MÃO DE SEDA

Foi-se o tempo dos meninos felizes! agora... agora tenho minhas dúvidas, até mesmo pelo aspecto do que hoje se traduz ser, a felicidade.  Eramos meninos criativos em nossas brincadeiras de meninos; meninos com mente de meninos que mesmo em suas maldades, hoje se traduz inocência de ser, como eramos nós.  Não nos preocupavamos em querer ser homem grande, embora por vezes nos pegavamos brancando se assim o fosse, mas sem deixar a pureza dos meninos de então. Era tudo um faz de conta...

A ausência da tecnologia, da industria dos brinquedos e na mesma lentidão com que a informação se propagava; era o ritmo com  que cresciamos e as coisas se desenvolviam... acontecia! lento como o passar dos dias.

O que por um lado parecia um atraso de vida, hoje diriamos que era uma forma de preservar os valores morais, éticos e até mesmo ambientais. Graças a lentidão e a falta da tecnologia, chegou-se até o inicio da década de 80, intacto, a beleza do cerrado, o encanto do nosso rio e a pureza de alma dos meninos de Correntina. 

Um jornal ou revista levava semanas para chegar ao interior do país, até então desbravada apenas pelas ondas do rádio, que alcançavam todos os rincões brasileiros. Logo, as escolas se limitavam aos livros e neles concentravam o ensino e a função de bem educar. A palavras empenhada era uma questão de honra  hereditaria e a família, uma instituição próspera e coesa em seus fins.

Com o pouco que tinha e aproveitando-o ao máximo, minha geração e as passadas, cursaram o primário, o ginasial e o normal, graças a abnegação do missionário da Guiana Francesa,  que um dia chegou a este ninho perdido nas matas, no lombo de um jumento e tinha que ser no lombo de um jumento, a chegada do salvador cultural de nosso povo, o Reverendo Pa. André Frans Berenós.

Na década de 60, no curriculum ginasial era optativo duas linguas estrangeiras, francês e inglês; eu estudei francês, por dois anos com a Professora Anísia Moreira, que também ensina inglês e  nos dois anos seguintes estudei Inglês  com a Professora Ena Rocha. Além das disciplinas convencionais tinhamos o ensino básico religioso, Moral e Cívica, com teoria e prática, que nos ensinava como amar nosso país e  seus valores morais; sem me esquecer da querida professora Artuzita Santana, que ensinava português com tanto amor, que tornou-se a mais querida professora de português do municipio de Santa Maria da Vitória, hoje com grupos organizados na internet, que declaramente se intitulam seu fãn-clube.

Já o meu pai gabava-se de ter estudado o latim! A escola pública era o orgulho de ser pública, com qualidade de causa e efeito. Foi com este ginásio, cursado no Educandário São José (Correntina) e Colégio Popular Oliveira Magalhães, em Santa Maria da Vitória, eu e tantos outros, pegamos o pau de arara e saimos para enfrentar a vida na capital: Alguns para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasilia, Salvador... ganhamos o mundo, escrevemos nossa própria história... e olhe que eu, não sendo um dos melhores alunos, conquistei meu espaço, tenho em mim a consciência de ter honrado o nome de meus pais e cada um de meus professores. 

Hoje, com a tecnologia de fácil acesso, o rádio, televisão, o computador, a internet, o mundo dentro de nossa casa, interagindo no nosso dia a dia, disponibilizando  a informação com menor esforço, a qualquer tempo e lugar; a faculdade presencial e a distância, tudo com tamanha facilidade que em determinados casos, promoveu um desequibrio no processo natural com que as coisas aconteciam. Em tudo passou a ter a influência da tecnologia, que fez transgenica e genérica a vida ! 

Infelizmente o que favoreceu para o bem da humanidade, também trouxe consigo males irreversíveis, quando utiliza-se de toda a tecnologia, da tecnologia, para pratica de crimes antes nunca imaginávies e de todos os males, vejo o conhecimento precoce,  a informação fora de hora e fora do tempo e nesses casos, deturpou o desenvolvimento, preincipalmente na vida das crianças. 

Floreceu a maldade, como erva daninha no absurdo de vê crianças violentadas no seu desenvolvimento precose, professores agredidos em salas de aula e o Estado falido em suas funções constitucionais de assegurar ao cidadão, escola, saúde, trabalho, segurança o que banalisou a  vida do ser.

