Espere que vou contar

Meu senhor, minha senhora eu agora vou dizer

Meu senhor, minha senhora pra você que quer saber

Chegue cá esse menino, chegue cá essa menina

Pra poder me escutar, pra poder bem me escutar

Eu agora vou falar, é, eu agora vou que vou falar

É um caso curioso que aconteceu lá onde não sei

Lugar onde o forte vento esquecido faz a curva,

Deixando órfão, viúvo e viúva, a mulher barbada

Sem nada ou quase nada: escrúpulos, dor de dente,

ambição, prisão de ventre, mal olhado ou mágoa,

Impedindo do seu jeitinho a história de acontecer.

Eu agora vou falar, é, eu agora vou falar

E se quiser me escutar abram bem os seus ouvidos

Esquentem bem os seus assentos que que daqui do meu lugar

Estou doidinho pra falar.Eu agora vou falar, eu agora vou falar..

Se não foi feitiço rebolado de lá pra cá, só pode ter sido praga de sogra... Vá de reto sonho torto, vá de reto pros quintos de onde você veio. Atirei no que vi, acertei no que não vi e o bicho? Macaco, pode uma desgraça dessa. Sonhar com um bicho que pula de galho em galho, come banana e faz careta? Figa, figa três vezes figa...

Hoje pela manhã quando acordei vi tudo escuro e logo pensei, meu Deus, será que estou morto? Mas como? Ontem a noite tova sentado na calçada de casa fumando meu brejeiro quando o compadre Tom peixeiro passou e me chamou pra pescar. Saí amontado na garupa da bicicleta, subimos na canoa, estiramos a tarrafa de três maios e... Será que ela afundou e estou na barriga de uma baleia? Tudo tão escuro. Será que acabou o gás e apagou a lamparina, será que ainda é noite e não acordei? Onde estou? Será que meu vale vida venceu? Procurei sentir as pernas e nada, tentei mexer com os braços, pior ainda, tentava me comunicar com o bigulim e quando não que penso... Foi quando de repente, um grito de rasgo de boca banguela me trouxe a realidade: "Acorda diacho, pau de lata encalhado, cabo de enchada aposentado, passarinho que não deve a ninguém a tempo que canta e você que deve o mundo inteiro não tem fim de desapregar esse rabo do colchão? Levanta desgraça, pensa o quê? Que vai ficar o dia inteiro soltando peido pro vento"?

Pronto, daquele momento em diante já vi que tava pensando errado, foi quando percebi que uma coisa ruim deu assim em minhas carne, num sabe, a carne começou logo a tremer e até pensei que ia dá um pirepaque. Passei a mão ligeira pelo olho direito e percebi que ainda permanencia fechado, é que tinha tanta remela que não conseguia abrir, logo daquele lado que era o lado claro do quarto. Pulei da cama com mais de mil uma cocada e por desgraça, diga o que aconteceu, infinquei o pé esquendo no penico cheio de mijo, pode? O diacho da veia não tinha colocado o mijo fora, pode uma desgraça dessa? Virei bicho, soltando fogo pelas narinas, fiquei uma arara, batendo as asas que não tinha. O diacho da veia tinhosa tinha se esquecido de levar o capitão para fora e olhe que ainda era quarta- feira e nem era dia de tomar banho. Aquilo me deu uma raiva, me subiu o sangue que fui ao banheiro achando que tinha tomado água de cuia, ou se não negado desejo a mulher prenha, só podia ser praga, né não?

Pois bem, chegando no banheiro, foi outra murrinha, coloquei o dedo assim, espia, no tanque e pense, pense da água fria da gota serena, parecia bundinha de anjo. Pelo retrocesso que me deu no estômago, espiei assim como quem não quer nada. Quando menos que não, olhei por lado, olhei pro outro, vi que ninguém via, vi que tava sozinho e como que me esperando, pense comigo, olhei para a parede de cima do tanque de água e pendurada num prego tava lá olhando para mim e não é que pro sorte, vi, assim, pendurada na parede, num prego, em cima da privada, a calçola da veia, pegue, oi o tamanho, aquilo nas mãos de uma boa costureira, desmanchada, dava pra fazer duas camisas pra eu. Fui molhando e passando no corpo, quando penso que não, aquele cheriho de azedo no corpo, ai que beleza e nem precisou passsar a água de cheiro. Puxei assim a chapa, passei uma pastinha, bocejei bem a boca e fui pra cozinha querendo tomar assim uns quatro carocinhos de água. Pego o caneco, quando vou me aproximando, outro rasgo: "êpa, tá pensando em fazer o quê? Pensa que tem água? Tem não, o dia de água foi ontem, fui ao médico mostrar a minha última sonografia e meu exame de bosta e de mijo, ninguém ficou em casa, ninguém aparou, tem água pra beber não, só amanhã.

Aquilo só não me deu uma trombose porque tenho certeza que nasci numa encruzilhada, porque o coração parou de bater por alguns grãos de tempo. A alma saiu do corpo e quando ia fazendo a viagem eterna, atraquei-lhe pelos pés e disse que voltasse que ainda não era hora de partir. Aproveitei o caneco e me dirigi a mesa, tomar um golinho de café, quando pego na garrafa, só ouço a gaitada: "ahahhaahahhaha....Vou logo dizendo: Tem café, mas não tem açúcar", aí eu disse que de amarga já basta a vida, ela disse:" tem arroz ,mas não tem sal", aí eu disse que era melhor que não subia a pressão, ela disse:" tem feijão mas não tem mistura", ai eu disse:" melhor, tem pra que essa frescura de comer carne todo dia, se comer carne todo dia, de tanto mastigar, caem os dentes, o prejuizo é maior, além de aumentar o ácido úrico do corpo e aja doença. Feijão tem que mastigar, carne também , é trabalho demais, você não acha não"? Pois bem, peguei um tamborete pra mode me sentar e dar umas baforadas no meu cachimbo e não esqueci que o traste era lascado, mas seu menino, foi só sentar, no aperreio do banho, pois num tinha esquecido de vestir a cueca, foi só a continha, quando sentei, o tamborete prendeu assim pros lados, travou meus possuídos, que só não arriei o bagado naquela hora porque não tinha obra pronta. Mas também me alevantei de uma carreia só, praguejei tudo que era santo e santa naquele dia e aqui, agora, estou eu diante de vocês pra contar essa história.

Tou aqui só com um ovo, desde de manhã. Tá rindo de que, desgraça? Tá rindo porque não foi com você, bicho do bucho de lama.

Ah, já sei. Só pode ter sido o coisa ruim do macaco. Vá sonhar com um bicho tinhoso desse, vá....