Ora Pomba, ora bolas.

Correr pela manhã é meu esporte predileto. Aí, quando é tempo de lua cheia - eu juro que não sei o motivo -, me dá uma vontade incontrolável de só querer ir pros lados da praia. Então, eu vou, oxente!

Corro de casa até a metade do percurso e depois caminho lentamente, para ir apreciando os detalhes.

No domingo, saí cedo, toda pronta, calça de malha e camiseta, biquíni por baixo e fui até Ponta Negra. Chegando lá, tiro a parafernália, dobro e soco tudo dentro dos tênis. Penduro um em cada mão e descalça vou sem pressa, nos meus trajes de banho, tomando um solzinho gostoso até meu destino - o Morro do Careca. Começo na altura do Ponto do Açaí e meia hora depois passo em frente ao Hotel Esmeralda. São sete horas e já há banhistas espalhados por todo canto.

Com uma passadinha de mão, confiro o "derrière" pra ver se está tudo no lugar, como faz a maioria das mulheres (Ou todas, sei lá!) e estranho uma etiqueta pelo lado de fora, rente ao cofrinho. Olho pra trás e vejo que ao vestir o biquíni - preto de laços na lateral - o havia torcido e a parte de trás ficado pelo avesso, ostentando aquele marrom cor de burro, próprio dos forros da peça, bem como as costuras dos elásticos. Comecei a rir e as pessoas passavam me olhando surpresas, sem entender nada. Tentei remediar a situação e disfarçadamente fui desfazendo o laço lateral direito e girando a peça. Voltei a refazê-lo e depois procedi da mesma forma com o esquerdo. Ok. Beleza. Agora, sim, a parte de trás estava normal.

Mal retomei a caminhada e percebi um incômodo volume que roçava entre as pernas.

Já às gargalhadas, compreendi o que ocorrera: Ao invés de desfazer a primeira torção do biquíni, eu havia dado mais um giro e torcido outra vez. Aí, já não conseguia mais parar de rir. E muito menos andar direito.

Ainda tentei caminhar um pouco, mas não dava. O troço era desagradável e se alojava até onde podia. E doía. Parecia um pano de coar café - cheio de pó . Além disso, se tornara pequeno demais para cobrir a buzanfa e todo o resto.

Para me livrar do desconforto, vesti a calça, em seguida desatei os nós do biquíni e o puxei, livrando-me dele e do maldito volume.

Ao voltar, percebo que em meio à confusão, havia perdido a blusa e o dinheiro que levara. Sem celular pra ligar para casa e sem grana para o busão, atravesso a cidade, de Ponta Negra a Neópolis, só de calça e sutiã - e sem calcinhas.

Pelo caminho, gestos masculinos audaciosos, olhares femininos de indignação.

Nada disso, entretanto, pertubou a minha sensação de alívio, a minha satisfação de ser mulher e de felizmente não ter que carregar por toda vida, uma coisa e outras coisas mais entre as pernas.