As escolas,  os quatéis e o palácios, transformados em covil de trafricantes, marginais, bandidos armados da constituição eleitoral e federal,  roubam a dignidade da pátria e hoje assistimos, também, a extinção da honra, do civismo e da ética; sentimentos  mortos, nas gerações de hoje em dia.

O que foi que fizeram com a educação no meu país ? Por quê será que acabou o sentimento patriotico dos jovens, por quê será que acabou o respeitos aos mais velhos, o respeito as simbolos patrioticos ? Por quê será que os politicos e a polícia hoje são incluindos entre as classes menos confiaveis desta nação?

É doído ter que admitir que é tudo consequência do abandono da escola;  a desvalorização dos profissionais educadores, por partes dos governantes;  principalmente em relação a escola pública; antes  um orgulho de todos nós, pais alunos e professores.

As facilidades de acesso a informação, sem limites de idade, sem o patrulhamento da escola ou dos pais, o exagedo as liberdades; transformaram nossos jovens,  os fazendo homens e mulheres precoses, fragilizados diante da Era tecnológica e da maturidade espiritual, para lidar com suas próprias emoções. O que acaba por ser a causa da falência multipla da sociedade alternativa. Que me permita lembrar o poeta latino Juvenal,  para citar seu célebre provérbio ''mens sana in corpore sano''.  Foi um estilo de vida, hoje subtraído pela vergonha a que somos submetidos: Um Senado Federal desmoralizado, uma Câmara de Deputados sem ética, uma geração de políticos corruptos que disciminou este mal do século a todos os níveis da vida humana...

Naquele tempo, não muito distante, meio século atrás, quando eu ainda era menino, crescí ouvido dizer que eu seria o futuro de meu país ! Acabei descobrindo que fui uma voz no deserto e só não me dou por decepcionado, porque não deixei o silêncio por herança, para aqueles que de mim tomarem conhecimento da existência; vou levar comigo, até o último passo, a certeza de que vivi uma época em que as pessoas realmente tinham alma pura; tinham vergonha em ser classificada ao contrário; tinham vergonha de serem desonesta e orgulho de sua própria integridade. Cada um recebia sua porção de conhecimento na hora certa de saber o que saber. Alguns ariscavam por sí, a desvendar os segredos do sexo, tão bem guardado!  o que era um verdaeiro encanto, quando se dava o saber e conhecer, a dois; o indiscritível momento da descoberta, da conquista... do amor.

Será que melhoramos na distribuição de nossas riquezas ? Será se melhoramos no conhecimento, na cultura ? No Brasil de meus pais os casais se realizavam com uma média de 4 a 10 filhos e ninguém morria de fome ou de tédio; a questão financeira não determinava o tamanho de cada sonho! Não havia infelicidade nem disturbios na mente da criança, por não ter uma bicicleta, e se uma houvesse em um lar de dez irmão, era devidamente compartilhada, como era compatilhado o carrinho, a boneca, a bola de borracha ou o velho capotão de couro, nas peladas de todas as tardes... Os meninos brincavam no fundo do quintal, onde faziam seus currais, enchiam de boi de osso, que eram negociados com uma moeda representada pelas carteiras de cigarros: Continental, Hollywod, Berveli e outros com seus valores especificos. Até mesmo quando doentes, éramos mais felizes, quando de cama éramos assistidos com o carinho da mãe, principalmente quando lá vinha ela, amável, trazendo umas bolacha de sal com guaraná para estimular nosso apetide... que felicidade comer bolacha de sal com guaraná... e quando trazia uma maça, cheirosa, num papel azul embrulhada... comiamos a maçã e o papel era guardado no bolso até perder sua essência. 

Meu Deus como eu era feliz naquele mundo inocente, a correr pelas ruas da cidade montados em  cavalos de paus,  ou  giando uma roda de ferro por um guiador de arame sem conhecer obstáculos... Aos 10, 11 ou 12 anos de idade, tomava banho pelado na beira do rio... tamanha pureza, nunca mais! Eu crescí e sonhava ser um homem público, político, mas desiludido cancelei tais sonhos.

