A CARTA QUE ROMEU NÃO LEU

Romeu procurava por um documento quando se deparou com um envelope de carta ainda não aberto e a ele endereçado. Leu o remetente e paralisou: Julia.

Uma paixão de mais de 20 anos e por quem se sentia rejeitado.

Tremendo, rasgou o envelope e se pôs a ler.

Londrina, 13 de janeiro de 1983

Querido Romeu

Já que nesse ano não nos veremos com a mesma assiduidade, pois vou estudar em outro colégio e nesse período de férias pouco irei à cidade, resolvi lhe contar algumas bobagens que lhe aprontei e abrir o jogo de uma vez por todas.

Aquela história que: “antes de você me passar a mão, meus irmãos vão passar a mão em você”, é mentira minha; assim como é mentira que papai quer conversar com você quando cavalgarem lá no fundo da fazenda, e que mamãe costuma obrigar meus namorados a comer alguns ovos crus para melhor conhecer a coragem deles, entre tantas outras mentirinhas minhas. Bem, agora você sabe tudo. Eu realmente gosto muito de você.

Estou lhe convidando para, nesse domingo, experimentar uma lasanha que eu mesma irei preparar. Receita da vovó. E não vá dizer que não gosta, e não estou brincando...

Ah, e na quinta-feira partiremos para uma excursão ao Nordeste. Mas sobre isso é a mamãe a encarregada de lhe convidar. Papai ouviu falar que você faz algumas mágicas... então se prepare. Ele até comentou que irá lhe contar histórias de assombração que presenciou quando criança, mas nem ligue, é tudo mentira dele.

Se chover, não se preocupe, pode vir que as estradas da fazenda estão boas e seu fusca não encontrará problemas.

Até domingo, Romeu. E venha bem cedo. Vovó está louquinha para conhecê-lo.

Te amo muito!

Julia.

Romeu, que não chegou a concluir a faculdade de Veterinária, arrumou emprego em uma fazenda na região e nunca se casou.

Em outubro de 2007, três meses depois de ler essa carta, resolveu se demitir. Martinha, sua prima, informou que Romeu entregou-se à bebida. Não se conforma e não entende como a missiva não lhe chegou às mãos naquela oportunidade. Virou um farrapo humano e carrega a carta consigo, se bem que poucas palavras ainda são legíveis.

Julia tem formação superior e trabalha em um ministério relacionado a ciências humanas em Brasília.

Ainda está solteira.

P.S - Obrigado Marta Angélica Raubber pela contribuição.