João Ninguém da Silva, o vendedor ambulante
Olhe o peixe, fresco!!! Peixe fresco!!! Olha, olha passando agora, por aqui na sua rua, nessa sua ruela, peixe, fresco!!! Tou vendendo peixe fresco, fresquinho, fresquinho, pescado ainda agora, agorinha, agorinha na barragem de baixo do rio Mossoró. Peixe graúdo de encher os olhos de quem ver... Pilato, piaba, carapeba, ubarana, peixe de água doce, peixe doce de cativeiro, de viveiro, bem criado. Peixe grande pra quem é chegado a um peixão, peixe piaba escalada pra quem é chegado a um peixinho de espinha. Peixe cabeçudo pra quem é chegada a fazer um cozido de cabeça de peixe e gosta de chupar, a cabeça do peixe cozido, o peixe cabeçudo. Tenho peixe pra vender, peixe de todo tipo, peixe pra te satisfazer, e tome peixe fresco, fresquinho, fresquinho...
Visse, esse menino, quando se fala em peixe fresco, todo mundo quer, né não? Cê também é chegado a um peixe, fresco? Pescado inda agorinha, agorinha lá na barragem de baixo? Tão bem fresquinhos os bichinhos, descamados, tratados com carinho pelas mãos de quem entende. E você com todo esse bigode, ta olhando o quê? Gosta de peixe, fresco? Se zangou? Que quê isso, meu peixe, sei que você só morde meu anzol, adora minha isca, cê não é assim, já sei, é por causa do povo olhando, né? Sei que você é meu e o boi não lambe, mas eu lambo, lambo que é uma beleza, os beiços danado. Pense mal de mim não!!!
Olhe bem, escute só e só me dê razão se razão eu tiver, escute pra depois dizer que não falei direito. Pois bem... Se eu compro um quilo de peixe, seu cozinho né meu? É ou não é? Pense muito não. Né não meu chegado? É sim!!! E você aí olhando, você marrudo roçando no varão da bicicleta, você, homi, de olho no meu peixe. Olhe só os olhos do desgramado, parece mais farol de caminhão. É você mesmo condenado. Quando come o peixe, dá o rabo pra quem? Calma, não precisa engrossar, é claro que estou falando do rabo do peixe. Come? Bota fora ou deixa pro gato do vizinho comer? Fique vermelho não. Se não quiser, não precisa responder, a gente entende. Cada um com seus costumes, suas vontades, seus desejos... Mas olha aí a cabeleira do rapaz, menino, já pensou quantos inquilinos tem aí morando de graça? Já pensou cobrar aluguel? Precisava trabalhar mais nunca na vida... Simbora macho, simbora que daqui a pouco a lua é chegada e o dia finado e o gás da lamparina quem paga?... Tá afim de um peixinho, fresco?
Quem chegou, quem tá por vim,
faz favor de logo se achegar,
tou vendendo o meu produto,
faz favor de por favor vir olhar,
Olhar somente não paga,
só paga quem quiser levar,
se quiser pegar eu deixo,
se quiser usar também,
se quiser fazer só um carinho,
deixo fazer carinho meu bem
Olha, olha a banana. Calma, não precisa de pressa, tem banana pra todo mundo, tem banana pra dar e vender. Eu sabia, eu sabia, é só falar em banana que o alvoroço tá feito. Banana dura, banana mole, banana mais ou menos... É, banana, é chegado? Gosta? Banana grande, grossa, boa macho... Tenho aqui oia, banana prata, banana maçã, casca verde, casca grossa, banana, home. Tá a fim de levar, banana, tá? Quantas? Você tem cara de quem é chegado a uma banana, sério, fale sério, gosta ou não gosta de uma bananinha? Já pensou, pegar uma banana assim, oia, como essa, com gosto, tirar as cascas devagarzinho, ir mordendo devagar, aos pouquinhos, heim, só sentindo o gostinho da bichenta... Gosta ou não gosta? E de amassar a banana? Gosta não, fazer uma bananada, machucar a banana e comer com mel ou com laranja... Uma banana por dia não mata, duas banana já dão uma bananada, agora, banana toda hora só pra quem não é privado e cuidado na congestão...
E macaxeira tem vontade? Gosta? Não gosta? É porque nunca provou da minha, é caseira, plantada na vázia de casa. Quem prova de minha macaxeira nunca esquece, sempre quer repetir. É bem tratada, esse menino, tá pensando o quê? Vendo na unidade e vendo no quilo, você quem diz quanto quer levar de macaxeira. Você aí todo arreganhado em riso, gosta de muita ou pouca macaxeira, cozida ou fritada? Olhe, tenha vergonha não. Quer pegar, quer examinar pra ver se é da boa mesmo? Você, você entende de macaxeira, entende? Se abre todinho só de pensar, né não? Fica arrepiado, fica? Pode dizer, ninguém reprova não. Veja aqui, homi, é só olhar a cabecinha, se for bem branquinha, é porque tá boa, agora, se for roxa, queira não que ofende. O estrago é grande. Dizem que macaxeira roxa é um veneno. Já pensou, cozinhar um peixinho, amassar uma banana e levar também uma boa macaxeirada. Fazer um purê, uma vaca atolada, atolar todinha a carne na macaxeira... Aproveitem, aproveitem que já tá no fim...
Homi me deixe vender que daqui a pouco chega o vendedor de jarro, aí o negócio ferve, fica difícil mesmo...
Sou um homem sem pretensão, quero somente o que é meu de direito, chegue cá, ande , não se acanhe, venha ver de perto, meu peixe. Tenho banana, peixe, goiabada, água de cheiro, relógio, cds piratas, pirateio minha vida e conto aqui, conto pra você sem cobrar nada. Antes de contar minha história, preciso então me apresentar, e para isso só preciso de minutos, conto tudo em ponto de bala.
Esse que aqui vos fala, é o filho do medo da noite, nascido de uma mijada dada em dia de lua, na boca da noite... Sou pimenta malagueta braba, plantada na horta do Sítio Cancão, sou parente de todo mundo sou afilhado do cangaceiro Lampião, sou o João Ninguém da Silva que em seu imaginário mora, sou um feirante nordestino, sou o conhecido contador de história.
Ei, mas antes de contar, me deixe perguntar uma coisa, ouvi dizer que aqui neste lugar tem couro que nem presta, é verdade? Dizem que é couro de bode, couro de boi, couro de todo formato e tamanho, dizem que tem até couro escondido, couro que nem sabe que é couro!!! Você aí com a boca toda arreganhada de tanto ri, tem ou não tem couro aqui neste lugar?
Vou contar, vou contar, eu agora quero ver, o meu canto se espalhar...