Toda esta inocência, será que fez algum mal aos meninos do meu tempo de menino? Qual de nós sofre de esquizofrenia, crises psicóticas ou vicios incuráveis ? Louco era louco e andava solto pelas ruas, como ladrão era homens maus presos pela politica, sem que a justiça os libertasse por ter curso superior ou ser empresários ou politico influente, mesmo ladrão.  O que dizer dos dias de hoje?  Hoje trememos quando avistamos uma barreira policial e vomitamos quando se profere o nome de alguma liderança política. Que dizer quando vivemos numa sociedade prisioneira pelo medo da violência, vítima da corrupção desmedida em todos os níveis. Com tão poucas excessões!

As meninas eram meninas, até que chegasse aquele grande dia, em que debutasse; aí, toda "impiriquitada", se vestiam e maquiavam; se sepavam das outras amiguinhas mais novas, por enfir ter chegado sua hora de sonhar em ser e se portar, como  mulher!  Não era o primeiro ciclo mestrual quem definia o inicio da vida adulta;  isso era apenas um aviso, ocorrido geralmente aos 15 anos,  de que uma nova vida teve começo, na vida da jovem adolescente.  

Em meios a esses meninos, eu conheci Dilmo, mais conhecido por Dilmo de Verinha. Era um dos filhos mais novos da prostituta Vera Maria; Ela pariu pra lá de uma dúzia de filhos; apesar da sina que vida lhe deu; era uma mulher bem acolhida em meio as familias correntinense, óbivio que não frequentava a sociedade, oficialmente, mas era uma mulher despachada na faixinha domestica  e boa, muito boa pra pegar barriga.

Mesmo sabedora da indiferença dos pais de seus rebentos, que lhe embuxava e "nem aí" para quem fosse nascer; ela continuou botando filho no mundo até o fim do seu ciclo de fertilidade, talvez mais por razão de sobrevivência, do que por prazer intimo, que fosse paixão ou safadesa. A vida já tinha traçado o destino de Verinha. Muitos casos eram hereditários, como aconteceu com Raimundona, uma velha prostituta negra, com mais de 1,90 de altura e muita anca;  contemporâna de Verinha. Todas as filhas de Raimundona  acabaram na mesma sina, entrando para vida de prostituição; o que não foi o caso de Verinha.  Sua mãe era uma velha viúva que morava em companhia da filha mais nova, que não se deu ao casamento, nem a perdição. Nunca "bedelhei" este lado da vida de Verinha, nem a vida de ninguém, em Correntina, apenas vía o que todos viam, na rua e guardava por vezes até inconsciente, tudo que um dia resolvi escrever e não sabia que tanto sabia.  A Mãe de Vezinha e sua irmã  tinham uma cara fechada... amarrada... mal humorada,  de poucos amigos, tanto mãe e filha,  talvez a discriminação da sociedade, quanto a filha prostituta e a coragem delas em não abandonar a sorte a pobre irmã e seus rebentos. Até mesmo na igreja as vezes que as ví, mantinham o mesmo padrão de comportamento solitário, de pouca prosa. Muito reservadas. A irmã de Verinha foi quem acabou sendo a tábua de salvação dos sobrinhos, pois a eles só sobrou a velha tia, com a morte da vó e da mãe.

Eles sobreviveram a dureza do tempo e da vida, preconceitos, humilhação, mas nunca abaixaram a cabeça diante daquela sociedade hipocrita; enquanto viva, a velha  matriarca foi pai e mãe dos filhos de Verinha,que se aninharam a sua volta. 

Não resta dúvida que Vera Maria, foi mais atirada na vida de moça donzela, "caiu na vida" e na vida ficou. Rarissimo era uma moça, ficava puta, restabelecer socialmente.

De todos os amores de Vera Maria, apenas o raparigueiro Juvencio Crisóstomo teve o brio de assumir suas crias;  ele ajudava no que podia ajudar, chegou mesmo a ir morar com Vera em sua modesta casinha, lá pras bandas do Buração. Dizem as más linguas que  Juvencio engravidou Vera por três vezes e nas três, nasceram "fia mulher". eu perdi as contas dos tantos filhos que teve Verinha, tanto homem como mulher. Deles fizeram parte de minha vida, a filha mais velha, que junto comigo estudou no Educandário São José e três dos filhos homens mais velho, o mais moço tornou-se personagem desta história, embora contada com nomes ficticios por uma questão de ética, respeito, privacidade, entenda como quiser entender, eu vou sentir-me melhor contando desta forma, pois para quem conhece ou conviver com esta história sabe tim-tim do que estou falando. 


