar em línguas estranhas. Eu não ficava mais só nos ri-ri-ri-ri-ri, também variava a voz assim como ele. Deus estava conosco naquela pequena alcova e nós conversávamos com Ele na língua dos anjos. Não merecíamos aquela graça, mas Deus é bom...

Sei dizer que nós paramos de orar mais de três horas da madrugada, enquanto meus soluços permaneceram no beliche de cima por um bom tempo ainda. Até me batia certa incredulidade: por que eu? Eu me perguntava. Achava que não merecia aquela graça. Mas quando olhava para o fundo do meu coração não me sentia culpado. “O Espírito Santo não pode conviver com o pecado”, eu pensava. E não estava errado, porque uma paz de espírito me invadia... e eu dormi tranquilamente àquela noite.

Já me encontrei com muita gente. Já vi muita gente famosa. Mas o dia que mudou completamente a minha vida foi o dia que eu tive um encontro verdadeiro com Deus, pois Ele me batizou no seu Santo Espírito. E eu sou muito grato a Ele por sua graça.

09/06/2009 20h08

Cairo Pereira

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 30/06/2009
Reeditado em 12/10/2018
Código do texto: T1675687
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