Quanto a Juvencio, apesar de ser um rapaz dado a farra e bebedices, era um rapaz de boa indole e bom coração,  teve uma criação cristã, seguir ou não os mandamentos ensinados pelo pai e pela mãe, um pioneiro casal de missionário, os primeiros a se ter registro, habitou Correntina e nela intrudoziu o evangelho, seguindo os principios da Biblia, pregada por Martins Lutero, o missionário protestante que se revoltou contra Roma e o seu papado. Esse casal de missionários se instalaram na cidade, entre as décadas de 40 e 50. Confessou-me a viuva do Missionário Crisóstomo que foram anos dificeis juntos enfrentaram verdadeira discriminação religioso e social,  por serem "protestantes" e somente com a chegada de Padre André, conseguiram harmonia religiosa e social. Pa. André fez questão de visitar o casal de missionários e demonstra-los de que jamais faria algo que impedisse a prática sua  fé e a liberdade de culto.

Juvêncio Crisóstomo estudou o que tinha a ser estudado no Educandário São José, coordenado pela Igreja Católica e alí os filhos dos missionários  não sofreram discriminação; tempos mais tarde, fins dos anos 70,  a  igreja Batista de Correntina, acabou trazendo uma professora missionária do Rio de Janeiro, Profa. Aldazira Alda, que acabou abrindo uma escola na pequena Igreja Batista. Durante o dia o salão funcionava como escola e durante a noite, era aberta para cultos religiosos. Foi alí que concluí a 4a. série primária e me preparei para admissão ao ginário. 

...

Dilmo, que segundo as más línguas e sua aparência, tinha utdo para ser filho de Dilson, um motorista da prefeitura municipal;  porém era apenas um moleque entre seus sete e nove anos de idade,  na ocasião que aconteceu este causo. Andava sempre de boca suja, provando que acabara de comer e o que comeu estava amostra pela barriha e cara suja. Pequeno, pançudo camisa sempre desabotoada, a pança a vista e de  olhos atentos a uma comida fácil. Um descuido e ele passava a mão no que fosse digno de ser apreciado por seu insaciável apetite e dava no pé! daí a razão do codinome, Dilmo Mão de Seda, o que queria dizer, mão que deslizava... mão leve!



Não se pode reclamar da maternidade de Verinha, era uma mãezona, apesar da vida de cão, que vivia como prostituta. Era comum encontrá-la pelas ruas, entre sete e nove horas, botando suas crias para casa. Estava na hora deles dormirem, para então ela sair, a caça de quem lhe desse o sustento do dia seguinte. Não saia pra noitada antes de ter a certeza de que todos estavam na cama; porém nem sempre dava certo reunir todos e quando saía, nada garantia que os filhos homens, novamente saissem. Até então a única filha mulher de Verinha vivia sob a guarda de de Leonor, sua vó e Lindalva sua tia. Maria da Graça era tratada como princesa, tinha uma vida normal como toda moça de familia; foi minha colega de classe da 2a. a 4a. série ginasial. Possivelmente as filhas mulheres que vieram depois Gracinha não só tiveram o apoio da vó e tia, como também de Juvêncio.

Um dia, eu, Mundinho de Godão, Nonato de Zé de Malvina estávamos sentados na mureta do mercado municipal. Era sábado, a feira estava em seu grande momento; quando Dilmo chegou e por pilheria lhe fizemos um desafio.

- Se você conseguir pegar um monte daqueles tijolos (doces caseiro empalhado na palha de banana), ganha dois mil cruzeiros !

- Dois é muito, basta milão e eu pego um monte!. Deixa eu vê o
dinheiro!.

Logo logo, Nonato mete a mão no bolso e mostra uma nota de cabral ...

- Se você se der mal, não temos nada haver com isso! Não vamos estar aqui para lhe tirar da surra!

- me tarante me dar Milão e o resto é comigo !

- Tá garantido?  Tá aqui, Milão na mão de Toinho, é seu.

- Qualquer coisa agente corre pru lavador, lá eu dou o dinheiro!

- E os doces?

- Agente come lá mesmo ué!


Lá foi Dilmo Mão de Seda, por a prova sua fama de mão leve. Se era mesmo verdadeira sua fama, naquela hora teriamos a prova final. Sob nossa observação ele ia descontraído, tranquilo da vida e nós, na mureta do mercado, tensos, arrependidos de ter feito a Dilmo tal desafio. Não acreditávamos que ele tivesse tal coragem;  passar a mão em três ou quatro doces empilhados na esteira... (tijolos), no meio de uma feira e sair correndo era loucura! logo, logo, alguém gritaria:

- pegaria ladrão ! e aí baú, baú, tá na mão de Cabral!

- Naquele instante chega Neto de Cordeiro e junta-se a nós, percebe nossa tensão e...

- Quê tá acontecendo aí !

- Bicho !  desafiamos mão de sede e olha lá! Ele foi pegar um monte de doces da véia alí...

- E... vai se ferrar ! 

Dilmo chega até o local, disfarça olhando de um lado e para o outro... esperava talvez o momento exato para o ataque,  quando a mulher, dona dos doces se descuidou...  Ele agachou-se  veloz como o vento, apanhou os doces, virou-se para sair...  deu um  passo... outro... e voltou-se para a mulher!  Naquele exato momento ele se voltava para ele; Os dois se olharam e conversam alguma coisa, rapidamente;  percebemos pelos gestos de mãos que a mulher mandava ele sair de perto.
 

Ficamos sem entender o que tinha acontecido. Pensamos que Dilmo pedira autorização para sair vendendo os doces pela feira. No que invalidaria a aposta. Os doces não teria o mesmo gosto, se fosse levandos enganando a mulher, era como galinha roubada na madrugada, sem que o dono estivesse entre os ladrões da penosa.  

Dilmo tomou a direção de quem entraria no mercado, saíndo do espaço livro da feira e chegaria até pelas costas; tudo seria esclarecido, mas não levaria o cabral, quando... gritos nos alertou para o local onde estava a mulher:

- Fui roubada ! ladrão ! ladrão!

Neto de Cordeiro olhou para o local e gritou para nós morendo de rir:

- O moleque conseguiu !!! como ? como enganou a mulher para levar os doces!

Olhamos para vê onde esta Dilsinho e nem poeira dele, sumiu no  na parte interna do Mercado e para não chamar atenção para nós, na mureta, de fininho tratamos de botar o pé no rumo do lavador e fomos correndo prá lá, deixando a muvuca das pessoas olhando em todas as direções, procurando o tal ladrão de tijolo...

Quando chegamos Dilmo já estava lá, sentado numa pedra grande, com os pés n´água, abrindo um dos doces...

- Vocês me devem milão, cadê Toinho! Meu cabral !

- Calma cara! primeiro conta o que aconteceu na feira.

- Não valeu nada, (disse Nonato) Você pediu a mulher para sair vendendo os doces!

- Eu não pedi pra vender nada !

- Mas como você pegou os doces, conversou com ela...

- Peguei os doces e ía correr, quando lembrei que se alguém gritasse pega o menino!  eu não dava mais um passo e tava cheio de braço me agarrando.

- E o que você fez cara ! (peguntou Neto de Cordeiro admirado e já sorrindo, como se adivinhasse o que tinha acontecido)

- Peguei quatro tijolos! dei um passo... dois...  e quando virei, ela virou também olhando de cara na minha cara...

- E ví ! eu ví e aí (indagava Neto)

- Ah ! eu perguntei ela na bucha: - Dona você quer comprar meus doce?

-  Meu Deus ah ah ah ah ah este cara é um gênio ! e ela  e ela!

- Ela disse: tá louco menino ! olha o tanto de doces na minha esteira!

- Se a senhora não quer vou vender na frente !

- E bem longe de mim menino maluco...

-  ah ah ah ah!!! este menino é um gênio.

Neto não se continha em risos e foi quem mais se divertia com tudo aquilo.

O acordo foi mantido e Neto ainda assegurou a Dilmo ir mais tarde para o campo de futebol no ônibus da Viação Badeco, onde Cordeiro, pai de Neto, era o motorista.

Conclusão Dilmo, depois deste dia, teve sua fama coroada. Neto não se cansava de ouvir e contar o causo nas rodas de meninos. Até Carlito Badeco e Miro, donos da empresa de ônibus que fazia a linha Correntina Goiânia, se desataram em risos, quando Neto lhes contou o causo verdade, que aconteceu com Dilmo, Mão de Seda, filho de Verinha.

* Este causo foi real e os nomes principais
aqui mencionados, embora semelhantes, são fictício.

Flamarion Costa
Enviado por Flamarion Costa em 18/06/2009
Reeditado em 14/09/2011
Código do texto: T1654902
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